Confusão mental de Joe Biden em debate da CNN foi causada por zolpidem

O desempenho do presidente norte-americano Joe Biden no debate contra Donald Trump, em junho do ano passado, levantou dúvidas e preocupações em todo o mundo. Biden, então com 81 anos, mostrou lapsos de memória, confusão mental e dificuldades de articulação. Agora, quase um ano depois, o próprio filho do ex-presidente, Hunter Biden, atribuiu o episódio ao uso de zolpidem, que é um medicamento indicado para insônia, administrado antes do confronto eleitoral.

“Deram Ambien (nome comercial do zolpidem) para que ele pudesse dormir. Aí, ele subiu no palco e ficou igual a barata tonta”, declarou Hunter em entrevista. Ele explicou que o pai vinha de uma maratona de compromissos e voos internacionais e, exausto, tomou o medicamento para conseguir descansar antes do debate. A revelação reacendeu o debate sobre o uso inadequado de medicamentos hipnóticos e seus efeitos colaterais quando o paciente não segue as orientações corretamente.

Para esclarecer os riscos e particularidades do zolpidem, o professor do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e doutor em farmacologia, Humberto Spindola, explicou que o medicamento deve ser usado, exclusivamente, para a indução do sono, e não como ansiolítico, tranquilizante ou alternativa para reduzir o estresse antes de compromissos importantes.

Zolpidem não é ansiolítico e exige cuidado extremo

“O zolpidem não é um calmante. Diferente de medicamentos como o clonazepam (Rivotril), que atuam em quadros de ansiedade, o zolpidem tem como única função a indução do sono. Seu uso deve ser feito apenas no momento em que a pessoa vai se deitar. Ele coloca o sistema nervoso em estado de hipnose, uma indução artificial ao sono”, destaca o farmacologista.

Segundo Spindola, o tempo de ação do zolpidem é curto — de duas a três horas e meia. Por isso, o risco está principalmente no uso em horários indevidos. Se o paciente toma o medicamento e permanece acordado, o efeito pode ser exatamente o oposto do desejado: alucinações, desorientação e até episódios de amnésia.

“Quando alguém toma zolpidem e não dorme, o que pode acontecer é um efeito alucinógeno. A pessoa força o cérebro a permanecer acordado sob um forte depressor do sistema nervoso central. Esse estado pode provocar confusão mental intensa, perda de raciocínio e ausência de lembrança do que foi feito naquele período, uma condição chamada de amnésia anterógrada”, explica.

Uso fora do horário adequado pode comprometer funções cognitivas

De acordo com o professor, isso pode ter ocorrido com Biden, caso ele tenha tomado o zolpidem no mesmo dia do debate e não tenha conseguido dormir adequadamente. “Se foi feito o uso do zolpidem e depois ele ficou acordado para participar de um evento público, é possível que tenha sofrido esses efeitos adversos. O próprio fato de ter ido para o palco indica que o sono não foi induzido de forma adequada”, completa.

Outro cenário possível, segundo o especialista, seria a ocorrência de efeitos residuais do medicamento no dia seguinte, principalmente se o metabolismo do paciente estiver comprometido, o que é mais comum em pessoas idosas. “Se ele usou o zolpidem na noite anterior e não metabolizou o fármaco por completo, poderia ter acordado com tontura, sonolência ou confusão mental. Embora o tempo de ação do remédio seja curto, esses efeitos residuais podem acontecer”, pontua Spindola.

Venda do medicamento é controlada no Brasil

O caso evidencia a importância da prescrição correta e do acompanhamento profissional em qualquer uso de medicamento controlado. “Muitas vezes, pacientes com insônia crônica ou ansiedade fazem uso simultâneo de clonazepam e zolpidem. Isso deve ser rigidamente monitorado, porque há risco de dependência, efeitos adversos combinados e perda de eficácia ao longo do tempo”, alerta o professor.

Spindola reforça que medicamentos como o zolpidem não devem, em hipótese alguma, ser utilizados para compensar cansaço extremo ou como ferramenta para "ajustar o relógio biológico" antes de compromissos importantes. “Se alguém precisa estar lúcido e com a mente ativa em determinado momento, jamais deve tomar zolpidem poucas horas antes. O medicamento é indicado apenas para momentos de repouso, e seu uso incorreto pode comprometer gravemente a performance cognitiva e comportamental do indivíduo”, afirma.

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No Brasil, o zolpidem está entre os hipnóticos mais prescritos e monitorados pela Anvisa. De acordo com dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF), as vendas do medicamento aumentaram 71% entre 2018 e 2020, com mais de 20 milhões de unidades comercializadas anualmente no país.

Diante desse cenário, a Anvisa atualizou a regulamentação do medicamento em maio de 2024. Por meio da RDC 871/2024, o zolpidem passou a exigir Notificação de Receita tipo B (azul) em qualquer concentração. A medida eliminou a possibilidade de prescrição em receita branca para doses de até 10 mg, como era permitido anteriormente. A decisão foi tomada após o crescente número de relatos de uso inadequado e efeitos adversos associados.

Farmacêutico tem papel essencial na orientação ao paciente

O caso de Biden expõe uma realidade que vai além da política: o uso inadequado de medicamentos psicotrópicos pode ter sérias consequências à saúde. Para os profissionais farmacêuticos, trata-se de um alerta sobre o papel essencial da orientação ao paciente e da farmacovigilância.

“É preciso entender que o zolpidem não é um medicamento para ansiedade ou estresse. Ele é um hipnótico, e, como tal, deve ser utilizado com muito cuidado. A automedicação, ou mesmo o uso prescrito em momentos inadequados, pode comprometer a saúde mental e física do paciente, com efeitos imediatos e perigosos”, conclui Spindola.

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