A Suíça é de causar inveja para a grande maioria dos brasileiros. É um dos países mais ricos do mundo e seu PIB per capita anual gira em torno de R$ 250 mil (o do Brasil é cerca de R$ 27 mil), com dados de 2105. Sua produção industrial é baseada no segmento farmacêutico, de produtos lácteos, relógios e máquinas.
Frente a tamanha pujança, já era de se esperar que a renda e os salários de sua população fossem os maiores do mundo também, e isso se aplica aos salários dos farmacêuticos, que giram em torno de R$ 25 mil.
Em suas andanças pelo mundo, o ex-presidente da Anvisa e do CRF-SP, e presidente do Conselho Cientifico do ICTQ, Dirceu Raposo de Mello, pesquisou as diversas facetas da farmácia na Suíça. Descubra todas as peculiaridades daquele país.
1 – Regulamentação do comércio farmacêutico
A agência suíça que regula os medicamentos se chama Swissmedic. Qualquer produto médico para humanos ou animais precisa ser aprovado pela agência para ser comercializado no mercado da Suíça. E isso só ocorre se os testes de qualidade, segurança e eficácia forem suficientemente avaliados e comprovados.
A lei federal sobre medicamentos e dispositivos médicos (Lei de Produtos Terapêuticos, TPA) é a 812.21, de 15 de dezembro de 2000, da Assembleia Federal da Confederação Suíça.
2 - Perfil das lojas
Na Suíça, as farmácias são chamadas de Apotheke. Elas mantêm um expediente bem diferenciado, ou seja, funcionam em dois períodos comerciais - manhã e tarde -, e fecham no horário do almoço e á noite. Quem precisar de um medicamento aos domingos ou fora do horário comercial, terá de se dirigir até as farmácias de aeroportos ou de estações de ônibus e trem para o atendimento.
Em todos esses estabelecimentos, os medicamentos ficam escondidos, longe da visão dos consumidores. Há a possibilidade de expor alguns medicamentos isentos de prescrição (MIPs) sobre o balcão, mas sempre com bula, e nunca em blisters.
Nas gôndolas, há somente itens de higiene pessoal, correlatos e cosméticos. Não há sequer vestígios de venda de produtos alheios à saúde nesses estabelecimentos, portanto, a ideia de drugstore está muito longe da realidade daquele país.
3 - Prescrição farmacêutica
Os farmacêuticos não fazem a prescrição, mas oferecem uma orientação bem consistente aos pacientes. Para o auxílio do farmacêutico, não há balconistas. Há técnicos em farmácia, com formação para tal.
De qualquer forma, cerca de 60% dos medicamentos comercializados na Suíça são de prescrição médica, e eles podem ser dispensados nas farmácias mediante apresentação de receita médica. A regulamentação é muito rigorosa.
Importante lembrar que é função do farmacêutico checar as possíveis interações medicamentosas das receitas múltiplas. Para isso, é muito comum que a população adquira seus medicamentos sempre na mesma farmácia (chamada de hausapotheke – farmácia de casa). Isso garante controle mais eficiente dos medicamentos de prescrição e de uso contínuo.
4 - Propriedade da farmácia
Apenas o farmacêutico pode ser proprietário das farmácias, e ainda há a hereditariedade da propriedade. Por conta disso, não há a possibilidade da formação de redes farmacêuticas. Como as farmácias na Suíça são, geralmente, o estabelecimento de saúde inicial para a busca de alívio de sintomas leves de doenças, os profissionais das farmácias possuem boa formação e oferecem um aconselhamento competente.
5 - Presença do farmacêutico
Há a presença obrigatória do farmacêutico durante as cerca de oito horas de expediente na farmácia, que fecha para o almoço do farmacêutico e de seus funcionários.
6 - Remuneração do farmacêutico
Independentemente de seu local de atuação, os farmacêuticos na Suíça ganham remuneração média mensal (salário, comissão e bônus) em torno de R$ 25 mil! O país é considerado um dos dez que oferecem a melhor remuneração para farmacêuticos no mundo!
Mas que ninguém se iluda! O governo suíço indica que apenas 9% da população economicamente ativa (330 mil suíços) recebem rendimento mensal inferior R$ 10.000,00, portanto, os salários altos não são privilégios apenas dos farmacêuticos naquele país!
7 - Curiosidade
Na Suíça, cerca de 80% dos custos com medicamentos são bancados pelos planos de saúde. Esses medicamentos constam de uma lista de especialidades, que contém todos os itens autorizados para tal. No entanto, apenas os medicamentos prescritos por médico recebem reembolso, e isso exclui os MIPs consumidos por conta própria, o que dificulta muito a prática da automedicação.
Geralmente o pagamento é feito via reembolso, mas há algumas circunstâncias em que o paciente mantém um cartão com um crédito pré-aprovado para o pagamento dos medicamentos.
Vale lembrar que as farmácias na Suíça também dispensam medicamentos genéricos, que custam cerca de 20% mais baratos que os de referência. Sendo assim, há a orientação para que os médicos prescrevam, sempre que possível, essa classe de medicamentos para efeito de reembolso.