Em 10% das 97 000 farmácias brasileiras faltam profissionais de saúde. E a procura vai crescer ainda mais
No ano passado, o mercado de medicamentos vendeu o equivalente a 58 bilhões de reais, e deve crescer mais 16,7% em 2014, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). É natural, portanto, que as maiores redes do Brasil acompanhem a demanda, abrindo unidades. Neste ano, uma nova drogaria será aberta todos os dias. E, para cada uma delas, são necessários dois farmacêuticos – ou cinco, nas lojas 24 horas. Considerando que há um déficit de 30 000 profissionais da área, de acordo com pesquisa do Instituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ), o momento é favorável para quem escolheu essa carreira. Há ainda uma distribuição irregular desses profissionais. “Hoje, há cerca de 350 cursos de farmácia no Brasil, mas 80 deles estão em São Paulo”, diz a professora Vladi Olga Consiglieri, do Departamento de Farmácia da Universidade de São Paulo. Para corrigir esse déficit e manter o ritmo de expansão, algumas empresas oferecem um pacote de migração que inclui pagamento da hospedagem nos três primeiros meses e incentivos financeiros aos profissionais dispostos a se mudar.
Os estados que mais sofrem com a falta dessa mão de obra ficam nas regiões Norte e Nordeste. No Piauí, por exemplo, há mais de 900 drogarias sem o profissional responsável. Lá, há um farmacêutico para cada 4 340 habitantes. Já no Espírito Santo, estado com maior proporção desse profissional, há um para cada 670 habitantes. Outro obstáculo para as contratações no setor é a perda da mão de obra para a indústria bioquímica. Enquanto isso, as redes de drogarias não param de crescer. Só a cearense Pague Menos, presidida por seu fundador, Deusmar Queirós, abrirá 80 pontos de venda, todos próprios. Ele pretende chegar a 1 000 unidades, em todos os estados brasileiros, nos próximos três anos. “Além dos farmacêuticos, esse crescimento, logicamente, afeta outras áreas da empresa. Vou precisar aumentar meu time de expansão, de operações, de compras e os 37 escritórios regionais”, afirma Deusmar. A Raia-Drogasil, fruto da fusão que deu origem à maior rede de farmácias do país, pretende abrir cerca de 130 unidades – de 30 a 40 delas serão instaladas na Região Nordeste.
Outras redes passam por uma fase de consolidação. A Extrafarma, originária das regiões Norte e Nordeste, foi adquirida no ano passado pela Ultra, empresa de combustíveis e gás de cozinha. Também em 2013, a CVS Caremark, maior grupo de varejo farmacêutico dos Estados Unidos – com 7 500 unidades naquele país –, comprou 80% das 44 lojas da Onofre. Agora, nos planos da rede está incluída a inauguração de 28 unidades até 2015. Mas a expansão do grupo no Brasil não para por aí. De acordo com as informações veiculadas na imprensa, a rede negocia, em segredo, a compra da Drogarias DPSP, que conta com 722 unidades espalhadas por todo o Brasil – um negócio de 4,5 bilhões de reais.