Vendas de medicamentos sem comprovação de eficácia contra Covid-19 crescem quase 6.000%

Vendas de medicamentos sem eficácia contra Covid-19 crescem quase 6.000%

Mesmo sem comprovação de eficácia contra a Covid-19 e desaconselhados por entidades de saúde, medicamentos como a ivermectina cresceram 5.819% nas vendas e lideram nas principais farmácias de Manaus (AM), um dos epicentros da crise sanitária no Brasil, revelou A Crítica.

Segundo levantamento do jornal, a ivermectina e a vitamina C foram os medicamentos campeões de venda no mercado farmacêutico de Manaus. Apesar de classificados como ineficazes pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), esses medicamentos estão sendo utilizados como forma de prevenir a Covid-19.

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Entre os medicamentos mais vendidos na pandemia, a ivermectina recebeu o maior destaque, com crescimento de 5.819% para as caixas com quatro comprimidos e de 1.293% para as caixas com dois. Outros fármacos utilizados para tratar sintomas de síndromes gripais também tiveram aumento, como a dipirona, conhecida por amenizar dores de cabeça e baixar a febre, teve crescimento de 83% na caixa com dez comprimidos.

No que se refere às vitaminas, os percentuais variam bastante por conta das diferentes opções de marcas, mas em termos numéricos, no total, as três maiores redes de farmácia de Manaus (que representam mais de 50% do mercado local) venderam, juntas, mais de 800 mil vitaminas ao longo de 2020. O número abrange desde a popular vitamina C até as vitaminas D e Zinco, dentre outras, apurou A Crítica.

Além dos itens diretamente relacionados ao cuidado diário com a Covid-19, o Amazonas teve um aumento de 29% na venda de antidepressivos e estabilizantes de humor, consumo maior que a média brasileira. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) detalhou que quase 100 milhões de caixas de medicamentos controlados foram vendidos ao longo do ano passado, um salto de 17% em comparação a 2019.

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A coordenadora farmacêutica Sabrine Cordeiro explicou ao jornal que a alteração na lista de produtos mais vendidos deve persistir daqui para frente, embora com menor adesão. “Existe um padrão de saúde pública para cada doença, ou seja, você sabe como tratar e prevenir. Logo, como a Covid-19 não vai simplesmente sumir, o que aprendemos sobre o patógeno seguirá no futuro. Um exemplo é o do oxímetro, que antes era mais ligado aos profissionais de saúde. Hoje, é de extrema importância um paciente com Covid-19 monitorar a quantidade de oxigênio no sangue”.

Farmacêuticos sob pressão

Apesar da divulgação dos estudos comprovando que medicamentos como hidroxicloroquina e azitromicina, além da ivermectina, não têm funcionado contra a Covid-19, nos balcões das farmácias, os farmacêuticos tentam uma última tentativa de orientar os pacientes que apresentam prescrições desse tipo para não utilizar esses produtos, mas na maioria das vezes são rechaçados pelo consumidor.

Mesmo com essa pressão, de acordo com a coordenadora acadêmica dos cursos de pós-graduação do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, e especialista em farmácia clínica e prescrição farmacêutica, Juliana Cardoso, cabe ao farmacêutico fazer a devida orientação ao paciente, esclarecer sobre o uso do medicamento e suas complicações à saúde.

Juliana lembra que o uso indiscriminado desses produtos, na falha tentativa de prevenção à Covid-19 ou na intenção de aliviar os sintomas da doença, tem contribuído para a automedicação e o uso abusivo dessas drogas que, falsamente interferem na infecção ao coronavírus. Ela reforça as consequências que os fármacos podem acarretar à saúde, trazendo complicações graves ao paciente.

“Além de efeitos colaterais, que são efeitos diferentes daqueles considerados como principal por um fármaco, o indivíduo se expõe a uma chance de reação adversa, que se caracteriza como qualquer resposta prejudicial ou indesejável, não intencional, a um medicamento. Além dessas ações indesejáveis, os pacientes ainda se expõem ao risco de intoxicações, insuficiências hepáticas e até mesmo hepatite medicamentosa, que é uma grave inflamação do fígado causada pelo uso prolongado de medicamentos”, explica.

Conforme relatório publicado por entidades ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019, o uso excessivo de medicamentos pode levar a morte de 10 milhões de pessoas por ano até 2050. Além disso, as infecções resistentes a antibióticos já causam, pelo menos, 700 mil mortes todo ano. Dessas, 230 mil são por causa da tuberculose multirresistente.

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