A maior parcela dos compradores de farmácias e drogarias é do público feminino, exerce atividade remunerada e pertence à classe c. Cinquenta e cinco por cento dos compradores de farmácias e drogarias são do sexo feminino e possuem em média 41 anos de idade. Os consumidores do sexo masculino somam 45%. A evidenciação deste dado foi revelada pela pesquisa Perfil do Consumidor de Medicamentos no Brasil 2013, realizada pelo Datafolha/ICTQ – Pós-Graduação para Farmacêuticos.
De acordo com o diretor executivo do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ), Marcus Vinícius de Andrade, os índices apontam para um perfil muito peculiar e devem trazer à tona novas reflexões, além de impor um desafio extra aos dispensadores de medicamentos, pois faz-se necessária a maior capacitação dos atendentes e farmacêuticos para o atendimento adequado a essa clientela, de maneira customizada, gerando maior satisfação e fidelização. Fato que aponta para uma nova forma de realização da Atenção Farmacêutica. “Os estabelecimentos que estiverem atentos a esse perfil com certeza terão condições de atuarem de maneira mais competitiva junto aos concorrentes.”
A farmacêutica responsável pela Farmácia Escola, do departamento de Farmácia da Universidade de São Paulo (USP) e professora titular do curso de Farmácia da Universidade Guarulhos (UnG), Maria Aparecida Nicoletti, comenta que a maior presença feminina em farmácias e drogarias, dentro do cenário brasileiro, se dá pela responsabilidade do cuidado da família. “Podemos entender, então, que na verdade as mulheres constituem grande parte da população ativa que trabalha e que aproveita o final de expediente profissional para as devidas aquisições.”
Os medicamentos prevalecem como produto mais comprado, todavia, é possível vislumbrar uma tendência crescente para o consumo de itens de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPC), sendo isso mais evidente nas cidades de Curitiba (PR), Goiânia (GO), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
Maria Aparecida lembra que o fato de termos atualmente um crescente consumo de itens relacionados à higiene e beleza tem algumas razões, como, por exemplo, as drogarias estarem mais estruturadas e com uma oferta de produtos diferenciados para vários tipos de necessidades. “A racionalização de tempo, particularmente em cidades de médio e grande porte está cada vez mais presente, então, o fato de as pessoas terem disponibilidade de aquisição de outros itens fundamentais da vida cotidiana colabora para que esse consumo seja crescente pela facilidade de se encontrar compartilhado em um mesmo espaço.
Dentre as praças (cidades) avaliadas pela pesquisa, Goiânia, no estado de Goiás, é a que apresenta a maior concentração de mulheres compradoras, com 60%; já o público masculino apresenta-se com maior evidência em Manaus.
NÍVEIS DE ESCOLARIDADE
A pesquisa mostra que 43% dos consumidores brasileiros têm grau de escolaridade médio; 34% tem nível fundamental e 23% superior, ou seja, o nível médio corresponde à maior parte da população.
Salvador é a cidade que detém o maior número de compradores de nível médio, com 57%; Recife tem a maior concentração de compradores com nível fundamental, 43%; já São Paulo e Curitiba são as praças de maior presença de compradores com nível superior, com 28% cada.
Marcus Vinícius de Andrade, do ICTQ, diz que a escolaridade pode ou não impactar o acesso às informações sobre o uso racional de medicamentos. “Isso não pode ser baseado exclusivamente no grau de escolaridade. Em alguns estados brasileiros, até médicos duvidam do medicamento genérico, por exemplo, por falta de conhecimento e informação.” O executivo acredita que um conjunto de fatores promovem consumidores bem informados. Dentre ele, a presença de um farmacêutico, na farmácia que faz questão de abordar e orientar o consumidor de medicamentos. “Apesar de muitos profissionais da saúde, principalmente médicos, optarem pela prescrição de medicamentos de marca, um conjunto de ações efetivas propostas pela Ministério da Saúde, em parceria com as indústrias de medicamentos genéricos e a atuação do profissional farmacêutico, vem proporcionando ao consumidor um maior esclarecimento acerca da efetividade dos medicamentos genéricos.” Para ele, a soma desses esforços traz ao consumidor o benefício de poder adquirir medicamentos de qualidade a preços mais acessíveis, reduzindo os gastos com medicamentos e espelhando uma tendência já vista em muitos países desenvolvidos.
A especialista da USP e da UnG, Maria Aparecida Nicoletti, ressalta que há inúmeras publicações científicas que evidenciam que muitos usuários de medicamentos não seguem o tratamento indicado, por falta de informação, ou seja, o número de administrações, quantidade do medicamento e período prescrito, muitas vezes, são traduzidos por um insucesso terapêutico. “O que se evidencia com frequência é a situação na qual o paciente percebe uma melhora de sua condição de saúde, e por conta própria acredita que poderá parar com a medicação, sem nenhum comprometimento para o problema de saúde apresentado. Em outros casos, o paciente resolve aumentar a dose e como consequência tem um quadro de agravamento de reações adversas. Enfim, há também os que se preocupam em seguir corretamente as orientações estabelecidas pelo profissional da saúde, entretanto, a educação em saúde deve ser uma prática a ser exercida constantemente com as pessoas, considerando que grande parte da população ainda desconhece noções básicas sobre administração de medicamentos.”
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Ela diz que infelizmente a população brasileira não tem ainda uma condição satisfatória de conhecimento a respeito dos problemas de saúde, e normalmente as pessoas não conhecem nem o seu próprio corpo. “É comum o questionamento do usuário do medicamento sobre a prescrição. Isso demonstra uma falha grave no sistema, entretanto, a dispensação ativa possibilita a interação direta do profissional farmacêutico com o usuário do medicamentos, permitindo que as lacunas de desconhecimento sobre a doença e o medicamento sejam sanadas.”
A população com disponibilidade de acesso ao desenvolvimento tecnológico apresenta algum diferencial em relação a conhecimento, mas não necessariamente relacionado ao uso racional de medicamentos. Maria Aparecida lembra que é preciso entender que uma parcela da população brasileira ainda não é alfabetizada ou apresenta muita deficiência na leitura, não conseguindo, inclusive, diferenciar um medicamento do outro. “O Brasil, por suas dimensões continentais, apresenta extremos em relação à formação e acesso à informação.”
RENTABILIDADE INFLUENCIADORA
A média de renda familiar (soma da renda de todos os membros da família) obteve índices de até cinco salários mínimos, que correspondem a R$ 3.053,00, (salário mínimo de R$ 622,00 – base de janeiro de 2012). 32,5% recebem até dois salários, 22% de dois a três, 20% de três a cinco, 13% de cinco a dez, 6% de dez a vinte, 2% mais de vinte e 4% se recusou a falar ou não sabia.
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Um outro estudo, realizado em setembro de 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que os gastos das famílias brasileiras com a compra de medicamentos correspondem a 48% de sua despesa média mensal familiar.
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A revelação de números como esses, apresentados pelo ICTQ e pelo IBGE, permite um conhecimento mais profundo sobre as proporções que o brasileiro destina da sua renda à compra de medicamentos. “É revolucionador, pois, pela primeira vez, se conhece a renda familiar dos consumidores de medicamentos e o quanto dessa renda está destinado ao consumo em farmácias e drogarias”, enfatiza Marcus Vinícius.
O executivo explica que os índices sugerem que os consumidores que possuem maior renda (classe A) são os que mais consomem e os que vão às drogarias com uma maior frequência (56% semanalmente ou quinzenalmente), contudo, esses consumidores, da classe A, não representam a maior parcela da população – somam apenas 5% dos entrevistados.
“O Brasil é uma nação classe C. Somos um país emergente onde 27 milhões de pessoas, em 2011, deixaram as classes D e E para se enquadrarem na classificação econômica C, transformando-a na maior fatia socioeconômica da atualidade. Convergindo com este dado, o estudo traz em seu conteúdo a informação de que 94% dos brasileiros consomem medicamentos, sendo a maioria pertencente à classe C.”
Setenta por cento dos compradores da farmácia têm atividade remunerada e 30% não. “Enquadram-se neste índice os aposentados, estudantes, donas de casa, os beneficiados com medicamentos gratuitos no Farmácia Popular etc. A renda destes é proveniente de fontes outras que não o exercício de atividade profissional remunerada diretamente, o que não os desqualifica como consumidores.”