No Brasil, ao menos 239 mil homens poderão ter câncer em 2025, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o triênio 2023-2025. Entre os tumores, exceto o de pele não melanoma, estima-se que o mais incidente seja o de câncer de próstata (30%). A doença é predominante em todas as regiões, totalizando 72 mil casos novos a cada ano. Entre as causas, os dados apontados pela Estimativa 2023 mostram uma alteração de comportamentos da população associados à urbanização, entre eles: sedentarismo, sobrepeso e obesidade, consumo de álcool e tabaco, consumo de carne processada e baixo consumo de frutas, legumes e verduras. Neste cenário, bem como para a saúde em geral, ganha destaque o papel do farmacêutico como um importante agente para o tratamento e acompanhamento de pacientes.
Por ocasião do Novembro Azul, o farmacêutico, mestre em Farmacologia, especialista em Oncologia e Abordagem Multidisciplinar e professor do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Leonardo Daniel Mendes, fala que, especificamente no câncer de próstata, o papel do farmacêutico evoluiu de um simples dispensador de medicamentos para um profissional essencial na gestão terapêutica, personalização do tratamento, controle de efeitos colaterais e melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Com o constante avanço da medicina, o farmacêutico continua a se adaptar, tornando-se um pilar fundamental no tratamento multidisciplinar da doença.
Segundo o professor, a evolução do papel do farmacêutico no tratamento do câncer de próstata tem sido significativa, particularmente nas últimas décadas, à medida que os avanços na farmacologia no tratamento personalizado e na terapia medicamentosa têm se intensificado. Historicamente, o farmacêutico exercia um papel mais limitado, focado principalmente na dispensação de medicamentos, como os agentes quimioterápicos e hormônios, para tratar o câncer de próstata. Com a introdução de novos fármacos, o profissional passou a ser essencial no gerenciamento de efeitos colaterais associados ao tratamento, como problemas cardiovasculares, osteoporose e disfunção sexual.
A farmacoterapia tornou-se mais complexa, e o farmacêutico assumiu a responsabilidade por ajustes nas doses e a monitorização contínua. Mais recentemente, a farmacogenômica também tem se destacado no câncer de próstata. A compreensão das mutações genéticas vem possibilitando tratamentos mais direcionados e os profissionais de Farmácia precisam dominar profundamente esses novos medicamentos, suas indicações, dosagens e potenciais interações.
“O câncer de próstata e seu tratamento podem causar uma variedade de efeitos adversos, como fadiga, náuseas, dor, problemas urinários, entre outros. O farmacêutico tem um papel fundamental na gestão desses efeitos, recomendando tratamentos complementares e realizando intervenções farmacológicas para melhorar a qualidade de vida do paciente. Com o aumento da complexidade dos tratamentos, o profissional agora é importante na educação contínua dos pacientes, explicando as opções terapêuticas, os efeitos adversos e a adesão ao tratamento. A comunicação com a equipe multidisciplinar também se tornou essencial para garantir que o tratamento seja o mais eficaz possível”, afirma Mendes.
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O professor ressalta que embora o farmacêutico não atue diretamente no diagnóstico médico de câncer, sua contribuição é fundamental no processo de diagnóstico precoce por meio de atividades preventivas, educação e monitoramento de sinais iniciais da doença. A atuação proativa do profissional de Farmácia pode influenciar significativamente a detecção precoce de câncer, o que melhora as chances de sucesso no tratamento e o prognóstico dos pacientes.
“A educação e conscientização são deveres dos farmacêuticos, uma vez que há uma forte interação direta com os pacientes. Conhecer os fatores de riscos e saber conduzir orientações é inerente a um bom atendimento. O farmacêutico pode ser um ponto de referência importante na propagação da informação dos exames de rotina, como PSA e toque retal”, garante Mendes.
Avanços, inovações e desafios do farmacêutico
Ele conta que o tratamento do câncer de próstata tem avançado consideravelmente, com novas terapias que oferecem melhores opções para os pacientes, especialmente em casos mais avançados ou metastáticos. Algumas mais recentes incluem tratamentos baseados em abordagens como imunoterapia, terapias alvo, inibidores de PARP, e novas opções hormonais e quimioterápicas.
Os inibidores de PARP são uma classe de medicamentos que têm mostrado grande promessa no tratamento de câncer de próstata, especialmente em pacientes com mutações em genes como BRCA1 e BRCA2. Eles atuam inibindo uma enzima envolvida na reparação do DNA, o que pode levar à morte de células tumorais com danos no DNA. O professor lembra ainda que, em alguns centros de pesquisa, está em estudo a utilização de terapia com células T, uma abordagem onde as células do sistema imunológico do paciente são modificadas para atacar as células cancerígenas mais agressivas. Embora seja uma abordagem experimental, a pesquisa está avançando e pode oferecer uma alternativa promissora no futuro.
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“A vacina terapêutica também está sendo explorada como uma forma de aumentar a resposta imunológica do corpo contra o câncer de próstata. A sipuleucel-T (Provenge) foi uma das primeiras vacinas aprovadas para a doença, e seu uso pode melhorar a sobrevida de pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC). O imunizante ajuda a ativar o sistema imunológico para reconhecer e destruir as células tumorais”, explica Mendes.
A tecnologia aliada ao diagnóstico precoce do câncer de próstata está revolucionando a forma como a doença é detectada, melhorando a precisão, reduzindo a invasividade e proporcionando tratamentos mais eficazes e personalizados. Com o uso de ressonância magnética avançada, inteligência artificial (IA), biomarcadores genéticos e novas técnicas de biópsia, os profissionais de saúde podem detectar a doença em estágios mais iniciais, quando as opções de tratamento são mais eficazes.
Segundo o professor, essas inovações não apenas salvam vidas, mas também ajudam a reduzir a ansiedade e os riscos associados a diagnósticos tardios. A IA oferece uma série de ferramentas que podem ajudar farmacêuticos em várias áreas: diagnóstico precoce, gerenciamento de terapias, monitoramento de efeitos adversos, educação do paciente e otimização de tratamentos personalizados
Para o especialista, os farmacêuticos enfrentam uma série de desafios no manejo do câncer de próstata, desde o gerenciamento das terapias complexas e efeitos adversos até a personalização do tratamento e a educação do paciente. No entanto, com o avanço tecnológico e a colaboração interdisciplinar, os profissionais de Farmácia desempenham um papel cada vez maior na otimização do tratamento, no monitoramento contínuo dos pacientes e no suporte emocional e educativo. Superar esses desafios requer constante atualização, conhecimento técnico e uma abordagem centrada no paciente, com o objetivo de melhorar a eficácia do tratamento e a qualidade de vida dos indivíduos.
“Um dos principais desafios é garantir que o paciente siga o regime de tratamento corretamente, evitando interações medicamentosas e ajustando conforme necessário. Isso exige um conhecimento aprofundado sobre os medicamentos utilizados, seus efeitos colaterais, interações e a capacidade de personalização de acordo com o caso. Outro ponto é a detecção precoce de efeitos adversos, além de estratégias para minimizar ou gerenciá-los. Monitorar o paciente com mais frequência, realizando ajustes no tratamento quando necessário e utilizando medicamentos para aliviar os efeitos colaterais é um aspecto crucial do cuidado farmacêutico no câncer de próstata”, afirma Mendes.
Equipe multidisciplinar e perspectivas para a atuação no câncer de próstata
A integração do farmacêutico na equipe de cuidado do paciente com câncer de próstata traz benefícios substanciais tanto para a segurança quanto para a qualidade do tratamento. O farmacêutico é um membro indispensável da equipe multidisciplinar, contribuindo com seu conhecimento especializado sobre medicamentos, terapias, efeitos adversos e monitoramento contínuo. Sua atuação ajuda a maximizar os resultados do tratamento, a minimizar complicações e a melhorar a adesão ao regime terapêutico, resultando em uma experiência mais positiva para o paciente e melhores desfechos clínicos.
Para o professor, o futuro do farmacêutico no câncer de próstata é marcado pela evolução das terapias personalizadas, pelo aumento do uso de tecnologias emergentes, como IA e farmacogenômica, e pela crescente ênfase no bem-estar global do paciente. De acordo com ele, o profissional será um membro indispensável da equipe multidisciplinar, oferecendo expertise em medicamentos, monitoramento de tratamentos e promoção da qualidade de vida do paciente, além de atuar ativamente no acesso a tratamentos inovadores e na educação e apoio ao paciente e à comunidade.
“O farmacêutico que deseja se especializar em Oncologia, incluindo no tratamento do câncer de próstata, deve se dedicar ao estudo contínuo de várias áreas interconectadas, como farmacologia oncológica, farmacogenômica, imunoterapia, e terapias combinadas. A integração de novas tecnologias, como IA e biologia molecular, também é fundamental para o farmacêutico acompanhar as últimas inovações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A formação contínua em pesquisa clínica, nutrição oncológica e medicina paliativa completam o perfil do farmacêutico altamente qualificado e apto a atuar no campo da Oncologia”, garante Mendes.
Novembro Azul
Lançada em 2011 pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, a campanha Novembro Azul visa conscientizar e orientar os homens acerca da sua saúde; estimular uma importante mudança de hábitos e trabalhar por um melhor acesso da população masculina à saúde de forma integral. Atualmente, é o maior movimento em prol da saúde do homem no país. Em 2024, está pautada na mensagem "Saúde do Homem: Cada Passo Conta", mostrando como é possível sair do labirinto da dúvida com informação e cuidado.
O professor do ICTQ salienta que a campanha Novembro Azul é vital na conscientização sobre o câncer de próstata e na promoção da saúde masculina de maneira ampla. Ao educar, desmistificar tabus e incentivar a prevenção, ela não só salva vidas, mas também contribui para uma sociedade mais saudável e informada.
“A importância dela vai além do diagnóstico precoce, ajudando a promover hábitos saudáveis, oferecer apoio psicológico e, principalmente, fazer com que os homens se sintam mais confortáveis ao cuidar de sua saúde. Os farmacêuticos, assim como todo profissional da saúde deve se envolver ativamente promovendo informação científica correta, orientando pacientes, quebrando preconceitos e direcionando os pacientes, uma vez que o diagnóstico precoce é o melhor cenário para a cura”, finaliza o professor.
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