Tadalafila para o desempenho físico? Farmacêuticos alertam para riscos e falta de evidências

As academias costumam ser reduto de ‘prescritores’ de todo tipo de substância que, supostamente, potencializam o desempenho muscular. A tendência polêmica do momento, entre os praticantes de musculação, é o uso da tadalafila, que está sendo defendido por alguns atletas da modalidade para o aumento da vasodilatação e, consequentemente, para a melhora da chegada de oxigênio e nutrientes aos músculos durante os treinos.

Mas a fama da substância está em todos os públicos: no ano passado um integrante do reality show BBB24, MC Bin Laden, declarou o uso da tadalafila como parte de sua rotina de treinos na academia. E mais: um dos versos sobre a tadalafila, de uma música muito popular lançada por Alanzim Coreano e Os Barões da Pisadinha em 2023, revela: "Sabe qual é o segredo pra aguentar a noite todinha? Tadalafila, tadalafila”. E muitas outras canções enaltecem o seu uso para diversos outros fins.

Vale lembrar que esse medicamento é utilizado no tratamento da disfunção erétil e atua dilatando os vasos sanguíneos, o que pode levar a um aumento momentâneo do fluxo sanguíneo, mas, seu uso indiscriminado, entre homens e mulheres, levanta alertas sobre segurança e riscos à saúde.

O professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e PhD em Farmacologia, Thiago de Melo, é categórico em dizer que o consumo da tadalafila para performance não faz sentido: “Existem estudos , desde 2008, inclusive mostrando em humanos, que a substância não influencia o VO2 máximo, nem limiar aeróbico, nem anaeróbico de atleta para melhora de performance. Essa expectativa, de que causa um efeito vasodilatador não faz sentido, até porque o próprio exercício físico, com o aumento da pressão arterial, provoca um estímulo no endotélio, a primeira camada do vaso, que por si só já produz oxido nítrico (NO). Então, todos nós, fazendo exercício com um endotélio saudável, produzimos NO para gerar essa resposta vasodilatadora, por isso não é necessário o uso da tadalafila”.

O próprio Conselho Federal de Farmácia (CFF), em artigo publicado em seu portal, defende que, como qualquer medicamento, o uso indiscriminado da tadalafila pode causar reações adversas e perigosas interações com outros medicamentos. Alguns dos efeitos colaterais mais comuns incluem dor de cabeça, indigestão, dor nas costas, rubor facial, congestão nasal e dores musculares. Em casos raros, pode causar alterações na visão, audição ou batimentos cardíacos.

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"Medicamentos, incluindo a tadalafila, não devem ser tratados de forma leviana. Seu uso deve aderir estritamente às orientações, evitando práticas que possam comprometer a saúde pública. A combinação de prática de exercícios físicos com o uso irresponsável de medicamentos é encarada como potencialmente prejudicial à sociedade", esclarece no artigo a conselheira Federal de Farmácia de Sergipe, Fátima Cardoso.

Estética e performance a qualquer custo

Melo afirma que alguns interessados, de uma maneira mal-intencionada, passam a fazer esse estímulo para que atletas e esportistas utilizem a tadalafila na academia e acabam percebendo melhor o desempenho sexual. Agora, isso em longo prazo não é interessante, uma vez que o consumo exagerado desses inibidores orais da fosfodiesterase tipo 5 para disfunção erétil podem trazer algumas consequências extras, por exemplo, risco de hipotensão, queda da pressão arterial, principalmente após o exercício.

“Outro motivo para evitar a substância é a chance de priapismo, que é a manutenção da ereção por muito tempo. Esse sangue acumulado na região peniana aumenta a chance de necrose e quadros de isquemia, porque esse sangue não se renova, necessitando de intervenções cirúrgicas ou em pronto-socorro com noradrenalina. Então, não estimulamos essa recomendação, porque os estudos que mostram possível benefício são apenas em nível experimental para humanos em qualquer condição, seja para atletas, esportistas ou usuários de anabolizante. Assim, é uma atitude de consumo sem sentido e não baseada na literatura científica médica”, alerta Melo.

Situação crítica

Por conta da popularização do medicamento para diversos fins, as vendas dele só crescem. Um relatório da consultoria Close-Up International aponta que a tadalafila ficou em terceiro lugar entre as moléculas mais vendidas em 2024, atrás apenas de losartana e metformina.

No total, ela gerou uma receita que supera R$ 1,2 bilhão naquele ano, e apresentou o maior crescimento nas vendas, em um ano, entre os 20 primeiros colocados neste ranking.

Papel do farmacêutico

“O fato é que os medicamentos não são brincadeira. Todos possuem riscos e benefícios associados ao seu uso, e é importante que sejam usados apenas quando necessário e de acordo com as instruções do farmacêutico. Esses casos que enaltecem o uso da tadalafila podem gerar graves consequências e devem ser repercutidos como exemplos errôneos da mistura de diversão com uso de medicamentos”, afirma Fátima no artigo do CFF.

Para Melo, o farmacêutico é fundamental para educar a população, explicando os perigos, evitando potenciais interações medicamentosas e consumo irracional de medicamentos. “Além disso, ele deve indicar suplementos que possam ser necessários para a melhora da performance (amparados na literatura) como creatina, whey protein, BCAA etc.”, finaliza ele, que indica três artigos científicos sobre o tema:

  1. Efeito do tadalafil nos índices de desempenho anaeróbico em atletas saudáveis - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17586581/
  2. Abuso de inibidor da fosfodiesterase tipo 5: uma revisão crítica -https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21696344/
  3. Tadalafila diário para a fase crônica do priapismo gago: relato de caso -https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5984299/

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