O Ministério da Saúde acaba de divulgar um novo boletim epidemiológico que aponta a persistência de diversas doenças negligenciadas — frequentemente ligadas à pobreza — em praticamente todos os municípios brasileiros. O alerta vem no momento em que o país busca cumprir metas de saúde global relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas.
O que revela o novo boletim sobre doenças negligenciadas?
Segundo o Ministério da Saúde, o “Boletim Epidemiológico — Doenças Tropicais Negligenciadas no Brasil (2016–2020)” mostra que quase todos os municípios do país apresentaram pelo menos um caso de doença negligenciada no período analisado. A prevalência é mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste, onde fatores socioeconômicos tornam a população mais vulnerável.
As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) incluem enfermidades de origem infecciosa que afetam principalmente comunidades em situação de pobreza e que historicamente recebem pouca atenção, investimento e visibilidade. O boletim destaca ainda que a sobreposição dessas doenças é comum, indicando que os mesmos territórios enfrentam múltiplos riscos simultaneamente.
99,3% dos municípios brasileiros relataram ao menos uma DTN entre 2016 e 2020
As regiões Norte e Nordeste concentram a maior parte dos casos
Quais são as principais doenças tropicais negligenciadas no Brasil?
Doença de Chagas
Hanseníase
Esquistossomose
Leishmaniose visceral e tegumentar
Filariose linfática
Tracoma
Essas doenças são causadas por agentes como vírus, bactérias e parasitas, e têm em comum a ligação com fatores como saneamento básico inadequado, moradias precárias e acesso limitado aos serviços de saúde. Em geral, provocam incapacidades físicas, sofrimento prolongado e, em muitos casos, morte.
Mesmo com políticas públicas direcionadas ao controle dessas enfermidades, elas continuam presentes em grande parte do território nacional, o que indica a necessidade de estratégias mais integradas e eficazes.
Como essas doenças afetam a saúde pública e a mortalidade?
O boletim aponta que, embora alguns indicadores tenham melhorado, os impactos continuam altos. Há milhares de casos anuais e a mortalidade, embora concentrada em algumas doenças específicas, ainda é significativa. A hanseníase, por exemplo, segue com transmissão ativa em diversos estados, e a doença de Chagas é uma das principais causas de morte por doenças infecciosas em áreas rurais.
Outro dado preocupante é que os municípios com maior número de casos são, em geral, os que apresentam os menores índices de desenvolvimento humano. A combinação de desigualdade social, ausência de saneamento e pouca oferta de serviços de saúde cria um cenário propício para a persistência das DTNs.
|
Indicador |
Observação |
|
Municípios com registro de ao menos 1 DTN (2016–2020) |
99,3% |
|
Regiões com maior concentração de casos |
Norte e Nordeste |
|
Doenças com maior impacto em mortalidade |
Doença de Chagas, leishmaniose, hanseníase |
|
Fatores de risco associados |
Pobreza, saneamento precário, baixo aces |
Veja abaixo um resumo com alguns dados importantes:
Por que essas doenças continuam negligenciadas?
As DTNs recebem esse nome exatamente porque, apesar de afetarem milhões de pessoas, continuam à margem das prioridades de investimento, pesquisa e políticas públicas. Isso se deve, em parte, ao fato de que as populações mais afetadas têm pouca visibilidade política e vivem em áreas afastadas dos grandes centros.
Além disso, a maioria dessas doenças não desperta atenção internacional significativa, reduzindo o interesse da indústria farmacêutica em desenvolver medicamentos e vacinas mais eficazes. O resultado é um ciclo contínuo de negligência: pouco investimento leva à falta de inovação, impedindo o controle eficaz.
Baixo investimento em pesquisas e desenvolvimento de medicamentos
Falta de campanhas de prevenção e diagnóstico em larga escala
Pouca visibilidade nos meios de comunicação e na agenda política
O que pode ser feito para combater as doenças negligenciadas?
O enfrentamento das DTNs exige ações integradas entre governos, profissionais de saúde, universidades e comunidades locais. Campanhas de diagnóstico precoce, ampliação da cobertura de saúde básica e investimentos em saneamento são pilares fundamentais.
Também é essencial incluir essas doenças nas agendas de pesquisa científica, com incentivo a estudos que desenvolvam novas estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento. O fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e a atuação coordenada entre esferas federal, estadual e municipal são determinantes para o sucesso.
Reforçar ações de vigilância epidemiológica e testagem ativa nas comunidades
Ampliar investimentos em infraestrutura sanitária e acesso a água potável
Incentivar a formação de profissionais especializados em DTNs nas regiões afetadas.
Participe também: Grupos de WhatsApp e Telegram para receber notícias




