Papel do farmacêutico no combate às doenças causadas pelo Aedes aegypti

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, de 3 a 4 milhões de pessoas poderão contrair o zika vírus em 2016 no continente americano. Desse total, 1,5 milhão de casos devem ser registrados no Brasil, onde as autoridades de saúde investigam a relação do zika com o aumento da ocorrência de microcefalia, anomalia que implica na redução da circunferência craniana do bebê, entre outras complicações, e a síndrome de Guillain-Barré, doença que atinge o sistema nervoso.

Zika é um dos vírus mais violentos transmitidos pelo Aedes aegypti, também responsável por passar dengue e a febre chikungunya, entre outras moléstias. Ele foi detectado em humanos no início da década de 1950, nas florestas da Tanzânia e Uganda. Não se sabe exatamente como se espalhou pelo mundo e chegou ao Brasil. Suspeita-se que sua entrada no País tenha se dado durante a Copa do Mundo de 2014, quando chegaram turistas de várias partes do mundo, inclusive de áreas tropicais com registro de contaminação pelo zika, como a África e a Polinésia Francesa, na Oceania. Apesar dos casos registrados nessas regiões, surtos epidemiológicos da doença como agora nunca haviam ocorrido.

Os primeiros casos confirmados de zika no Brasil aconteceram no Nordeste, no início de 2015. Ao longo do ano, os registros se espalharam para quase todo o País – apenas cinco estados não catalogaram casos autóctones: Acre, Amapá, Sergipe, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estimativas do Ministério da Saúde (MS) indicam que no ano passado podem ter ocorrido entre 500 mil e 1,5 milhão de infectados pelo zika. A enorme variação de cálculo se dá pela dificuldade de confirmação da contaminação, uma vez que oito em cada dez infectados não têm sintomas e, portanto, descartam a ida ao médico, não gerando estatísticas. Assim, as estimativas para o zika se baseiam no numero de casos de dengue na América Latina, onde foram registrados 2,3 milhões de infectados.

Em novembro, o MS decretou Situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, medida que fora adotada apenas em 1917, com a ocorrência de gripe espanhola. Entre as atitudes tomadas, o MS criou o Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes e à Microcefalia com medidas emergenciais para intensificar as ações de combate ao mosquito. O plano estabelece políticas de forma articulada, com o envolvimento de vários ministérios e conta também com parcerias de estados e municípios, com o objetivo principal de combater o mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika. Para fortalecer esta articulação, foi instalada a Sala Nacional de Coordenação e Controle para o Enfrentamento à Microcefalia, que tem como principal objetivo gerenciar e monitorar a intensificação das ações de mobilização e combate ao mosquito em todo o País.

A sala é coordenada pelo MS e funciona no Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil (CENAD) do Ministério da Integração. Segundo o MS, o governo mobilizou todos os órgãos federais para atuar conjuntamente neste enfrentamento, além da participação dos governos estaduais e municipais na força tarefa. Equipes multidisciplinares de médicos, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros profissionais de várias áreas da saúde, incluindo os serviços de Atenção Básica e Especializada, estão envolvidas diretamente nas campanhas.

“Um ponto crítico no combate às infecções causadas pelo Aedes é o diagnóstico dos casos suspeitos. Nesse sentido tem sido feito investimento no desenvolvimento e na aplicação de testes rápidos para o diagnóstico. A Vigilância Epidemiológica dos casos suspeitos, realizada pelo Ministério da Saúde, possibilitou a correlação entre o zika e a ocorrência de microcefalia. Há o desenvolvimento de cursos na modalidade de ensino a distância para preparar profissionais da saúde para a identificação, notificação e tratamento das febres transmitidas pelo mosquito. Outra iniciativa importante foi a criação da “Sala de Situação” para os gestores da saúde com o objetivo de organizar e divulgar iniciativas para o controle da dengue, zika e chikungunya”, destaca Josélia Frade, assessora da presidência do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e diretora de desenvolvimento do Fórum Farmacêutico das Américas, organização que reúne associações farmacêuticas nacionais, a OPAS e a Federação Internacional Farmacêutica.

Contudo, a especialista revela que existem críticas ao modelo vetorial utilizado pelo MS. “Sanitaristas e pesquisadores membros da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) questionam o modelo de controle vetorial do Ministério da Saúde, que é baseado em estratégias que têm sido usadas para combater a dengue durante 40 anos, com eficácia questionável”, diz Josélia. Além disso, segundo ela, nota técnica da Abrasco destaca a falta de integração entre as ações das Vigilâncias Epidemiológica, Sanitária e a Promoção da Saúde e as consequências do uso de produtos químicos de controle vetorial para a saúde humana. Fala também da desarticulação entre as políticas urbanas e de saneamento, a deficiência em ações intersetoriais no contexto socioeconômico e ambiental, especialmente nas zonas socialmente vulneráveis.

Zika, um quase desconhecido

Ainda não se conhece muito sobre a zika, mas as investigações dos mecanismos de infecção avançam e a vacina contra a doença já está em fase experimental, em que pese só estar disponível à população entre três e cinco anos. “É só conhecendo o vírus que poderemos combatê-lo” afirma Lúcia de Noronha, patologista pediátrica associada da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e professora de Medicina da PUC-PR, participante da pesquisa da PUC com o Instituto Carlos Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que pela primeira vez confirmou a capacidade do vírus de atravessar a placenta durante a gestação. “Com o estudo descobrimos que o zika é capaz de afetar os bebês através da placenta, ou seja, estamos compreendendo a fisiopatologia da doença, mas ainda temos muito a aprender sobre esse vírus”, diz Lúcia. “A possível correlação entre a infecção pelo zika e a incidência de microcefalia é uma questão séria e tem alarmado os gestores em saúde de toda a América Latina, com mais de 3.500 casos suspeitos registrados no Brasil entre outubro de 2015 e janeiro de 2016, em recém-nascidos de 684 municípios de 21 unidades federativas”, completa Josélia Frade.

No quadro atual de epidemia, todos os esforços para contenção da transmissão do zika são fundamentais. Por isso, lembra a SBP, a população precisa tomar providências contra o agente causador da doença. Eliminar focos de água parada, evitar viagens para os lugares com maior incidência do mosquito, usar repelente e roupas que cubram melhor o corpo, são alguns dos cuidados essenciais contra a propagação do mosquito e, consequentemente, das doenças causadas pelos vírus transmitidos por ele. Nesse contexto, o papel do farmacêutico é também muito importante. “No Brasil, somos cerca de 200 mil farmacêuticos atuando em mais de 70 áreas diferentes, e estamos espalhados pelos mais diversos pontos. Acredito que podemos ter um papel fundamental para esclarecer as dúvidas da população sobre as doenças provocadas pelo Aedes aegypti, por conta do conhecimento técnico e da questão geográfica”, afirma Marcus Athila, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ).

“Os farmacêuticos são os profissionais da saúde mais próximos e acessíveis à população, por isso é importante que estejam engajados nessa luta, seja repassando aos pacientes as informações corretas de combate ao vetor, no esclarecimento quanto aos riscos da automedicação, até a orientação quando da necessidade de o paciente buscar pelos serviços de saúde”, frisa Ernestina Rocha, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Goiás (CRF-GO). Uma questão comum entre as pessoas é se farmacêutico pode prescrever algum medicamento nos caso de suspeita de zika, dengue ou chikungunya. Marcela N. Silva Oliveira, coordenadora farmacêutica da Ultrafarma, esclarece que a orientação vale mais do que a indicação terapêutica. “O farmacêutico pode realizar uma entrevista com o paciente, para avaliar os sintomas que estão sendo relatados, sugerindo a avaliação médica. Em termos de medicação, vale observar que medicamentos à base de ácido acetilsalisílico e anti-inflamatórios não esteroidais (ibuprofeno e naproxeno) não devem ser utilizados em caso de suspeita de dengue. E o paracetamol em doses exageradas também pode ser prejudicial aos pacientes com suspeita de dengue, uma vez que podem ocorrer graves danos hepáticos.”

Cristiane Macedo Feijó, coordenadora técnica da Pague Menos, destaca também os cuidados com os repelentes que os farmacêuticos precisam passar aos clientes. De acordo com o Ministério da Saúde, três substâncias são capazes de afastar o Aedes aegypti: icaridina, IR3535 (etil butilacetilaminopropionato) e Deet (dietiltoluamida). “O problema maior são as crianças. Os repelentes à base de icaridina são os mais indicados para os pequenos, em especial para os que têm menos de dois anos, porque ele tem maior tempo de duração na pele”, revela Cristiane, que, contudo, faz uma ressalva. “Já para aqueles que têm menos de seis meses nenhum composto é indicado com segurança, pois pode provocar intoxicação, uma vez que a pele do bebê é muito sensível e sua área corporal é pequena, o que aumenta mais rapidamente a absorção. Nesses casos, a melhor opção é a barreira física, como telas e cortinas nas janelas, de forma a impedir a entrada dos mosquitos.” Em determinados casos, tendo em vista os riscos de contágio em algumas regiões do País, médicos estão liberando o uso da icaridina para crianças menores de um ano, desde que sejam acompanhadas regularmente.

Farmacêutico no foco

“Entendemos o farmacêutico como um profissional de saúde chave para a educação e orientação da população, prestando informações confiáveis em relação à doença –transmissão, sinais e sintomas, diagnóstico e necessidade de notificação compulsória, evolução clínica e possíveis complicações relacionadas – e orientando medidas práticas para prevenção e manejo sintomático”, sublinha Josélia Frade. “Lembramos que muitas informações inverídicas têm sido propagadas pela mídia, com especulações relacionadas a outras origens etiológicas dos casos de microcefalia, por exemplo, e essas podem causar estado de pânico na população. É dever do farmacêutico ser referência para a população neste momento, e o CFF está preparando o profissional para isso, com a divulgação de documentos oficiais”, diz a assessora.

De acordo com Josélia, o CFF estabeleceu um grupo de trabalho, composto por especialistas da área epidemiológica, para elaboração de materiais tecnocientíficos para os profissionais de saúde e pacientes. “Elaboramos recentemente um folder educativo para o farmacêutico, com informações essenciais quanto à identificação de sinais e sintomas diferenciais da dengue, zika e chikungunya, medidas preventivas e gestão sintomática dos casos já diagnosticados. Um folder análogo foi elaborado para o paciente, com linguagem simples e orientações confiáveis”, revela Josélia, destacando que se encontra em fase de elaboração um protocolo de prática clínica voltado à dengue, zika e chikungunya, que irá ajudar o farmacêutico a selecionar a melhor conduta, de acordo com as necessidades apresentadas pelos pacientes.

O CRF-RJ informa que tem várias ações de esclarecimento sobre o combate ao Aedes aegypti programadas, entre elas, está a participação no Dia Nacional da Mobilização contra o mosquito, 19 de março, com a palestra "O manejo clínico do paciente com dengue, chikungunya e zika” e a distribuição da cartilha de orientação aos farmacêuticos produzida pelo CFF. “Nosso objetivo é transformar cada farmácia num ponto avançado de combate ao Aedes aegypti. Muitas vezes o farmacêutico é o primeiro procurado por pacientes com zika, dengue ou chikungunya. E isso ocorre devido ao acesso fácil nas farmácias. Vamos usar isso no combate ao mosquito”, sublinha Marcus Athila. Já o CRF-GO disponibilizou no site e na redes sociais um folheto eletrônico com informações e orientações de combate ao mosquito, bem como orientações sobre sinais e sintomas da dengue, febre chikungunya e zika. Em janeiro, o CRF-GO realizou palestra sobre as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, “O papel do farmacêutico no contexto atual”, e programou para 18 de março outra palestra: “Orientações farmacêuticas em casos suspeitos de dengue, chikungunya e zika”. Além disso, participa da campanha do CFF “Farmacêuticos em Ação - Todos contra o Aedes Aegypti”.

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