O Senado Federal aprovou, em 19 de agosto, as indicações de três nomes para a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre eles o novo diretor-presidente, o economista Leandro Pinheiro Safatle. Também receberam aval os diretores Thiago Lopes Cardoso Campos e Daniela Marreco Cerqueira. A decisão ocorreu após sabatina na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e sucede o término do mandato de Antônio Barra Torres, encerrado em dezembro de 2024.
Safatle assume a presidência da Agência em um momento de grandes transformações no setor regulatório. Em sua fala, destacou que um dos maiores desafios é a incorporação de novas terapias para doenças raras no sistema de saúde brasileiro. Segundo ele, enquanto o mundo avança rapidamente com medicamentos cada vez mais específicos, o Brasil enfrenta obstáculos burocráticos e financeiros que dificultam a chegada dessas inovações à população.
“O ritmo das descobertas é intenso, mas nossos processos ainda são onerosos e lentos. Isso gera impactos diretos para os pacientes e para o próprio sistema de saúde, pois é preciso contar com um marco regulatório que acompanhe essa velocidade e permita avaliar não apenas a eficácia, mas também os preços dessas tecnologias”, observou.
Trajetória do novo diretor-presidente
Formado em Economia pela Universidade de Brasília, Leandro Safatle construiu carreira em instituições nacionais e internacionais. Foi consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Servidor público desde 2011, atuou em órgãos como a Fiocruz e a própria Anvisa. Mais recentemente, ocupava o cargo de secretário-adjunto de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde no Ministério da Saúde.
Ao comentar sobre os desafios externos, Safatle lembrou que o Brasil é um dos maiores adquirentes de tecnologias de saúde no mundo e que parcerias público-privadas têm sido fundamentais para driblar barreiras internacionais. Ele citou, por exemplo, medidas comerciais impostas por outros países que afetaram a entrada de medicamentos no Brasil. Segundo ele, a solução passa pela melhoria nos processos internos.
“Precisamos de mais agilidade para permitir que medicamentos e tecnologias cheguem mais rapidamente à população. Isso fortalece o SUS, movimenta a economia e garante acesso a quem mais precisa. O Ministério da Saúde é o principal articulador nesse processo, mas a Anvisa é peça essencial para que o sistema funcione de forma integrada”, afirmou.
Daniela Cerqueira e os desafios de modernização
Outra aprovada para o cargo na Anvisa é Daniela Marreco Cerqueira, bióloga formada pela Universidade de Brasília, com mestrado e doutorado em Biologia Molecular. Servidora de carreira da Anvisa desde 2006, tem especialização em Saúde Coletiva pela Fiocruz e atualmente ocupa a secretaria-executiva da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), responsável pela regulação econômica do setor.
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À CAS ela chamou atenção para a demora na análise de registros de novos medicamentos e procedimentos, defendendo mudanças estruturais para acelerar o processo sem comprometer a qualidade. “Temos um passivo acumulado ao longo de anos, agravado pela perda de servidores. Nenhuma medida isolada resolve esse problema, precisamos de um conjunto de ações externas e internas”, disse.
Daniela também ressaltou a necessidade de garantir preços acessíveis e mecanismos de custeio que viabilizem a distribuição de terapias de alto custo, sobretudo para doenças raras. Para ela, o papel da Anvisa é estratégico para equilibrar rigor científico e rapidez regulatória. “Facilitar o acesso da população a esses medicamentos é um dos maiores desafios atuais. É preciso trabalhar em conjunto para que as soluções sejam efetivas e sustentáveis”, completou.
Thiago Campos e a valorização da equipe técnica
O terceiro nome aprovado, Thiago Lopes Cardoso Campos, é formado em Direito pela Universidade Católica do Salvador, com especializações em gestão empresarial, gestão de políticas de saúde e direito sanitário. Atua como coordenador da consultoria jurídica da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e é conselheiro titular do Conselho Estadual de Saúde da Bahia. No Ministério da Saúde, ocupou cargos de gestão em secretarias voltadas à atenção e à educação em saúde.
Durante sua exposição, Campos reforçou que a Anvisa precisa retomar seu protagonismo e valorizar seu corpo técnico, que considera altamente qualificado, mas muitas vezes desestimulado pela sobrecarga de trabalho e pela lentidão dos processos.
“A Agência sempre pautou suas decisões pela ciência e tem nos servidores seu maior patrimônio. Mas é essencial que esses profissionais se sintam parte do processo, reconhecidos pelo valor que entregam à sociedade. Precisamos ampliar o diálogo com estados, municípios, a sociedade civil e os próprios funcionários para tornar a Anvisa ainda mais eficiente”, destacou.
Relevância estratégica da Anvisa
A aprovação dos três diretores ocorre em um contexto de intensas demandas regulatórias, em que a Agência se vê pressionada a acompanhar a velocidade das inovações na área da saúde sem abrir mão do rigor científico. A incorporação de novos tratamentos, vacinas e tecnologias exige da Anvisa a capacidade de responder de forma ágil e consistente, garantindo segurança, acesso e sustentabilidade ao sistema.
Safatle, Daniela e Campos apontaram em comum a necessidade de fortalecer a integração entre órgãos públicos, empresas nacionais, multinacionais e laboratórios públicos. Para eles, a atuação coordenada é o caminho para acelerar processos, manter a credibilidade da Agência e ampliar o acesso da população a tratamentos inovadores.
Com a aprovação, a diretoria colegiada da Anvisa ganha três integrantes que reúnem experiência técnica e institucional em diferentes áreas da saúde e da gestão pública. A expectativa é que os novos diretores contribuam para modernizar os processos internos da Agência e aproximá-la ainda mais das demandas da sociedade brasileira.
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