Estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Patologia e Medicina Tropical da Universidade Federal de Goiás (UFG) descobriu um possível novo tratamento para a tuberculose, a partir dos venenos de escorpiões e das vespas. A análise constatou que a peçonha presente no corpo desses insetos (artrópodes) possui pedaços de proteínas conhecidos por peptídeos, uma substância que tem ação antimicrobiana.
A partir da modificação dos peptídeos, os pesquisadores desenvolveram um medicamento e o aplicaram em camundongos em testes contra várias doenças, com isso, obtiveram bons resultados no combate à tuberculose. Esses peptídeos protegem esses insetos de contágios, porque se fixam na parede das bactérias e não permitem que haja troca de nutrientes com o meio externo, fazendo com que os corpos bacterianos morram.
“Não tem como a bactéria montar um mecanismo de resistência”, disse a coordenadora do projeto e professora da UFG, Ana Paula Junqueira Kipnis, em entrevista publicada na revista Isto É.
Ela ainda fez uma comparação do medicamento em relação a outros antibióticos: “[Os antibióticos] têm que entrar na bactéria, interferir com enzimas no metabolismo para conseguir matá-la. A bactéria, no entanto, cria mecanismos para impedir a ação desses fármacos, jogando a droga para fora ou produzindo enzimas que quebram o remédio".
Transmitida pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch, a tuberculose é uma doença infecciosa, que atinge, principalmente, os pulmões e que se propaga pelo ar, por meio da fala, espirro e até da tosse de pessoas infectadas.
Em crianças, a doença pode ser prevenida com a vacina Bacillus Calmette-Guérin (BCG). Já em adultos, o tratamento é realizado com quatro fármacos e o paciente fica em observação direta. Tanto a vacinação como o tratamento são disponibilizados gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).
Em recente nota à imprensa, o Ministério da Saúde (MS) alertou sobre o atual panorama da tuberculose em território nacional: “No Brasil, a doença é um sério problema da saúde pública, com profundas raízes sociais. A epidemia do HIV e a presença de bacilos resistentes tornam o cenário ainda mais complexo. A cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose”.
Outras finalidades
Além do medicamento ter sido útil no combate à tuberculose, os pesquisadores da UFG detectaram que substâncias presentes no veneno da vespa servem para auxiliar no tratamento de pessoas infectadas com superbactérias, muito comuns em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais.
Entretanto, vale lembrar que os resultados do estudo ainda são preliminares. A aprovação de novos fármacos a partir de pesquisas da UFG pode demorar até dez anos. O medicamento precisa de patentes para registro e publicação dos estudos em revistas científicas, além disso, necessita passar por mais análises que comprovem sua eficácia. Inclusive, em fase final, deve ser submetido aos testes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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