A inteligência artificial (IA) vem transformando rapidamente o setor regulatório farmacêutico, impulsionando mudanças profundas nas rotinas de trabalho, nas ferramentas utilizadas e nas habilidades esperadas dos profissionais da área.
“A transformação digital não é mais uma promessa futura — ela já está moldando o presente da regulação”, afirmou a professora do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e diretora Regulatória - TD Regulatory Solutions, Tamara Dias. Para ela, o desafio agora é compreender como as novas tecnologias podem ser integradas aos processos diários sem perder o rigor técnico e o compromisso com a segurança dos pacientes.
Historicamente, os processos regulatórios sempre dependeram de documentação física, análises manuais e prazos longos. Essa realidade, no entanto, está sendo redesenhada pela digitalização e pela chegada de algoritmos capazes de realizar tarefas com maior precisão e agilidade. Atualmente, as agências reguladoras já utilizam sistemas interconectados, com troca de dados em tempo real, submissões eletrônicas e armazenamento em nuvem.
“A substituição de processos manuais por fluxos digitais permite mais transparência, redução no tempo de aprovação e economia de recursos”, destacou Tamara. A diretora observa que esse movimento é apenas o começo de uma mudança ainda mais profunda: “Estamos saindo do Excel e do post-it para o BI e a automação, em que os dados ganham vida e se tornam ferramentas estratégicas”.
IA no centro da regulação
A aplicação de IA vai muito além da automação de tarefas. Ela está diretamente relacionada à capacidade de analisar grandes volumes de dados, identificar padrões e prever resultados — tudo isso com rapidez e assertividade. Entre os principais usos destacados por Tamara estão:
- A análise automatizada de dossiês regulatórios;
- A geração contextualizada de documentos e e-mails técnicos;
- A criação de modelos preditivos para ensaios clínicos;
- O monitoramento em tempo real de processos produtivos;
- E a identificação preventiva de possíveis exigências regulatórias.
Essas aplicações permitem que os profissionais deixem de ser executores de tarefas repetitivas para se tornarem estrategistas. “A IA libera tempo para que possamos pensar mais e executar menos. O profissional regulatório do futuro — e já do presente — é aquele que sabe dialogar com dados e agregar valor nas decisões críticas”.
Desafios: qualidade de dados e privacidade
Apesar dos avanços, Tamara alerta para dois obstáculos relevantes na adoção ampla da IA: a qualidade dos dados utilizados e a proteção das informações sensíveis. “Algoritmos só são tão bons quanto os dados que recebem. Se os dados estiverem mal-estruturados ou incompletos, as análises serão falhas”, disse.
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Além disso, o setor regulatório lida com informações altamente confidenciais, o que exige soluções robustas de segurança. Nesse contexto, cresce o debate sobre o uso de modelos de linguagem treinados localmente (on-premise), que garantem maior controle, porém exigem investimentos altos em infraestrutura. Segundo a especialista, “nem todas as aplicações precisam do mais alto nível de privacidade, mas é fundamental saber onde ele é indispensável”.
Com o aumento de opções de modelos de linguagem (LLMs), como ChatGPT, Gemini, Claude e Deepseek, uma dúvida comum entre profissionais e gestores é qual ferramenta utilizar. Tamara apresentou uma análise comparativa baseada em funcionalidades regulatórias:
- ChatGPT (Open AI) é um modelo equilibrado para diversos domínios de conhecimento, ideal para brainstorming e redação contextualizada. É ideal para redação de documentos técnicos e resumos de literatura científica;
- Gemini (Google) destaca-se em aplicações multimodais combinando texto, imagens e áudio, com integração nativa com outros produtos Google;
- Deepseek (High-Flyer) é forte em raciocínio estruturado e resolução de problemas matemáticos, com código aberto para análises de transparência;
- Claude (Anthropic), por sua vez, oferece precisão superior em análise de dados empresariais complexos, com foco em privacidade.
“A escolha do modelo deve considerar a tarefa, o nível de sensibilidade dos dados e, claro, o orçamento disponível”, explicou Tamara.
O fator humano: mudança cultural
O fato é que a IA não substitui o profissional regulatório, mas exige que ele evolua. Para isso, é necessário desenvolver novas habilidades e adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo.
Tamara ressalta o modelo ADKAR, da consultoria Prosci, como um guia para a adaptação cultural nas empresas:
- Awareness & Desire: reconhecer a necessidade da transformação digital;
- Knowledge & Ability: adquirir competências técnicas;
- Reinforcement: sustentar a mudança com incentivos e formação contínua.
“Resolver problemas é uma habilidade humana — e continuará sendo”, reforçou ela. “O cérebro por trás da IA é o nosso. O que muda é a maneira como interagimos com os dados e as ferramentas”.
A integração da IA ao setor regulatório não é mais uma possibilidade distante — é uma realidade em expansão. Com ganhos evidentes em eficiência, precisão e estratégia, o desafio agora está em garantir uma implementação ética, segura e alinhada às exigências do setor farmacêutico.
“Estamos diante de um momento histórico em que a regulação não apenas acompanha a inovação, mas a incorpora como parte do seu DNA”, concluiu Tamara Dias.
Capacitação farmacêutica
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