O alto consumo de sedativos por conta da pandemia fez acender alerta para o risco de desabastecimento no Amazonas e em outros Estados, revelou o JAM 1ª Edição, da Rede Amazônica/TV Globo. Medicamento é utilizado em pacientes intubados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Atualmente, o Amazonas utiliza mais da metade de toda a produção nacional de sedativos, apurou o JAM. Antes da pandemia, os hospitais do Estado consumiam 800 ampolas desse tipo de medicação por mês. O número disparou para 28 mil ampolas, em dezembro, e 50 mil em janeiro.
Intubação é um recurso fundamental para a recuperação respiratória dos pacientes com Covid-19 que necessitam de UTI. O procedimento é doloroso e por isso a pessoa precisa de medicamentos fortes, que induzem o sono profundo. “Ele é usado na indução da intubação e durante a ventilação mecânica do paciente”, disse ao telejornal o infectologista Nelson Barbosa. “Isso acontece porque você precisa do paciente totalmente entregue ao ventilador, ele não pode tentar competir com o equipamento”.
Entre os medicamentos utilizados na sedação estão os bloqueadores neuromusculares, que deixam o paciente paralisado durante o procedimento. No Amazonas o mais utilizado é o besilato de atracúrio, que precisa ser mantido com temperatura de 2 a 8 graus.
Com o aumento do consumo existe o risco de desabastecimento do produto. Para se ter ideia, uma pessoa que internada em UTI de Covid-19 utiliza de 10 a 60 frascos do medicamento por dia.
“O que nos preocupa é a capacidade da produção nacional, porque repetindo em outros Estados o que vem acontecendo no Amazonas poderemos ter desabastecimento nacional, caso a indústria farmacêutica não aumente a produção. O medo é que falte não apenas no Amazonas, mas também em outros Estados”, afirmou ao JAM o diretor da Central de Medicamentos, Cláudio Nogueira.
O governo do Amazonas busca uma cooperação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para adquirir esse tipo de medicamento e outros insumos fora do Brasil. “Na semana que vem deve ser assinado um termo de cooperação com a Opas. Isso é muito importante porque neste momento em que a pandemia começa a se agravar em outros Estados a tendência é haver a falta de medicamentos no mercado brasileiro”, afirmou o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo.
Em algumas cidades do Amazonas o desabastecimento já é uma realidade. Vídeos divulgados nas redes sociais mostrando pacientes com Covid-19 amarrados a macas por falta de sedativo chocaram o País.
Segundo apurou o Jornal Nacional, da TV Globo, pacientes inconscientes, intubados e em estado grave de Covid-19 do Hospital Municipal Jofre Cohen, em Parintins, a 370 km de Manaus, passaram o fim de semana amarrados nas próprias macas, com nós improvisados com gaze, já que não havia o sedativo para intubação.
A Defensoria Pública confirmou a autenticidade dos vídeos e afirmou que irá apurar a situação dos pacientes. “A Defensoria vai oficiar a prefeitura de Parintins, mas também a direção do hospital, para pedir esclarecimentos sobre o fato que as imagens retratam. A depender dessa resposta, a gente vai, sim, analisar e considerar a propositura de uma ação judicial”, afirmou ao JN o defensor público Rafael Barbosa.
Segundo a presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Suzana Lobo, diante da situação de não ter sedativos, o procedimento de amarrar o paciente não está errado e explicou ao JN o que pode acontecer quando acaba o efeito da sedação. “A primeira coisa que pode acontecer é uma autoextubação. O paciente tira o tubo e isso pode levar, inclusive, a uma parada cardíaca”.
Ainda de acordo com Suzana, “é desumano a gente pensar em uma pessoa que vai ser mantida em uma ventilação mecânica sem estar sob analgesia e uma boa sedação. Porque ela vai sentir desconforto, ansiedade, medo. E tudo isso pode levar, no futuro, a várias consequências traumáticas para ela”.
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Para o farmacêutico especialista em farmacologia e professor de Farmácia Hospitalar e Clínica do ICTQ –Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico Nelson Belarmino, a situação fora de controle em locais como o Amazonas está relacionada a dois fatores principais: excesso de demanda e gestão.
“Há, de fato, um aumento expressivo do consumo de sedativos. Em algumas cidades a demanda aumentou mais de 50 vezes. Isso cria um desequilíbrio no mercado”, assinalou Belarmino, lembrando, porém, que isso não explica totalmente a crise de desabastecimento vista no Amazonas.
“Assim como em outros setores, mas na saúde é mais crítico, é preciso gestão dos recursos, dos insumos e principalmente dos medicamentos. A redução da oferta não acontece de uma hora para outra. Quando se percebe um aumento da necessidade já se programa a compra antecipada ou, então, no limite, trata de racionar até que se consiga adquirir novas remessas do produto. O que não pode é deixar faltar”, frisa o professor do ICTQ.
Belarmino lembra que em uma crise sanitária como a pandemia o farmacêutico gestor tem que estar atento a todos os movimentos do setor. “Ao perceber que há um problema com determinado produto ou insumo, o gestor tem que se antecipar e buscar alternativas antes de ficar desabastecido. Ele tem que estar sempre dois passos à frente”.
O professor conclui lembrando que o gestor não tem controle sobre o desabastecimento do mercado. Mas se ele se tem uma programação regulada e adequada terá um fôlego até que o problema se resolva. “Em resumo: se há uma gestão eficiente você pode ter um problema, caso contrário você terá dois”.
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