Usado, topicamente, para o tratamento e prevenção da alopecia androgênica, em homens e em mulheres, o Minoxidil também tem sido indicado para preenchimento de barba e sobrancelhas (uso off-label). Mas nem sempre foi assim: na década de 1970, o medicamento oral foi destinado à hipertensão, no entanto, com mais efeitos colaterais.
A segurança da aplicação na forma tópica, diretamente na região a ser tratada, é satisfatória, exceto pelo fato de haver o risco de transferência para os animais de estimação, e também para bebês e crianças. Neste último caso, um dos riscos é a hipertricose em crianças expostas ao produto de forma indireta, possivelmente por contato com o adulto após a aplicação, seja pelas mãos, que não foram higienizadas, ou pelo toque da criança no local que está sendo tratado com o produto.
Vale lembrar que a alopecia androgenética, conhecida popularmente como calvície, vai além de uma questão estética. Essa condição tem um impacto direto na autoestima e no bem-estar emocional. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em média, 5% das mulheres são afetadas por esse tipo de queda de cabelo e aproximadamente 50% dos homens brancos, aos cinquenta anos. A patologia é resultado da estimulação dos folículos pilosos por hormônios masculinos (testosterona) que, ao atingir o couro cabeludo de pacientes com predisposição genética para a calvície, sofrem a ação da enzima 5alfa-redutase, sendo transformada em diidrotestosterona (DHT).
Segundo o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e farmacêutico clínico das Farmácias Suaiden, dr. André Schmidt Suaiden, o minoxidil não é recomendado para crianças e bebês. Seu uso tópico (em loções capilares) e oral (para hipertensão) pode trazer riscos significativos para esse público. Ele lista os principais motivos:
1. Uso Tópico (loção capilar) - A pele de bebês e crianças é mais fina e permeável, o que pode aumentar a absorção do medicamento e levar a efeitos colaterais sistêmicos. Pode causar irritação cutânea, dermatite de contato e até queda de cabelo paradoxal. Oferece risco de absorção sistêmica, podendo afetar a pressão arterial e o coração.
2. Uso Oral (antiga indicação para hipertensão) - É um vasodilatador potente e pode causar queda perigosa da pressão arterial em crianças. Pode levar a retenção de líquidos e causar edema e provocar taquicardia e sobrecarga cardíaca.
Contato acidental
E se uma criança ou bebê entrar em contato com minoxidil? “Se houver contato acidental com a pele, o ideal é lavar imediatamente com água e sabão. Caso ocorra ingestão acidental, procure o farmacêutico imediatamente, pois pode haver risco de queda de pressão, desmaio e alterações cardíacas.
Suaiden explica que a orientação do farmacêutico em relação ao minoxidil em crianças e bebês deve ser clara e baseada na segurança do paciente. Aqui estão os principais pontos:
1. Contraindicação e Prevenção - Uso tópico e oral são contraindicados para crianças e bebês. O farmacêutico deve explicar aos responsáveis que a pele das crianças é mais fina e absorve mais medicamentos, aumentando o risco de efeitos adversos sistêmicos. Ele deve orientar para manter o frasco longe do alcance de crianças, evitando ingestão acidental ou contato com a pele.
2. O que fazer em caso de contato acidental?
- Na pele: lavar imediatamente com água e sabão neutro.
- Nos olhos: lavar com bastante água corrente e procurar um médico, se houver irritação.
- Ingestão acidental: encaminhar imediatamente ao pronto-socorro, pois pode causar hipotensão e alterações cardíacas.
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3. Alternativas seguras para problemas capilares em crianças
Se os pais estiverem preocupados com a queda de cabelo nos filhos, o farmacêutico deve esclarecer que isso pode ocorrer devido a deficiências nutricionais, dermatite, micose ou estresse, e que o ideal é procurar um dermatologista ou pediatra.
Ele deve sugerir cuidados naturais, como xampus suaves e alimentação balanceada, sem automedicação.
“Assim, o farmacêutico deve reafirmar a contraindicação do minoxidil em crianças, instruir sobre armazenamento seguro, orientar sobre os riscos do contato acidental e indicar alternativas mais seguras”, destaca Suaiden.
Contato com animais
Recentemente a mídia veiculou matérias que associavam a morte de gatos e cachorros em decorrência do contato dos animais com a pessoas em tratamento com o minoxidil tópico. Nesses casos, a intoxicação se dá com a exposição ao medicamento, por meio de lambidas no local com a substância ou mesmo a ingestão de comprimidos.
Suaiden explica as possíveis reações adversas em animais:
1. Irritação cutânea: se aplicado topicamente, pode causar vermelhidão, coceira e descamação.
2. Toxicidade sistêmica: se ingerido ou absorvido em grandes quantidades pela pele, pode levar a efeitos graves, como:
- Hipotensão;
- Taquicardia;
- Letargia e fraqueza;
- Edema pulmonar, que pode ser fatal.
3. Queda de pelos: alguns animais podem apresentar perda de pelos no local de aplicação.
4. Intoxicação grave em gatos: esses animais são extremamente sensíveis ao minoxidil e podem apresentar intoxicação fatal, mesmo com pequenas exposições.
“A toxicidade do minoxidil em animais ocorre devido à sua ação vasodilatadora intensa, levando a hipotensão, taquicardia e edema pulmonar. Se houver suspeita de intoxicação, o animal deve ser levado ao veterinário imediatamente para tratamento de suporte, que pode incluir fluidoterapia, oxigenoterapia e vasopressores para estabilizar a pressão arterial”, ressalta ele.
Papel o farmacêutico no segmento PET
Para Suaiden, o farmacêutico tem um papel essencial na prevenção, identificação e orientação sobre a toxicidade do minoxidil em animais. Sua atuação pode ocorrer em diversas áreas:
1. Prevenção e educação
- Orientação ao paciente: informar pacientes que usam minoxidil sobre o risco de exposição para animais, especialmente gatos, e recomendar cuidados, como:
- Evitar contato direto com os animais após a aplicação.
- Lavar bem as mãos após o uso.
- Armazenar o produto longe do alcance dos animais.
- Esclarecimento para tutores: o farmacêutico pode alertá-los sobre os sintomas de intoxicação e a necessidade de atendimento veterinário imediato.
2. Identificação de casos suspeitos
- Se um cliente relatar que seu pet está apresentando letargia, taquicardia, vômitos ou dificuldades respiratórias após contato com minoxidil, o farmacêutico pode suspeitar de intoxicação e orientá-lo a procurar um veterinário imediatamente.
- Em farmácias que oferecem serviços clínicos, o farmacêutico pode realizar a triagem e o encaminhamento adequado.
3. Suporte ao atendimento veterinário
- O farmacêutico pode auxiliar veterinários com informações sobre o mecanismo de ação, metabolismo e toxicidade do minoxidil, auxiliando na escolha do tratamento adequado.
- Em farmácias de manipulação, o farmacêutico pode atuar no controle de qualidade e segurança ao manipular fórmulas contendo minoxidil, garantindo que não haja contaminação cruzada com produtos destinados a animais.
4. Pesquisa e farmacovigilância