Medicamentos conhecidos como inibidores seletivos da recaptação de serotonina, utilizados para depressão e ansiedade, têm potencial para reduzir inflamação causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e evitar danos aos órgãos, afirmam pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP, informou o Jornal da USP.
Atualmente, dois grupos de pesquisa realizam testes clínicos com fluoxetina e fluvoxamina em pacientes com Covid-19, nos Estados Unidos. Segundo os cientistas, que descreveram a pesquisa em um artigo de revisão publicado no European Journal of Pharmacology, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina e fluvoxamina) demonstraram ter potencial para inibir a inflamação causada pelo SARS-CoV-2 e a sua replicação, diminuindo os danos ao cérebro e outros tecidos do corpo.
“A serotonina é uma molécula produzida por neurônios do sistema nervoso central e por células do intestino. Ela está envolvida em diversas funções do organismo, desde a regulação cardiovascular e intestinal até o controle de funções comportamentais, humor e memória”, afirmou ao Jornal da USP o professor Luiz Guilherme Branco, que coordenou a elaboração do artigo, que teve como coautores Luis Henrique A. Costa, pós-doutorando da FORP e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Bruna M. Santos, pós-doutoranda da FORP.
“Inibidores de recaptação de serotonina são medicamentos que bloqueiam receptores específicos nos neurônios e permitem que a serotonina fique mais tempo disponível e exerça sua função biológica como neurotransmissor, ou seja, de fazer a comunicação entre os neurônios”, completou o professor.
De acordo com Branco, a “hipótese da serotonina” propõe, simplificadamente, que a depressão clínica resulta da atividade diminuída das vias serotonérgicas, isto é, dos neurônios que usam serotonina para transmitir informação entre si.
“Por outro lado, medicamentos inibidores de recaptação de serotonina, como a fluoxetina, têm sido usados para o tratamento de desordens psiquiátricas, como ansiedade e depressão”, revelou o professor. “Eles aumentam a biodisponibilidade de serotonina na fenda sináptica, que é a região dos neurônios responsável pela comunicação do sistema nervoso central”.
“Como a serotonina tem diversos efeitos, tanto no cérebro como nos tecidos periféricos, sugerimos o uso potencial dessa classe de medicamentos não apenas no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão, mas também como terapia complementar para diminuir a resposta inflamatória exacerbada induzida pelo SARS-CoV-2”, adicionou Branco, lembrando que “devido à ausência de um tratamento específico para a infecção pelo novo coronavírus há um esforço global para encontrar novas intervenções terapêuticas usadas no tratamento da Covid-19”.
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O professor aponta que uma característica importante da Covid-19 é a ativação de células imunes, que leva à produção massiva e liberação de moléculas sinalizadoras do sistema imune (citocinas pró-inflamatórias) que podem comprometer vários órgãos, inclusive o cérebro. “Anteriormente, nosso grupo de pesquisa na FORP verificou que a administração da serotonina no sistema nervoso central tem efeitos anti-inflamatórios tão marcados que há redução dos níveis de citocinas pró-inflamatórias no sangue e ausência da queda da pressão arterial, geralmente observada durante quadros que envolvem inflamação sistêmica severa”, acrescentou.
A pesquisa propõe que os medicamentos sejam usados como um tratamento complementar durante a infecção pelo novo coronavírus. “A ação imunomoduladora direta da serotonina, associada a outros mecanismos indiretos, pode efetivamente reduzir a resposta imune exacerbada e prevenir complicações da Covid-19”, salientou Branco. “Além disso, seria relevante considerar que os pacientes em terapia de longo prazo com inibidores de receptação de serotonina devem continuar o uso de seu medicamento quando hospitalizados devido à Covid-19”.
Ainda segundo o professor, já foi demonstrado que a fluoxetina inibe a infecção por SARS-CoV-2 in vitro, em testes de laboratório. “Seu efeito em pacientes é investigado em um ensaio clínico (NCT04377308) nos Estados Unidos”, destacou. “Outro medicamento dessa classe, a fluvoxamina, também está sendo avaliado nos Estados Unidos em pacientes com Covid-19 (NCT04342663) e os resultados preliminares são animadores, com diminuição de complicações respiratórias quando comparado com quem recebeu o placebo”, revelou.
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