Um estudo com participação de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, Universidade de São Paulo, concluiu que não existem evidências genéticas suficientes para justificar a proibição do uso da dipirona devido ao risco de agranulocitose, uma doença rara que provoca redução grave de neutrófilos, células de defesa do sangue.
A dipirona é proibida em países como Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Suécia e Finlândia, principalmente por preocupação com a agranulocitose. No Brasil, o medicamento é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é amplamente utilizado como analgésico e antipirético.
O estudo, publicado na revista Frontiers in Pharmacology, reuniu pesquisas sobre possíveis variações genéticas que poderiam aumentar o risco de agranulocitose. Foram identificadas algumas variantes genéticas, mas somente duas apresentaram resultados significativos, envolvendo os genes HLA-C*04:01 e SVEP1. No entanto, não houve relação entre a frequência dessas variantes e a proibição do medicamento em diferentes países.
Segundo as pesquisadoras Giovana Fidelis e Carolina Dagli Hernandez, mesmo em países onde a dipirona foi proibida, o risco de agranulocitose é muito baixo. Um estudo realizado no Brasil, Argentina e México registrou apenas 0,38 casos por milhão de habitantes por ano. Além disso, pesquisas indicam que a dipirona pode ter menor chance de causar efeitos adversos do que aspirina e ibuprofeno.
“Quando essa queda acontece por causa da dipirona, chamamos de agranulocitose induzida pela dipirona. No organismo, a pessoa pode começar sem sintomas específicos, mas logo apresenta febre, calafrios e sinais de infecção”, relatam as pesquisadoras em entrevista a USP.
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As especialistas destacam que o medicamento continua seguro para a população brasileira, mas alertam que pacientes que apresentarem febre, calafrios, dor de garganta, aftas ou fraqueza geral após usar dipirona devem procurar um médico imediatamente. Elas reforçam a importância de notificar suspeitas de agranulocitose à Anvisa.
“Como os neutrófilos ficam muito baixos, o corpo perde a capacidade de se defender, o que aumenta bastante o risco de infecções graves, podendo até evoluir para sepse [disfunção de órgãos com risco de vida”, pontuaram as pesquisadoras Giovana Fidelis e Carolina Dagli Hernandez,
De acordo com elas, em alguns locais onde houve a proibição, especialmente nos países nórdicos, foi observada uma frequência mais elevada de agranulocitose induzida por dipirona. “Um estudo sueco de 2002 observou que cerca de 1 em 1.400 usuários de dipirona apresentaram essa reação adversa. Isso justificou sua proibição nesse e em outros países”.
O estudo contou com colaboração internacional de pesquisadores da FCF-USP, Unicamp, Universidade de Surabaya (Indonésia), Uppsala Monitoring Centre (Suécia) e da International Society of Pharmacovigilance (Suíça).
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