A projeção da farmácia clínica no Chile se dá por conta dos diversos programas educacionais oferecidos pelas faculdades daquele país. Há os que defendam que lá há as melhores universidades de Farmácia Clínica do mundo, como a reconhecida Universidade do Chile.
Outro destaque do mercado farmacêutico chileno é a diferença de preços entre os medicamentos de referência e os genéricos, que é considerada enorme, e pode chegar a 2.000%.
Para conhecer um pouco melhor sobre a farmácia no Chile, o ex-presidente da Anvisa e do CRF-SP, e presidente do Conselho Cientifico do ICTQ, Dirceu Raposo de Mello, conta sua experiência naquele país, durante viagem em que pesquisou a farmácia e a legislação local. Acompanhe.
1. Regulamentação do comércio farmacêutico
Não há uma agência de regulação naquele país, nos moldes como é estabelecida a Anvisa no Brasil. Há uma espécie de secretaria, ligada ao Ministério da saúde, chamada Instituto de Salud Pública de Chile (ISP). Ele regulamenta a prática do comércio varejista e estabelece políticas e normas dos segmentos de saúde em geral.
O proprietário das farmácias no Chile não precisa ser farmacêutico. A legislação local permite a constituição de grandes redes de farmácias, que se estabelecem por todo o país. Há também farmácias menores, independentes. No entanto há a exigência do farmacêutico em tempo integral. Se a farmácia não tiver um farmacêutico presente, fecha as portas.
2. Perfil dos estabelecimentos farmacêuticos
No Chile, as farmácias são muito parecidas com as do Brasil. Há medicamentos prescritos dentro do balcão e há também os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) nas gôndolas, ao acesso da população. Aliás, no autosserviço podem-se encontrar muitos itens de higiene pessoal e cosméticos, mas não são permitidos itens alheios à saúde, como chinelos, roupas e doces, por exemplo.
Não há nenhum tipo de zoneamento que restrinja a abertura de farmácias nas localidades, por isso, elas são muito frequentes e próximas umas das outras, o que provoca uma acirrada competição por preços mais baixos. Há a predominância de grandes redes, sendo as três marcas principais a Ahumada, Cruz Verde e SalcoBrand.
3. Prescrição farmacêutica
O Chile se destaca por ter seus cursos de graduação em Farmácia voltados para a formação clínica e oferece diversos cursos de especialização nessa área, do qual têm participado profissionais brasileiros na busca de conhecimento e aperfeiçoamento. É incontestável que a formação de farmacêutico clínico tem sido maior no Chile, quando comparado ao Brasil, devido à sedimentação e valorização da farmácia clínica pelas universidades, e seu reconhecimento pela comunidade. Por conta disso, farmacêuticos prescrevem especialmente nos hospitais.
4. Remuneração do farmacêutico
O salário do farmacêutico gestor ou responsável técnico em farmácia no Chile gira entre R$ 3.938,00 a R$ 5.415,00 (de CLP 800.000 até CLP 1.100.000). Os salários na indústria e nos hospitais costumam ser cerca de 20% mais altos que no varejo.
5. A maconha na farmácia
Farmácias do Chile começaram a vender, em maio de 2017, medicamentos à base de cannabis. O país legalizou o uso de maconha medicinal em 2015, mas só disponibilizou o produto neste ano, por meio da distribuidora canadense de cannabis, Tilray, que se associou com a companhia local, Alef Biotechnology, que é licenciada pelo governo chileno.
Para a compra desses produtos, é necessária a prescrição médica. Eles só podem ser indicados como tratamento paliativo da dor, e não para uso recreativo. Os produtos do laboratório são o T100 e TC100, e estão sendo comercializados, inicialmente, em farmácia da capital do país, Santiago.
O preço médio de venda é de cerca de R$ 1.085,00 (CLP 207 219,251) para um tratamento que dura cerca de um mês.
Desde a aprovação da maconha medicinal no país, os pacientes apenas podiam obter o produto por meio da importação ou a partir de um número limitado de fazendas dedicadas à causa.