Um medicamento usado para tratar a insônia é apontado como uma opção promissora contra o Alzheimer. Em um estudo pré-clínico, pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, descobriram que o lemborexant é capaz proteger o cérebro de camundongos contra o acúmulo da proteína tau — relacionado à doença neurodegenerativa.
Sabendo da conexão entre o Alzheimer e o sono de má qualidade, os pesquisadores resolveram investigar um medicamento depressor do sistema nervoso central. Os resultados foram publicados no fim de maio,na revista científica Nature Neuroscience.
O que é o Alzheimer?
- O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
- Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
- É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
- O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.
O lemborexant foi aprovado em 2019 como um tratamento eficaz para a insônia, pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de remédios nos EUA. No Brasil, ele segue em análise pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2022.
O fármaco já foi considerado o melhor remédio para problemas do sono. Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostrou que ele tem o melhor perfil de eficácia, aceitabilidade e tolerabilidade após uma ampla revisão de estudos sobre 36 medicamentos realizados ao longo de 40 anos.
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Remédio para insônia usado contra Alzheimer
O acúmulo de proteínas beta-amiloide e a tau é apontado como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do Alzheimer. Os medicamentos destinados ao tratamento da doença em estágio inicial atuam especificamente contra a beta-amiloide.
O neurologista David Holtzman, um dos autores do novo estudo, aponta que os remédios disponíveis ajudam, mas não conseguem retardar tanto a doença quanto a ciência gostaria. Por isso, a equipe de pesquisa focou na outra proteína.
Em testes com camundongos, os cientistas da Universidade de Washington perceberam que o lemborexant melhorou a qualidade do sono e reduziu os níveis anormais da proteína tau no cérebro dos animais.
“Precisamos de maneiras de reduzir o acúmulo anormal da proteína tau e a inflamação que o acompanha, e vale a pena analisar mais a fundo esse tipo de auxílio para dormir”, disse Holtzman em comunicado à imprensa.
Em comparação com camundongos que receberam zolpidem — outro remédio para dormir — ou nenhum medicamento, os que tomaram lemborexant reativaram até 40% mais volume no hipocampo, região essencial para a memória.
“Mostramos que o lemborexant melhora o sono e reduz a tau anormal, que parece ser o principal fator responsável pelos danos neurológicos observados no Alzheimer e em vários distúrbios relacionados”, destaca Holtzman.
Apesar do lemborexant e do zolpidem serem medicamentos para dormir, o mecanismo de indução ao sono é diferente e isso pode ser a chave dos efeitos protetores ao cérebro. Os cientistas explicam que o lemborexant bloqueando a orexina, um neuropeptídeo que regula o sono e o estado de vigília.
Ao desativar geneticamente o receptor de orexina 2, os pesquisadores observaram a redução no acúmulo de tau, indicando um possível envolvimento da orexina no avanço da neurodegeneração.
Limitações do estudo
Mesmo com o avanço, algumas questões precisam ser melhor investigadas futuramente, visto que os efeitos protetores cerebrais foram vistos apenas em camundongos machos. Além disso, o lemborexant tem aprovação apenas para uso a curto prazo. Os efeitos do uso contínuo ainda são desconhecidos pela comunidade científica.
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