Na busca desenfreada por músculos mais definidos e corpos hipertrofiados, uma tendência tem acendido o alerta dos profissionais de saúde, especialmente de farmacêuticos: o uso indevido de insulina com fins estéticos. Embora a substância seja essencial para a vida de milhões de pessoas com diabetes, ela vem sendo utilizada por fisiculturistas e praticantes de musculação como se fosse apenas mais um suplemento para ganho de massa — e isso pode custar caro.
Entre dietas hiperproteicas, treinos intensos e anabolizantes clandestinos, a insulina tem ganhado espaço em fóruns e academias como sendo o anabolizante natural mais potente que existe, obviamente de forma infundada. No entanto, especialistas alertam: ela pode ser ainda mais perigosa do que a testosterona quando manipulada sem controle de um profissional de saúde.
Segundo o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e farmacêutico clínico e esportivo, Rodrigo Costa, a insulina está longe de ser inofensiva. “O uso para fins estéticos pode causar um quadro grave de hipoglicemia, que leva a sintomas como tontura, tremores, suor frio, náusea e, nos casos mais graves, até coma ou morte”, afirma. “Além disso, o uso prolongado pode afetar órgãos como pâncreas e rins, além de comprometer a produção natural de insulina pelo organismo”.
No mundo da estética, a insulina passou a ser conhecida como uma substância capaz de aumentar a captação de glicose pelas células musculares, promovendo a síntese de proteínas e o crescimento celular. Isso se traduz, para os usuários, em ganho de massa corporal e aceleração de resultados — o que seria o sonho de qualquer fisiculturista.
Mas o sonho pode se tornar um pesadelo. “O impacto metabólico do uso indevido da insulina é altíssimo. Além do risco de hipoglicemia, o usuário pode desenvolver resistência insulínica, ganho de gordura excessiva, distúrbios metabólicos e dependência psicológica para alcançar resultados”, destaca Costa.
Nas redes sociais, multiplicam-se vídeos e fóruns com supostos protocolos de uso da insulina voltados à performance esportiva e hipertrofia. Muitos são produzidos por influenciadores sem qualquer formação em saúde. Essa banalização preocupa a classe farmacêutica.
“Com o crescimento das redes sociais e da inteligência artificial, muitos praticantes acham que podem pesquisar um medicamento e começar a usá-lo por conta própria”, alerta Costa. “Isso é extremamente perigoso. Nosso papel, como farmacêuticos, é trabalhar com educação em saúde e mostrar os riscos reais”.
Dados que preocupam
De acordo com um levantamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o uso indevido de substâncias hormonais com fins estéticos cresceu 75% nos últimos dez anos no Brasil. Embora o dado englobe diversos hormônios, a insulina está entre os mais mencionados em relatos de uso por atletas e fisiculturistas.
É importante destacar que o uso de medicamentos fora das indicações aprovadas (uso off-label) é uma prática que deve ser abordada com cautela. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece que qualquer uso de medicamentos fora das indicações aprovadas em bula deve ser respaldado por evidências científicas e prescrito por profissional habilitado, considerando os riscos e benefícios para o paciente.
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Além disso, o uso de substâncias como a insulina para fins estéticos ou de performance esportiva, sem indicação médica, pode representar riscos significativos à saúde e é desencorajado por profissionais da área da saúde.
Diante disso, é fundamental que os farmacêuticos estejam atentos a essas práticas e orientem a população sobre os riscos associados ao uso inadequado de medicamentos.
Como identificar os sinais de alerta?
Segundo Rodrigo Costa, é fundamental que os próprios profissionais de saúde e familiares estejam atentos aos sinais de uso indevido. “Tremores, palidez, suor frio, náusea, alterações de humor, batimentos cardíacos irregulares, dormência nos lábios e cefaleia são sintomas que podem indicar um episódio de hipoglicemia grave”, explica.
Nesses casos, o atendimento de emergência é indispensável. “O ideal é encaminhar o paciente imediatamente ao pronto-socorro. Quanto mais rápido for o atendimento, maiores as chances de evitar complicações sérias”, ressalta ele.
Papel do farmacêutico
Diante desse cenário, o farmacêutico assume um papel estratégico. “Nós, farmacêuticos, temos que nos fazer mais atuantes, tanto presencialmente quanto no meio digital. Somos profissionais de saúde que entendem profundamente sobre medicamentos. É nossa função orientar, esclarecer e, acima de tudo, proteger a saúde da população”, defende Costa. Ele complementa com um apelo direto: “Escolha um farmacêutico para chamar de seu!”
Importante destacar que a atuação do farmacêutico vai desde a educação em saúde até o apoio na triagem de efeitos adversos e orientação sobre o uso seguro de medicamentos. Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), é função do farmacêutico alertar sobre o uso inadequado de substâncias que podem colocar a vida do paciente em risco, inclusive em contextos fora do ambiente hospitalar.
Insulina é remédio, não suplemento
Vale lembrar: a insulina é um hormônio produzido naturalmente pelo pâncreas e essencial para o metabolismo da glicose. Sua administração exógena é indicada apenas em casos específicos, geralmente relacionados ao diabetes tipo 1 ou tipo 2, sob prescrição.
Utilizá-la como se fosse um suplemento para ganho muscular, sem acompanhamento profissional, é não apenas um erro técnico, mas uma ameaça à saúde pública. Como reforça Rodrigo Costa, “não existe atalho seguro para resultados estéticos. É preciso disciplina, orientação de profissionais e responsabilidade com o próprio corpo”.
Como se qualificar
O ICTQ oferece cursos que irão capacitar os interessados nesse tema e em outras abordagens da farmácia clínica: Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica, Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva, Farmácia Clínica em Cardiologia, Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica, Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia entre outros.
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