Outro dia fiz uma palestra, quando, ao final, um participante me perguntou:
- Dr. Marcos, como o senhor acha que será a profissão farmacêutica em 10 anos?
Minha resposta?
- Não tenho ideia.
Estamos em uma época em que a tecnologia não espera. As inovações tecnológicas estão aí, invadindo, sem pedir licença, todas as áreas do conhecimento humano de uma forma cada vez mais rápida e insinuante. Inteligência artificial, nanotecnologia e internet das coisas são alguns exemplos das mudanças reais em nosso horizonte.
No setor farmacêutico não será diferente. A inovação é processo. E, como processo, não para. Todos os dias sentimos os novos impactos tecnológicos em nossas atividades profissionais.
Seja no desenvolvimento de medicamentos, em que a biotecnologia já é uma realidade e a nanotecnologia avança a passos largos, seja na área hospitalar, em que novos equipamentos surgem, modificando e melhorando a saúde das pessoas, propiciando melhores diagnósticos, cirurgias mais precisas, tratamentos mais eficazes, seja nos laboratórios de análises clínicas, onde novas tecnologias e equipamentos de diagnósticos rápidos, precisos e até mesmo a distância surgem constantemente.
E, mais recentemente, nos estabelecimentos farmacêuticos que realizam a dispensação - local onde o farmacêutico exerce uma de suas atividades mais importantes, a de prestar assistência farmacêutica à população - a tecnologia também chegou e agora avança rapidamente. Algumas redes já investiram em sistemas automatizados que, ao mesmo tempo, nos assombra e nos estimula.
Ainda para as farmácias surgiram aplicativos que ajudam pacientes a encontrarem estabelecimentos e medicamentos próximos de suas residências, o que muda a forma de pensar a Assistência Farmacêutica.
Testes rápidos in loco e a distância estão sendo incorporados aos serviços oferecidos, assim como equipamentos que ao mesmo tempo aferem pressão arterial, batimentos cardíacos, hemoglobina e hematócrito e muito mais.
Agora, com a telemedicina, como isso poderá influenciar na profissão farmacêutica?
Há empresas de telemedicina oferecendo disponibilizar pontos de atendimentos médicos on line, para ajudar nas consultas farmacêuticas. Ou seja, há muitas mudanças em curso.
É natural que, diante dessas mudanças, surjam muitas dúvidas sobre o futuro da profissão.
Muitos se perguntam:
- Como e onde fica o Farmacêutico nesse cenário de mudanças tecnológicas?
Essa pergunta é importante.
Estamos em 2019. Não podemos mais olhar a profissão e a farmácia pelo retrovisor. A farmácia não é e não será mais apenas um comércio. A farmácia é um estabelecimento de saúde e, por isso, a tecnologia alcançará essa atividade. Não há como fugir dessa realidade, nenhum setor produtivo fugirá.
Mas, com tanta tecnologia surgindo, como controlar esses processos? Como regulamentar essas atividades? Sim, porque é necessário regulamentar novas atividades, novas tecnologias.
A RDC 44, que regulamentou alguns serviços farmacêuticos, completará 10 anos agora em 2019. De lá pra cá, o mundo mudou, estima-se que no Brasil tenhamos em torno de 260 startups com inovações tecnológicas na área de saúde.
Frente a essa realidade, é preciso perguntar:
- As Resoluções Sanitárias que regulam o funcionamento das farmácias ainda servem para o momento atual?
- E as Resoluções profissionais, atendem a esse momento da profissão farmacêutica?
O futuro da profissão passa por essas respostas.
Não há mais espaço para que as Resoluções Sanitárias durem 10, 15 anos. Os tempos atuais não permitem que isso seja possível. Da mesma forma, não podemos continuar atuando em nossas áreas sem olharmos para as novas tecnologias e decidirmos se serão ou não incorporadas em nossas atribuições profissionais.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, assim como o Conselho Federal, não podem mais demorar, sob pena de que o mercado se autorregule e os profissionais farmacêuticos fiquem a margem, sem saber o que podem ou não fazer. Isso já está acontecendo...
Por isso, as lideranças farmacêuticas devem se colocar a pensar, de que forma vamos responder à pergunta:
- Como será a profissão em 10 anos?
Ou então, vamos continuar a responder:
- Não sei ainda.
A hora de mudar é agora!
*Dr. Marcos Machado é farmacêutico e presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP).