Luxos do Conselho Federal de Farmácia: entenda a polêmica

Os últimos meses foram marcados por uma série de denúncias contra os gastos do Conselho Federal de Farmácia (CFF), instituição que regulamenta e disciplina o exercício da profissão farmacêutica. Afinal, as alegações dos denunciantes são verdadeiras ou falsas? É verdade que os gastos realizados pela autarquia farmacêutica são exorbitantes? Para responder estas e outras perguntas, farei um raio-x da situação que ganhou as redes sociais no primeiro mês de 2019.

Vou primeiramente reproduzir as denúncias feitas com base em informações extraídas do portal da transparência, veiculadas pelo Farmacêutico Raphael Espósito, vice-presidente da Associação dos Farmacêuticos do ICTQ, em um grupo do Facebook com mais de 53 mil profissionais e estudantes de farmácia , respectivamente nos dias 9, 10, 11 e 12 de janeiro: a) R$ 12.589,60 – Esse é o provento total de UM DOS motoristas profissionais do CFF em 07/2018; b) R$ 40.580,40 – Esse é o provento total do assessor jurídico do CFF em 07/2018; c) R$ 13.483,28 – Esse é o provento total do FOTÓGRAFO citado como “assessor de diretoria” do CFF em 07/2018; e d) R$ 141.474,06 – Esses são os proventos totais dos ASSESSORES DA DIRETORIA em 07/2018. Até o fechamento desse artigo (20/02/2018), essas publicações somavam mais de 3.200 interações, entre curtidas e comentários, que na sua quase totalidade foram de indignação com os gastos do Conselho de Farmácia.

Obviamente a divulgação destes números enraiveceu farmacêuticos de todo o país! Como pode a instituição que deveria dar exemplo de responsabilidade fiscal de uma categoria que ganha, em média, 3 salários mínimos/mês, promover estes gastos? Nossos conselhos, regionais e federal, precisam entender que a sociedade mudou. As novas tecnologias sociais potencializaram o exercício da democracia, e agora existe uma relação direta entre representados e representantes. Alguém duvida que as manifestações via redes sociais ajudaram a derrubar a ex-presidente Dilma Rousseff?

O Brasil vive uma nova era, inaugurada pelo operação lava-jato. Aprendemos a cobrar mais que transparência e lisura. Não basta que nossas instituições cumpram a lei, é preciso que elas sejam moralmente éticas. Há poucos dias veio à tona que o presidente Bolsonaro recebeu R$ 33,7 mil de auxílio-mudança da Câmara. Obviamente isso foi feito dentro da legalidade, mas te pergunto: Foi ético? Obviamente não! Mas antes de “julgar” a instituição que regula a farmácia, vamos à resposta que a autarquia deu para as ilações proferidas pelo Dr. Espósito.

A defesa do Conselho Federal veio uma semana após o estopim da crise, quando no dia 17/01/2019 a autarquia fez uma sequência de 4 publicações na sua conta oficial do Instagram. As publicações traziam: a) uma postagem informando que os motoristas do CFF ganham R$6.500,00 e que os valores que constavam no portal da transparência, tanto do motorista quanto do fotógrafo, faziam referência, em parte, ao adicional de férias. Essa postagem também atribuiu o alto salário do motorista às conquistas obtidas pelo profissional nos 20 anos de serviços prestados; b) outra postagem informando que “CARGOS COMISSIONADOS SOMAM APENAS 10%” (acredito que este percentual se refira à folha de pagamento. Não ficou claro); c) e por fim uma publicação informando que a legislação proíbe a redução de salários, e assumindo que com mais tempo de casa, servidores “acumulam vantagens e benefícios, ao ponto de alguns, em cargos de chefia, conquistarem salários superiores ao teto remuneratório, de R$ 39 mil, previsto na Constituição”.

Essas declarações receberam, com razão, uma enxurrada de comentários de farmacêuticos REVOLTADOS com as explicações dadas pelo Conselho Federal de Farmácia. O internauta @fernandomfarma postou:“Vejo que o mais importante disso tudo não foi descobrir que o motorista do CFF está ganhando mais que a grande maioria dos farmacêuticos, e sim que toda classe acordou. Ela não engole mais goela abaixo os absurdos, as desculpas, os desrespeitos, as farras, a má gestão... e por aí vai. CFF e Conselhos Regionais, acordamos! Nas próximas eleições...”

Tomara que todos os conselheiros leiam os comentários feitos pelos internautas farmacêuticos e utilizem estes feedbacks como trampolim para uma mudança profunda na forma de atuação da instituição. Vejamos o que disse @nanacatapreta, indignada pelo fato do CFF ter desmentido o salário de R$ 12.589,60 do motorista, com uma justificativa de que o mesmo ganhava apenas R$ 6.500,00: “Que ridículo e absurdo! Enquanto isso os farmacêuticos trabalham de segunda a segunda, numa escala miserável, para ganhar 3 mil líquido! É uma vergonha ser farmacêutico nesse país. Tantos anos de estudo para nada...”

Na postagem em que o CFF afirma que o motorista tem 20 anos de carreira, a jovem @sabrinasantossss respondeu indignada: “Ele podia ter 50 anos de trabalho. Nunca será justo qualquer profissional sem curso superior ganhar mais que os farmacêuticos que tem graduação e pós para ganhar R$ 3 mil. E olhe lá! É um absurdo. Será que ele trabalha sábado? Domingo? Duvido. Não dá para levar o conselho a sério com essas atitudes! ”. Pasmem, ela recebeu como resposta do @conselhofederaldefarmacia: “O que fazer? Ele tem estabilidade garantida por decisão do STF e TCU. Se for demitido, além da indenização é bem provável que terá que ser reintegrado. Já aconteceu em um conselho regional”.

Essa resposta prova uma coisa: a “ficha ainda não caiu” para aqueles que nos representam! A demanda da classe farmacêutica não é a demissão ou diminuição de salário do motorista do conselho. É o aumento do salário e valorização da classe farmacêutica. As respostas que os farmacêuticos gostariam de ouvir eram: a) vamos lutar para que os farmacêuticos brasileiros ganhem mais de R$ 6.500,00; b) assim como o Conselho Federal de Medicina, estamos trabalhando para o congelamento de abertura de novas faculdades de farmácia, que cada vez mais aumentam a oferta de profissionais no mercado, contribuindo para a diminuição do salário; c) faremos parte das reuniões plenárias no formato online, para reduzir despesas com diárias e deslocamentos. Enfim, tudo, menos o blá blá blá de que funcionários concursados possuem estabilidade. Isso já sabemos!

Termino com uma análise fria, direta e isenta de toda essa polêmica: 1) as denúncias são verdadeiras e possuem lastro no portal da transparência; 2) a resposta dada pela autarquia foi em tom inadequado e potencializou o ocorrido. Acreditem em mim, sou especialista em gestão de mídias sociais e tenho vasta experiência em gerenciamento de crises, chegou a hora da classe farmacêutica separar o joio do trigo. O que é legal e imoral do que é ético e legal. Você conhece, por exemplo o salário (diárias, jetons e verbas de representação) do conselheiro federal do seu estado? Confira o ranking:

  1. Walter da Silva Jorge João (PA) R$ 708.101,94
  2. João Samuel de Morais Meira (PB) R$ 588.937,24
  3. Lenira da Silva Costa (RN) R$ 509.897,80
  4. Amilson Alvares (TO) R$ 443.642,21
  5. Valmir de Santi (PR) R$ 435.397,47
  6. Carlos André Oeiras Sena (AP) R$ 415.579,44
  7. Marco Aurélio Ferreira da Silva (AM) R$ 385.590,50
  8. Erlandson Uchôa Lacerda (RR) R$ 372.011,45
  9. Bráulio César de Sousa (PE) R$ 348.964,15
  10. Vanilda Oliveira Aguiar (SE) R$ 331.576,29
  11. Sueza Abadia de Souza Oliveira (GO) R$ 310.646,08   
  12. José Gildo da Silva (AL) R$ 301.633,02
  13. Lérida Maria dos Santos Vieira (RO) R$ 278.083,72
  14. Luis Cláudio Mapurunga da Frota (CE) R$ 277.913,11
  15. Alex Sandro Rodrigues Baiense (RJ) R$ 267.749,38
  16. Gerson Antônio Piannetti R$ 238,773,47
  17. Elena Lúcia Sales Souza (PI) R$ 256.273,83
  18. Josué Schostack (RS) R$ 198.464,36
  19. Gedayas Medeiros Pedro (ES) R$ 189.100,07
  20. Fernando Luís Bacelar C. Lobato (MA) R$ 181.368,34
  21. Margarete Akemi Kishi (SP) R$ 176.040,02
  22. Altamiro José dos Santos (BA) R$ 172.312,61
  23. José Ricardo Arnaut Amadio (MT) R$ 169.210,43
  24. Rosana Santos Freitas Spiguel (AC) R$ 158.410,75
  25. Ângela Cristina R. C. C. Lopes (MS) R$ 157.760,46
  26. Paulo Roberto Boff (SC) R$ 135.520,79
  27. Marcelo Polacow Bisson (SP) R$ 129.365,57
  28. Marttha de Aguiar Franco Ramos (TO) R$ 108.520,74
  29. Forland Oliveira Silva (DF) R$ 98.323,44
  30. Romeu Cordeiro Barbosa Neto (AC) R$ 88.758,70
  31. Márcia Regina C. G. Saldanha (MS) R$ 76.729,30
  32. Luís Marcelo Vieira Rosa (MA) R$ 68.709,65
  33. Ernestina Rocha de Souza e Silva (GO) R$ 61.048,10
  34. Luíz Gustavo de Freitas Pires (PR) R$ 35.286,31
  35. Osvaldo Bonfim de Carvalho (PI) R$ 21.383,30

Todas as informações foram retiradas do portal da transparência do CFF, em um levantamento realizado pela Associação dos Farmacêuticos do ICTQ, sobre os valores recebidos em diárias, jetons e verbas de representação pelos conselheiros federais de farmácia em Brasília, no período compreendido entre outubro de 2016 e setembro de 2018. Baixe o levantamento completo aqui.

* Leonardo Doro Pires - Professor do ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico), Bacharel em Farmácia, Administração de Empresas e Ciências Contábeis. Especialista em Marketing Digital (FMU), Tecnologia Farmacêutica (UFRJ) e Mestre em Inovação (PUC). Atua como consultor em gestão de varejo farmacêutico e é autor dos livros “Gestão Estratégica para Farmacêuticos” e “A Arte da Guerra para Farmacêuticos”.

PS. Os comentários de internautas foram transcritos neste artigo mediante aplicação de correção ortográfica.

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