Um projeto científico desenvolvido por cientistas russos pode ser a solução para a resistência desenvolvida por bactérias aos antibióticos, graças ao uso massivo desse tipo de medicamento, revelou o site Avicultura Industrial. O novo tratamento, batizado de terapia fotodinâmica antibacteriana (aPDT), promete facilitar a cura de feridas infectadas graves e de longa duração, queimaduras e outros focos de ameaça bacteriana.
Um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta atualmente na área de saúde é a crescente resistência que as bactérias têm desenvolvido à ação dos antibióticos, em virtude do uso massivo dessas drogas pelas pessoas e do consumo indireto, oriundo da ingestão de carne, por exemplo. Para se ter ideia, quase três quartos dos antibióticos comercializados no mundo são destinados à produção de animais para corte, apurou o Avicultura Industrial.
De acordo com a coordenadora acadêmica do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Juliana Cardoso, especialista em farmácia clínica e prescrição farmacêutica, a questão inquieta a comunidade científica. “É preocupante o fator da resistência bacteriana, problema que nos assombra há algum tempo e que tanto é discutido em meio aos profissionais de saúde”, frisa.
Debruçada para enfrentar esse problema e entender melhor sobre a aPDT, a equipe multidisciplinar de cientistas russos é composta por físicos do Prokhorov General Physics Institute, da Academia Russa de Ciências, e da Universidade Nacional de Pesquisa Nuclear MEPhI (Instituto de Física de Engenharia de Moscou), além de microbiologistas do Instituto Gamaleya de Pesquisa e químicos do Research Institute of Organic Semi-Products and Dyes, do MEPhI.
Os cientistas estão convencidos de que a solução para o desafio global das bactérias resistentes aos antibióticos passa pelo desenvolvimento da terapia fotodinâmica antibacteriana. De acordo com estudos, os patógenos não são capazes de desenvolver resistência a esse tipo de tratamento.
De acordo com os estudos, o efeito antimicrobiano da aPDT é baseado no uso de substâncias especiais, fotossensibilizadores, que são injetados no corpo e irradiados com luz, usando um emissor especial durante o tratamento. A energia luminosa resultante é transmitida às moléculas de oxigênio e as transforma em uma forma ativa que combate à infecção.
Os pesquisadores sugerem o uso de bacterioclorinas policatiônicas sintéticas como fotossensibilizantes. Ao contrário da maioria dos antibióticos, que visam apenas um tipo de bactéria, esses compostos têm efeito universal no tratamento aPDT. Por isso, os cientistas acreditam que a terapia poderá eliminar a necessidade de identificar o tipo de ameaça bacteriana na prática clínica, economizando tempo e recursos.
Segundo as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), qualquer medicamento que reduza o número de células do patógeno ativo em pelo menos 103 vezes é considerado um agente antibacteriano eficaz. Já para os cientistas do MEPhI, as bacterioclorinas que eles usam excedem esse número em pelo menos 10 vezes.
A eficiência da aPDT se deve à potente capacidade das bacterioclorinas de absorver luz e, posteriormente, transferir energia para o oxigênio presente no corpo. A rápida destruição das bactérias é garantida pelo efeito da forma ativa do oxigênio ‘carregado’ com a energia do fotossensibilizador. Além disso, as bacterioclorinas têm carga elétrica positiva em solução, o que, de acordo com estudos recentes, aumenta a eficácia dos fotossensibilizadores contra bactérias – tanto no estado livre como na forma de biofilme.
Por fim, as bacterioclorinas absorvem efetivamente a luz na faixa do infravermelho próximo. Os cientistas explicam que essa região do espectro contém a chamada ‘janela de transparência dos tecidos biológicos’, o que significa que a luz desse comprimento de onda pode penetrar muito mais profundamente nos tecidos do corpo. Ademais, a absorção de luz de pigmentos emitidos por certas bactérias patogênicas é reduzida neste espectro, permitindo que uma quantidade significativa maior de energia seja aplicada para ativar o fotossensibilizador.
Um dos problemas físicos no desenvolvimento da técnica de aPDT que os cientistas encontraram é a agregação do fotossensibilizador, ou seja, a formação de ‘caroços’ da substância que reduzem significativamente a eficácia da terapia. Os especialistas afirmam que têm realizado pesquisas-ação para combater esse fenômeno.
Os compostos químicos usados pela equipe de pesquisa como fotossensibilizadores já foram patenteados. A próxima tarefa dos pesquisadores são os estudos espectroscópicos de compostos estáveis de bacterioclorina com agregação mínima, bem como a preparação para testes em órgãos e tecidos de animais e humanos.
Segundo os pesquisadores, a técnica aPDT é capaz não só de acelerar a cicatrização, mas também proporciona um bom efeito cosmético. No futuro, a equipe espera desenvolver um medicamento à base de bacterioclorinas para uso em medicina humana e veterinária.
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Enquanto a nova terapia não está disponível em larga escala, algumas ações podem ser tomadas para reduzir os problemas causados pelo uso exagerado de antibióticos. E os farmacêuticos podem contribuir para isso, destaca Juliana Cardoso. “O farmacêutico clínico pode atuar juntamente com o apoio da equipe de saúde multidisciplinar em diferentes locais, com diversos tipos de pacientes. Desde uma leve amigdalite bacteriana até severas infecções hospitalares causadas por super bactérias”, diz Juliana.
Segundo a coordenadora acadêmica do ICTQ, o farmacêutico clínico está presente em vários contextos de saúde. “Na luta para diminuir a resistência bacteriana a antimicrobianos precisamos, primeiramente, avaliar o uso correto dessa classe farmacológica. Analisar desde a prescrição quanto à posologia e as possíveis interações medicamentosas que podem influenciar no resultado do tratamento, seja para beneficiar ou prejudicar o paciente. Além disso, deve-se avaliar o antimicrobiano escolhido de acordo com a sua patologia e bactérias envolvidas, por isso a importância do antibiograma”, salienta.
Outro passo é a educação farmacológica do paciente, segundo Juliana. “É preciso educar o paciente sobre a terapia, falar sobre a necessidade de seguir fielmente dias e horários prescritos, deixar claro que o uso individual é importantíssimo. Respeitar sempre o modo como foi prescrito e avaliado pela equipe multiprofissional e sempre estar à disposição do paciente para qualquer dúvida, esclarecendo sobre efeitos adversos, prestando auxilio durante toda a terapia, buscando, assim, a sua otimização e prevenindo sempre que possível a resistência bacteriana”, conclui a especialista.
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