Em junho, a morte de um homem após realização de peeling de fenol em São Paulo evidenciou a necessidade de formação em estética em instituições credenciadas para a execução da atividade. Muito se discutiu também sobre o farmacêutico poder ou não atuar com essa prática. A proibição, ao que tudo indica, é descabida, visto que os profissionais de Farmácia são os únicos que possuem o conhecimento para realizar a manufatura de peelings químicos. Os conhecimentos adquiridos durante anos de graduação e pós-graduação os qualificam para manipular fórmulas, ajustar concentrações, avaliar associações de ativos, prever efeitos biológicos e lidar com possíveis intercorrências.
Recentemente, no final de julho, a Sociedade Brasileira Científica de Farmácia Estética (SOBRACIFE) encaminhou uma carta ao diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, reiterando que o Conselho Federal de Farmácia (CFF) e os farmacêuticos registrados não podem ser responsabilizados por ações de indivíduos que operam fora da jurisdição e regulamentação do Conselho, como têm sido divulgadas, criando um verdadeiro terrorismo midiático. Cada profissional é responsável por suas próprias ações e práticas, e isso deve se estender apenas aos que são devidamente capacitados e registrados. As normas e diretrizes estabelecidas pelo CFF aplicam-se exclusivamente aos profissionais registrados, e não a indivíduos externos sem formação e registros adequados.
Segundo o diretor de Comunicação da SOBRACIFE e coordenador da Pós-Graduação em Farmácia Estética do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Dr. Pedro Sousa, a mobilização que aconteceu em torno do fenol acabou distorcendo alguns conceitos em relação aos peelings, tornando um componente tão importante como o fenol em vilão. Os conceitos que deveriam estar sendo discutidos têm a ver com os tipos de peelings e sua complexidade, sendo que os profundos, que nem sempre relacionam ao tipo de ácido, devem ser realmente realizados em ambientes controlados.
“O mais estranho de tudo isso é que existe uma exigência de proibir a utilização de produtos para peelings por farmacêuticos, sendo que quase sempre é este o profissional que padroniza as fórmulas, prevê efeitos biológicos, entende de intercorrências, estuda profundamente os tipos de associações que podem ser feitas e realiza os treinamentos de todos os outros profissionais, inclusive médicos na sua forma de utilização. Se os farmacêuticos são os grandes detentores do conhecimento de peelings químicos, qual o sentido de proibi-los? Para a SOBRACIFE isso não faz sentido algum e apoiamos a utilização responsável desses componentes, inclusive o fenol, para que a população ganhe também em segurança”, fala Sousa.
O especialista atesta que é inegável que os farmacêuticos são os profissionais mais preparados para lidar com esse componente, mais uma vez, de forma responsável e dentro das concentrações que o classifiquem como peeling superficial ou médio. Lembrando que a utilização de fenol em concentrações mais altas o classificam como profundo e só deve ser realizado em ambientes controlados.
“Desde a graduação, os farmacêuticos são os únicos profissionais que aprendem e são treinados a compreenderem as estruturas químicas, concentrações, formulações, biocompatibilidade e efeitos biológicos de acordo com fisiologia e patologia. Agrega-se ainda mais conhecimento a esses profissionais quando ingressam nas pós-graduações de estética em que vão aprimorar ainda mais a parte clínica de utilização dos produtos estéticos como os peelings. Por isso, se você for pensar bem, seria extremamente importante que outros profissionais se aconselhassem com os farmacêuticos para utilizar esses produtos, porque somos os detentores da maior parte do conhecimento em relação a eles. Se você procurar em qualquer lugar, os grandes profissionais que têm as maiores qualificações em peelings químicos são farmacêuticos”, afirma o coordenador.
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Ele ressalta que atualmente existe um debate em relação às resoluções e diretrizes, mas de acordo com a Resolução 645/17, do CFF e que está vigente, existe a possibilidade de realização de peelings químicos pelos farmacêuticos.
A atuação dos farmacêuticos com fenol traria, segundo Sousa, maior segurança aos procedimentos, em função de serem os únicos profissionais que possuem todas as informações e expertises necessárias para ajustar fórmulas, montar protocolos, analisar resultados e acompanhar os pacientes da maneira mais adequada.
O professor do ICTQ questiona se é possível imaginar, novamente, um Brasil onde somente médicos possam realizar procedimentos estéticos, uma vez que o País é a segunda maior potência em estética mundial. Para ele, seria a perda completa da democratização dos procedimentos estéticos. Além disso, o mercado do segmento cresce a cada dia e movimenta bilhões por ano. A atuação do farmacêutico se reflete em um impacto fortíssimo em diversos setores como manipulação, comércio e serviços.
“Organizamos a SOBRACIFE para defender os interesses dos profissionais e da população em geral. Não podemos admitir que notícias falsas e super tendenciosas comprometam a reputação ilibada dos nossos profissionais, levando a sociedade a acreditar que somente os médicos são detentores do conhecimento. Essa narrativa equivocada e maliciosa das entidades médicas tem que ser combatida para avançarmos sempre no atendimento adequado dos pacientes. Nosso intuito é defender nossa classe, fomentar o crescimento da profissão de forma responsável e auxiliar na qualificação continuada para que possamos atender a população cada vez melhor”, finaliza Souza.
Leia a carta da SOBRAFICE à Anvisa AQUI.
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