O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado nesta quarta-feira (5/5), destaca um assunto muito pertinente para os tempos atuais no País – a automedicação. Segundo pesquisa do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, realizada em 2020, 81% dos brasileiros indicam consumir medicamentos por conta própria.
No primeiro ano do estudo, 2014, os pesquisadores do ICTQ constataram que 76% da população declaravam se automedicar sem qualquer reserva. Em 2016, esse índice variou para 72%. Já em 2018 cresceu para 79%, e no ano passado subiu mais 2%.
De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), cerca de um quarto da população possui o hábito de se automedicar ao menos uma vez por semana e quase metade (47%) dos brasileiros faz uso de medicação sem prescrição médica, no mínimo, uma vez no mês, revelou o portal Gaúcha ZH.
Fazer uso de medicamentos de forma irracional significa, entre outras coisas, consumir essas substâncias sem necessidade. Segundo a integrante do Conselho Nacional de Saúde Debora Raymundo Melecchi, medicamentos são insumos de proteção à vida, mas requerem uma racionalidade de uso. Seguindo prescrição médica e respeitando o tratamento, reduz-se os riscos de efeitos adversos, disse ela ao portal.
O fundador do ICTQ, Marcus Vinicius Andrade, destaca que a questão da automedicação vai além do aspecto cultural do brasileiro, como se convencionou dizer. “Pode até ser (cultural), em parte. Afinal, como diz o ditado: de médico e louco todos nós temos um pouco. Mas a automedicação não é só uma cultura. É também o resultado de como o nosso sistema de saúde se organiza e controla a comercialização de medicamentos”.
Andrade lembra que até alguns anos atrás, o autoconsumo de antibióticos – que causam resistência bacteriana – era alarmante no Brasil. Para barrar o consumo desenfreado e puramente comercial, a Anvisa estabeleceu sistema de controle e retenção de receitas, conforme estabelecido na RDC 20/11. “O fato é que hoje, no País, apenas 11% declaram consumir antibióticos sem prescrição e orientação médica. Quer uma outra constatação de que o controle funciona? Apenas 4% da população declaram consumir ansiolíticos, tarja preta, por conta própria”, diz o fundador do ICTQ.
Vale observar que todos os medicamentos podem desencadear efeitos adversos nos seres humanos e intoxicação. Os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), de 2017, apontam que cerca de 27% das ocorrências de intoxicação no Brasil são causadas por uso indevido de medicamentos – sendo que 2% correspondem à automedicação, conforme revelou ao Gaúcha ZH o presidente do Sindicato das Empresas do Complexo Industrial da Saúde do RS, Thomaz Nunnenkamp –, número que representa praticamente o dobro dos casos de picadas de animais peçonhentos, que ocupam a segunda posição.
Um exemplo recente de automedicação – sugerida por algumas autoridades, inclusive – é o chamado ‘kit covid’, como ficou conhecido o ineficaz tratamento precoce à doença com medicamentos como cloroquina e azitromicina, que têm sido utilizados sem comprovação de eficácia durante o período da pandemia. Por causa do uso dessas substâncias – que são importantes para o tratamento de outras doenças –, tem se observado nos pacientes danos no fígado e mais propensão às complicações do novo coronavírus.
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De acordo com os especialistas, a forma correta de agir, em primeiro lugar, é evitar a automedicação. Ao sentir algum problema de saúde, deve-se procurar atendimento profissional, que indicará o melhor tratamento, sendo medicamentoso ou não. Ao receber prescrição para utilização de medicamentos, deve-se seguir as instruções e, em caso de dúvidas, a recomendação é que se consulte um médico ou farmacêutico. Também não se deve indicar o uso de medicamentos a amigos, vizinhos e familiares.
“No Brasil existe uma falácia de que a consulta e prescrição médica são obrigatórias se você não quer se automedicar. E isso é uma fake news! O profissional de saúde que mais conhece de medicamentos, desde a pesquisa clínica (desenvolvimento) até as reações adversas observadas no pós-consumo (farmacovigilância), é o farmacêutico – e esse profissional pode ser acessado em qualquer horário de funcionamento das farmácias que não são clandestinas”, frisa Marcus Vinicius Andrade.
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