Acredito que a curiosidade lhe trouxe até este artigo, afinal o tema é, no mínimo, polêmico. Em tempos de lava-jato e de corrupção escancarada, torna-se cada vez mais difícil desenvolver um debate político sério, não partidário, produtivo e baseado em propostas. O clima de animosidade tomou conta da vida real e, consequentemente, da virtual. No momento em que você lê este artigo, outras 10 pessoas que não se deram ao trabalho de iniciar a leitura destilam sua ira em relação a algum candidato presidencial, apresentado propositalmente na imagem que ilustra esta coluna. A intenção de estampar a coluna com alguns presidenciáveis foi justamente essa: gerar engajamento. Porém, antes de desenvolver meu artigo, façamos um alinhamento de expectativas: leia novamente o título da matéria. Isso mesmo, não iremos nos ater a nomes. O importante não é em quem votar, mas COMO VOTAR.
Comecemos com um exercício simples: em quem você votou para deputado estadual na última eleição? Hummm...teve que pensar muito? Não se lembra? E se eu perguntar: em quais candidatos você votou para conselheiro do Conselho Regional de Farmácia do seu estado? Quais propostas para a classe farmacêutica levaram você a este voto? O raciocínio utilizado para votar nas eleições para o maior cargo executivo nacional, também se aplica ao legislativo estatual e ao CRF do seu estado. Em grosso modo, numa democracia, a lógica do voto se baseia no princípio da representatividade, ou seja, você deve votar num candidato cujas PROPOSTAS vão ao encontro de seus anseios, você deve votar em alguém que lhe represente. Fiz questão de grifar a palavra “propostas” porque aí reside a chave da questão. Infelizmente, a lógica da afinidade propositiva não tem sido a forma de escolha da maioria dos eleitores. Nos dias atuais, vota-se pela influência de Fake News, de “memes” em redes sociais e de discursos rasos que determinados candidatos proferem sobre temas complexos, como segurança, educação e saúde pública. Os eleitores buscam um salvador da pátria, um messias, o qual definitivamente não virá.
Não se pode ser a favor da reforma da presidência e votar num candidato que é contra, e vice-e-versa. Mas acredite, isso é mais comum do que você imagina. O segredo do “como votar” para presidente é, antes de mais nada, criar uma opinião pessoal sobre os grandes temas nacionais e procurar candidatos alinhados com estas opiniões formadas. Isso deve ser feito nos níveis municipal, estadual e federal. Votar é um verbo. Logo, ele requer uma ação do sujeito, e esta ação é o estudo e o aprofundamento nas ideias e propostas dos seus candidatos. Só assim escolheremos corretamente os nossos representantes. Enquanto votarmos em “memes”, seguiremos inertes, deitados eternamente em berço esplêndido.
Agora gostaria de trazer essa discussão, em definitivo, para o meio farmacêutico. Não é raro encontrarmos em nosso meio profissional críticas ferrenhas às organizações de classe e às autarquias que nos representam e que defendem os nossos interesses. Até aqui tudo normal, criticar e acompanhar o mandato dos representantes eleitos é saudável para o sistema. O que não é saudável é fazer críticas vazias a representantes vazios, os quais não possuem propostas e, consequentemente, não apresentarão resultados. Errado é votar por afinidade ou por medo de mudança e depois reclamar que a profissão não avança. Falho é votar em candidatos que possuem uma visão profissional diferente da sua e esperar o cumprimento de um mandato que vá ao encontro de seus anseios.
Espero, com sinceridade, que nas próximas eleições para escolher nossos governantes e aqueles que representarão profissionalmente a classe farmacêutica, você vote em propostas e não em rostos carregados de photoshop. Que nosso voto não seja conduzido por interesses menores ou discursos retóricos. Que possamos ter a consciência limpa para cobrar o cumprimento das propostas feitas pelos representantes que receberam nossos votos e, caso o nosso candidato tenha saído perdedor do pleito, criticar, com base em argumentos, as ações do candidato vencedor, reconhecendo acima de tudo a legitimidade do mesmo. Enquanto nós, cidadãos, não entendermos que entramos num ciclo vicioso, numa corrida de ratos, onde elegemos aqueles que criticamos e depois o reelegemos para continuar criticando, nós continuaremos a ser financiadores do sistema. E o sistema...o sistema é f#d@!>
*Professor do ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico), Bacharel em Farmácia, Administração de Empresas e Ciências Contábeis. Atua como consultor em gestão de varejo farmacêutico e é autor dos livros “Gestão Estratégica para Farmacêuticos” e “A Arte da Guerra para Farmacêuticos”.