Farmacêutica revoluciona a embalagem de medicamentos com nanotecnologia

Apesar de ainda engatinharmos na manipulação da matéria em escala atômica e molecular, engana-se quem acredita que a nanotecnologia é exclusiva para áreas distantes do nosso dia a dia. Hoje, ela já está presente em secadores de cabelo, no para-choque do carro, no creme dental e na embalagem de remédios, por exemplo.

Izabel Fittipaldi formou-se em Farmácia na USP, atualmente ela é sócia do irmão Hamílton Viana, um químico pós-doutor em engenharia de materiais, na Protect Mais, empresa localizada em São Paulo. Os dois desenvolveram, com a ajuda da nanotecnologia, o papel blíster, que é um papel impermeabilizado com nanotecnologia que permite substituir o alumínio utilizado no blíster das embalagens de medicamentos. O material é uma espécie de tinta que quando aplicada a uma folha de papel, assume a função impermeabilizante.

A inquietude da farmacêutica Izabel surgiu quando ela trabalhava para uma fabricante multinacional de embalagens para medicamentos. A indústria toda usava – e ainda usa – cartelas de medicamentos caras e não recicláveis. “Por que isso?”, perguntava Izabel aos colegas do setor. “Porque não há alternativa”, diziam eles.

A fim de solucionar o dilema, Izabel criou, primeiro, um substituto para a folha de alumínio que cobre o fundo da embalagem. Em seguida criou uma solução, chamada de papel blíster, que bate o alumínio em quase tudo: é 57% mais barato, 30% mais leve e tem um índice de proteção contra a umidade próximo ao do metal. Depois de resolvida a parte de baixo da embalagem, a farmacêutica descobriu que a mesma tecnologia poderia ser adicionada no plástico que protege a parte superior do comprimido.

O resultado foi um produto 30% mais barato e com grandes vantagens. Tanta inovação despertou a atenção de grandes empresas do setor farmacêutico de embalagens.  Agora a missão de Izabel é disseminar a tecnologia para a indústria farmacêutica. “Esse papel bílster é um aditivo que nós fazemos e vendemos para a indústria de embalagens. Essa tecnologia que desenvolvemos serve tanto para o seguimento farmacêutico como para o de alimentos.  Já existem propostas de algumas indústrias farmacêuticas, e uma delas já testa o produto. A vantagem está na redução de custos e na solução do produto que é 100% reciclável”, diz Izabel.

O início

Tudo começou em 2016, quando Izabel participou do Concurso Acelera Startup, o maior na área de investimento-anjo da América Latina. Participaram do programa mais de 10 mil empresas. Na época, a farmacêutica tinha acabado de patentear o produto, considerado inovador, desenvolvido com nanotecnologia e que trazia três melhorias fundamentais às embalagens usadas em medicamentos: era sustentável, usava apenas insumos nacionais e reduzia os custos quase pela metade. “No início a ideia era usar uma copolimerização do PVC com o papel para substituir o alumínio presente nas embalagens atuais”, conta Izabel 

Mas, ainda assim, Izabel não conseguia introduzir a ideia no mercado nacional nem angariar parcerias para o projeto. A farmacêutica conta que o descrédito no trabalho ocorria porque, infelizmente, ela fazia pesquisa “em um país de terceiro mundo”. “Era puro preconceito, o me levou acreditar que o produto era bom demais para ter sido desenvolvido aqui”, comenta.

Embora a tecnologia já estivesse patenteada, faltava conseguir a certificação pelo Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA), do Instituto de Tecnologia de Alimentos, uma instituição pública ligada à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo. “Fomos aprovados em todas as instâncias”, conta Izabel.

Vantagens

A vantagem do PVC aditivado é, finalmente, dar às empresas a opção de deixarem de usar o PVDC, um polímero não reciclável. No Brasil, o consumo do produto chega a mais de um milhão de toneladas por ano, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (ABIEF). “O PVDC é importado, tem um alto custo e não é reciclável. O nosso produto pode chegar a 50% do preço do PVDC, sendo totalmente reciclável, todo o insumo é de alta qualidade e nacional, o que evita possíveis prejuízos por problemas de importação. Além disso, são aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA)”, compara o engenheiro químico, Hamílton Viana.

Izabel aponta as vantagens nessa substituição. “O alumínio é uma matéria-prima de fonte não renovável e que gasta muita energia para ser produzido”. Quando colado ao filme de PVC, como se faz hoje, a sua recuperação é muito difícil. “Exige um processo de reciclagem caro e pouco efetivo”. O desenvolvimento com nanotecnologia permitiu obter uma embalagem totalmente reciclável. “É possível recuperar o papel, o PVC e até a água utilizada no processo de fabricação”.

A segunda etapa do projeto surgiu para substituir o filme de PVC enriquecido com o coating PVDC, hoje colado ao alumínio nos blisters. “O PVDC é importado e caro e seu uso não permite que o filme seja reciclado”, informa Izabel.

O estudo já desenvolveu um filme enriquecido com nanopartículas que, além de contar com insumos nacionais, é mais barato e reciclável. De quebra, apresenta melhores índices de proteção contra a umidade do que a solução atual. “A embalagem que desenvolvemos apresenta maior proteção à passagem de água, o que é uma grande propriedade”. A barreira proporcionada pelo filme com PVDC é de 1,9 gr/m2/24 horas, enquanto a nacional atinge 1,63 gr/m2/24 horas.

Responsabilidade compartilhada

Você já tentou tirar a parte laminada do blister? Repare que o alumínio é muito difícil de ser removido totalmente, pois ele é prensado para impedir a entrada de ar. Então, a reciclagem do blister é complexa e realizada por empresas especializadas, pois precisa de um processo químico para que haja separação entre alumínio e plástico. Por isso, muitas vezes esse tipo de embalagem é destinado para aterros e não é reciclado nem reaproveitado.

Todo material que esteve em contato com o medicamento deve ser descartado em pontos de coleta específicos (em farmácias), de onde serão encaminhados para a incineração, um processo de tratamento térmico a uma temperatura que varia de 800 a 1200ºC. As cinzas geradas são encaminhadas a aterros especiais. Apenas no Rio Grande do Sul, por uma questão de legislação estadual, esse lixo vai direto para aterros industriais classe 1 (destinado a resíduos perigosos: inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos e/ou patogênicos).

A ONU Meio Ambiente e a Coalizão Embalagens, formada por 23 associações empresariais signatárias do Acordo Setorial de Embalagens em Geral, lançaram em 2017 o movimento “Separe. Não pare”. A coalizão tem como missão reduzir em 22% a quantidade de embalagens encaminhadas para aterros sanitários no Brasil até 2018, meta que, segundo o presidente do Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), entidade que coordena a coalizão, Victor Bicca, ainda está longe de ser alcançada. Bicca explica que, para atingir esse resultado, a responsabilidade compartilhada, tão disseminada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos com a participação de empresas, prefeituras e da população, deve ser, de fato, praticada.

“Às vezes acontece de a indústria farmacêutica não utilizar todos os blisters encomendados para determinado remédio. Como as cartelas já foram marcadas com a data de vencimento, é preciso descartar esse material, ainda que não tenha sido utilizado. Nesses casos, ele pode servir de combustível para fornos de cimenteiras ou ser reciclado através de um processo químico que separa o PVC do alumínio, reaproveitando 100% do material. Mas esse, ainda não é o jeito mais consciente de se reciclar os blisters”.

Bicca conta que novas tecnologias estão em desenvolvimento para substituição dos materiais das embalagens visando uma reciclagem mais fácil ou a eliminação do cloro da composição, assim eles podem ser incinerados sem problemas. “Existem também projetos para transformar plásticos não recicláveis em energia. Tais tecnologias podem demorar um pouco para serem introduzidas em larga escala e de forma viável, portanto, o que podemos fazer agora é consumir conscientemente”.

O que é nanotecnologia?

A nanotecnologia é a manipulação da matéria numa escala atômica e molecular. Geralmente a nanotecnologia trabalha em uma escala de 1 a 100 nanômetros (milionésimo do milímetro ou um bilionésimo do metro).       O princípio básico da nanotecnologia é a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos. O objetivo principal não é chegar a um controle preciso e individual dos átomos, mas elaborar estruturas estáveis com eles.

​Com a nanotecnologia podemos desenvolver:

  • Materiais com menor custo
  • Materiais mais resistentes
  • Materiais com menor densidade
  • Novas aplicações
  • Impacto multisetorial

​Por estes motivos a NASDAQ, bolsa de tecnologia Norte-Americana, credita a este mercado o valor de R$ 4 Trilhões. Essa é uma ciência criada para mudar o mundo, onde estão sendo desenvolvidas várias pesquisas, porém, há necessidade de tirá-las do laboratório e produzi-las em larga escala. A viabilidade econômica dos insumos e equipamentos não estão de acordo com o mercado, porém, à medida que se consegue lançar esses produtos em larga escala, as inovações são de ruptura, pois, são criados produtos inovadores e isso melhora significativamente o processo.

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