De acordo com dados da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), no Brasil, mais de 50% da população estão acima do peso (com sobrepeso e obesidade).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, fiquem obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderá chegar a 75 milhões, caso nada seja feito.
O farmacêutico clínico, Ulisses Silva de Lima, concorda que a obesidade já é tratada como um problema de saúde pública e vem sendo avaliada e estudada ao redor do mundo por vários profissionais da área da saúde. Ele ressalta que o farmacêutico tem um papel primordial no auxílio aos pacientes obesos.
Para o endocrinologista do Departamento de Atividade Física da Abeso, Fábio Moura, a prática regular de exercícios físicos, associada com uma alimentação adequada e o uso judicioso de medicações são os pilares do tratamento da obesidade.
“Em uma consulta, o farmacêutico deve avaliar todo o histórico do paciente, bem como o seu dia a dia. Ele deve se atentar a outras informações relatadas, pois sabemos que a obesidade pode desencadear diversas patologias, como a hipertensão (podendo acarretar infarto e derrame cerebral) e também doenças metabólicas, como o diabetes”, destaca Lima.
Ele ensina que no acompanhamento farmacoterapêutico realizado em pacientes obesos, o farmacêutico deve orientar o paciente sobre a farmacologia aplicada pelo profissional habilitado, caso o paciente faça uso de medicamentos prescritos por um endocrinologista, por exemplo. Deve orientar quanto ao uso racional e enfatizar a importância de uma alimentação saudável e equilibrada, livre de gorduras.
Medicamentos
“Para a redução do peso podem ser empregados anorexígenos (como a sibutramina, por exemplo) que pode ser associada a outros grupos farmacológicos, como benzodiazepínicos, diuréticos, laxantes, hormônios tireoidianos e estimulantes do sistema nervoso central”, sinaliza Lima.
A adesão ao tratamento combinado com exercícios físicos diários tem gerado resultados positivos, sendo que, o maior desafio neste acompanhamento é a falha na adesão ao tratamento e a falta de autoestima do paciente assistido.
Desde a primeira consulta, o farmacêutico deve colher informações necessárias e documentar no histórico do paciente para acompanhar sua evolução ou a não adesão.
O trabalho realizado pelo profissional farmacêutico deve ser informado ao médico prescritor, caso haja alguma interação medicamentosa entre os prescritos pelo profissional. Neste caso, o farmacêutico deve informar as interações medicamentosas ou a modificação nos horários de tomadas, caso estes sejam um dos fatores impactantes no tratamento e acompanhamento do paciente. Lima sugere um passo a passo do atendimento ao paciente obeso na farmácia. Acompanhe.
Passo a passo
1 - Primeiro o farmacêutico realiza a anamnese do paciente, quando faz um levantamento geral de informações importantes de sua dieta, histórico familiar, se faz uso de medicamentos (lembrando que todas essas informações devem ser anotadas ou registradas em softwares, como os de assistência farmacêutica).
2 - Feito isso, é de suma importância que o farmacêutico que está acompanhando o paciente com obesidade seja sutil em suas perguntas e coerente em suas decisões para que o paciente sinta-se seguro e o profissional consiga resultados satisfatórios no andamento do acompanhamento farmacoterapêutico.
3 - Existem softwares que auxiliam o farmacêutico a observar possíveis interações medicamentosas, como o micromedex solutions - uma ferramenta muito importante e que todos os profissionais devem utilizar.
4 - Caso seja detectado algum tipo de interação medicamentosa, o profissional prescritor deve ser contatado para que possa ser realizado um trabalho em equipe, em que o farmacêutico vai informar quais são os medicamentos que interagem entre si e sugerir uma substituição. Esse pedido deve ser realizado em três vias, uma via fica com o paciente, outra vai para o profissional e uma deve ficar retida via sistema ou arquivo.
5 - Mudanças nos horários em que o paciente faz uso dos medicamentos podem ser uma excelente alternativa, mas, em casos em que haja risco para o paciente, o profissional prescritor deve ser informado. Esse é um papel muito importante do farmacêutico - manter contato com o prescritor e acompanhar o paciente obeso.
6 – Instruir corretamente o paciente sobre uma dieta equilibrada e a prática de exercícios físicos adequados à condição de cada um, o que auxilia de maneira fundamental na perda de peso.
Alimentação correta
As nutricionistas do Departamento de Nutrição da Abeso, Mônica Beyruti e Renata Bressan, explicam que uma alimentação equilibrada e saudável é aquela que contém todos os nutrientes que o corpo precisa para funcionar adequadamente: carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e fibras. Ela também deve respeitar três regras fundamentais:
-Variedade: não existe um alimento que contenha todos os nutrientes necessários para uma boa saúde. Portanto, deve-se variar ao máximo os alimentos, para que o organismo possa absorver os mais diversos nutrientes;
- Moderação: não há alimentos proibidos; todos podem ser consumidos, desde que com moderação.
- Qualidade: significa comer mais alimentos que contêm vitaminas, minerais e fibras, e diminuir o consumo dos que possuem calorias vazias, como açúcares.
Um prato equilibrado prato deve conter:
Carboidratos: arroz (integral, 7 cereais, vermelho, negro, branco), batata (inglesa, doce), mandioquinha, mandioca, milho, macarrão (branco, integral);
Proteínas: carne magra, frango, peixe, ovos (omelete, cozidos, mexidos);
Gorduras: óleo para preparar os alimentos, azeite para a salada;
Vitaminas, minerais e fibras: hortaliças cruas e cozidas, frutas.
Atividade física
Pequenos detalhes podem fazer grandes diferenças em relação aos resultados obtidos com a prática de exercício físico no tratamento da obesidade. O farmacêutico tem papel preponderante na orientação básica sobre o assunto, principalmente com relação à duração, intensidade e prática de exercícios resistidos.
- Duração – Para a perda de peso (entre 2 kg e 3 kg) é fundamental a prática de 150 a 250 minutos de exercícios aeróbicos (corrida, natação, ciclismo, caminhada) por semana. Já para a perda de 5 kg a 7,5 kg é necessária a prática de 225 a 420 minutos por semana. Os indivíduos que praticam menos de 150 minutos por semana apresentam perda de peso mínima, não significativa, quando comparados aos indivíduos sedentários sob dieta hipocalórica.
- Intensidade - Estudos com o exercício intervalado de alta intensidade têm apresentado excelentes resultados, com melhora no condicionamento físico e maior perda de gordura corporal em relação ao modo convencional. Esse método consiste em praticar o exercício físico alternando períodos de alta intensidade (VO2 = 85/90 %) interpostos com períodos de recuperação, durante os quais o exercício é praticado em menor intensidade (45% a 50% da VO2). Por exemplo, correr rápido por 1 minuto e, em seguida, andar por 1 minuto, repetindo esses ciclos várias vezes.
- Exercícios resistidos - Embora em curto prazo os exercícios aeróbicos estejam mais associados com a diminuição do peso corporal, no médio e no longo prazos os exercícios resistidos (musculação) são imprescindíveis para a perda de peso, pois contribuem para a preservação da massa muscular, o que aumenta o metabolismo basal, ou seja, o gasto de energia pelo corpo.