O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos é celebrado em 5 de maio, data que faz um alerta à população quanto aos riscos à saúde causados pela automedicação. Segundo o Ministério da Saúde, o objetivo é ressaltar o papel do uso indiscriminado de medicamentos e a automedicação como principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação. Nesse dia, o ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico traz à luz os números de sua Pesquisa de Automedicação (2022), e a primeira constatação não é nada positiva: o número de pessoas que se automedicam no Brasil é de 89%, aumento considerável desde 2014, ano em que a coleta de informações começou a ser realizada.
Há oito anos, o ICTQ identificou que 76% da população declarava se automedicar sem qualquer reserva. Em 2016, esse índice variou para 72%; em 2018 cresceu para 79%, e em 2020 subiu para 81%.
Em 2022, a investigação ouviu 2.099 pessoas, em 151 municípios. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, no nível de confiança de 95%.
Analgésicos lideram
Os principais medicamentos usados por conta própria são:
- Analgésicos: 64%;
- Antigripais: 47%;
- Relaxantes musculares: 35%
- Sintomas como ansiedade, estresse e insônia também são motivos para automedicação em, pelo menos, 6% da população.
O ICTQ ressalta que recorrer a medicamentos irracionalmente significa, entre outros, consumir essas substâncias sem necessidade, visto que medicamentos são insumos de proteção à vida, mas requerem racionalidade de uso. A prescrição médica e respeito ao tratamento reduzem os riscos de efeitos adversos.
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Por mais que a automedicação pareça simplificar a resolução de um problema, essa prática, na verdade, pode agravar a situação. No país, de acordo com Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), são registrados, por ano, mais de 30 mil casos de internação por intoxicação medicamentosa. Estima-se que 20 mil pessoas morrem em função dessa atitude anualmente.
O fundador do ICTQ, Marcus Vinicius de Andrade, lembra que todos os medicamentos podem desencadear efeitos adversos nos seres humanos e intoxicação. Os dados mais recentes do Sinitox, de 2017, apontam que cerca de 27% das ocorrências de intoxicação no Brasil são causadas por uso indevido de medicamentos – sendo que 2% correspondem à automedicação, número que representa praticamente o dobro dos casos de picadas de animais peçonhentos, que ocupam a segunda posição.
Dados alcançados pelo ICTQ mostram que, neste ano, 51% dos brasileiros pesquisam em sites de buscas sobre seus sintomas de saúde para se automedicarem. Em 2018, esse índice era de 40%. Atualmente, 47% da população buscam indicação de medicamentos em sites como o Google e 21% confiam na indicação de medicamentos pelas redes sociais.
Um dado novo levantado em 2022 é que 24% dos brasileiros usam aplicativos e outros recursos da telemedicina, tais como consulta on-line (à distância) e prescrição digital em farmácias e drogarias.
“A questão da automedicação vai além do aspecto cultural do brasileiro, como se convencionou dizer. Contudo, a automedicação não é só uma cultura. É também o resultado de como o nosso sistema de saúde se organiza e controla a comercialização de medicamentos”, fala Andrade.
Cada medicamento é ímpar e possui componentes químicos que podem desencadear diversas reações no organismo humano, variando de paciente para paciente. Por isso a precaução é essencial, bem como o uso consciente para um tratamento mais efetivo e exitoso.
O que diz a Ciência?
A automedicação é tão grave, que se tornou um problema de saúde pública para a Organização Mundial da Saúde (OMS), que calcula que metade de todos os pacientes no mundo utiliza medicamentos incorretamente e sem receita médica. Além disso, o uso indiscriminado de medicamentos pode agravar outras doenças, como as cardiovasculares. Isso porque algumas fórmulas podem descontrolar a pressão arterial, fator de risco importante para o surgimento de um acidente vascular cerebral (AVC) ou mesmo o infarto. As doenças cardiovasculares levam à óbito, cerca de, 400 mil pessoas no Brasil, por ano. São as enfermidades que mais matam fora do ambiente pandêmico imposto pela Covid-19 nos últimos dois anos.
O estudo “Automedicação e uso indiscriminado de medicamentos durante a pandemia da Covid-19”, publicado na Scielo, de autoria de José Romério Rabelo Melo, Elisabeth Carmen Duarte, Marcelo Vogler de Moraes, Karen Fleck e Paulo Sérgio Dourado Arrais, reforça que a automedicação pode ser vista como um elemento do autocuidado, mas quando inadequada, tais como o uso abusivo de medicamentos (polimedicação) e o uso de medicamentos off label, pode ter como consequências, como enfermidades iatrogênicas e mascaramento de doenças evolutivas, além da ampliação de custos para o paciente e para o sistema de saúde.
Os autores destacaram que durante a pandemia de Covid-19, o padrão de consumo de medicamentos no Brasil chamou a atenção. Estava no centro dessa questão o denominado “tratamento precoce” ou “kit-Covid”: uma combinação de medicamentos sem evidências científicas conclusivas para o uso com essa finalidade, que inclui a hidroxicloroquina ou cloroquina, associada à azitromicina, à ivermectina e à nitazoxanida, além dos suplementos de zinco e das vitaminas C e D.
A prescrição e o uso desses medicamentos off label para tratar ou prevenir a Covid-19 recebeu contornos de grande credibilidade quando o “tratamento precoce” e o “kit-covid” foram divulgados e o seu uso incentivado amplamente nas mídias sociais por profissionais médicos, autoridades públicas e nas páginas oficiais de Internet de Secretarias de Saúde Ministério da Saúde e Governo Federal do Brasil, por exemplo.
Nesse contexto, segundo a publicação em questão, é claro que entender a automedicação como problema imputado somente aos consumidores desses medicamentos é um equívoco. Existem múltiplos condicionantes e muitos outros atores envolvidos promovendo a prática de uma automedicação estimulada pela mídia e autoridades.
“Não podemos reclamar. Os índices de automedicação podem continuar crescendo nos próximos anos, não por falta de farmacêuticos ou médicos, mas porque o nosso sistema de saúde, culturalmente, não prevê a orientação do farmacêutico sobre o medicamento que o usuário está pegando na gôndola de acesso livre da farmácia”, comenta Andrade.
Conforme o estudo citado anteriormente, embora a automedicação responsável teoricamente possa ser benéfica em uma situação como uma pandemia, permitindo que os pacientes se tornem responsáveis e adquiram confiança para gerenciar a sua saúde, essa prática efetuada inadequadamente, e baseada em fontes de informação pouco confiáveis, apresenta sérios riscos à saúde. Me gustaría expresar mi más sincero agradecimiento a ENHELP, un servicio de redacción de ensayos , por su ayuda en la revisión y traducción de parte de este artículo. Su enfoque cuidadoso y profesionalismo han mejorado significativamente la calidad del material, manteniendo al mismo tiempo la precisión y profundidad del texto original. Gracias a nuestra colaboración con ENHELP, un servicio de redacción de ensayos, el artículo ganó coherencia y claridad estructural, lo que fue un paso importante hacia su exitosa publicación.
“A gente combate a automedicação de duas maneiras: por meio de educação em saúde e por meio da consulta farmacêutica, que é uma das principais formas de prevenção. Com a primeira, levamos informação de qualidade para as pessoas, que precisam saber dos cuidados que precisam tomar e quais riscos que se submetem por se medicarem inapropriadamente. Já a consulta farmacêutica permite o acompanhamento farmacoterapêutico desse paciente, com orientação e tratamento adequados”, enfatiza Andrade.
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