Durante este ano, seja no trabalho de divulgação do meu livro, em palestras ou ministrando aulas de pós-graduação, tive a oportunidade de conhecer inúmeros companheiros de profissão e farmacêuticos de todas as regiões da federação. Porém, algo me chamou muito a atenção: o despertar da liderança profissional. Por isso, decidi abordar esse tema em minha coluna exlusiva no portal ICTQ.
Afinal, o que é liderança? Por que devemos, profissionalmente, nos aprofundar no estudo desse tema? Talvez o mais simples e verdadeiro conceito de liderança tenha sido dado pelo famoso guru da gestão, Peter Drucker: “líder é alguém que possui seguidores”. O profissional farmacêutico precisa se apoderar cada vez mais deste conceito, tornando-se capaz de influenciar as pessoas a sua volta, e colocando-se como referência profissional em todas as suas áreas de atuação, perante companheiros de trabalho e pacientes.
Muitas das dificuldades enfrentadas por profissionais farmacêuticos são oriundas do não exercício de liderança. A falta de liderança pode acarretar desde baixa credibilidade frente ao paciente numa consulta ou orientação farmacêutica até a incapacidade de gerenciar uma equipe de trabalho. Uma pesquisa realizada pelo ICTQ, em parceria com o Instituto Datafolha, mostrou que o atendimento farmacêutico está em sétimo lugar entre critérios de escolha de uma farmácia por parte do cliente, atrás dos quesitos: preço, localização, atendimento dos vendedores, confiança no estabelecimento, hábito e variedade de medicamentos. Aonde muitos veem a ação de uma lei de mercado eu vejo consequências de anos sem exercício da liderança. É com satisfação que escrevo este artigo para anunciar a mudança desta realidade.
Voltemos à teoria sobre liderança, apenas os conhecimentos técnicos, aprendidos na faculdade não são suficientes para o exercício pleno da profissão farmacêutica, a estes conhecimentos precisamos somar três forças, que juntas formam um líder, são elas:
a) A força da ação: o verdadeiro líder é um “fazedor” e ensina pelo exemplo. A proatividade é uma das características mais valorizadas no mercado de trabalho atual. Não existe liderança sem ação.
b) A força das relações: o líder domina a arte do relacionamento, sendo capaz de colocar em segundo plano as diferenças pessoais e canalizar o relacionamento interpessoal em prol de um bem maior. O
líder sabe ouvir o próximo e é capaz de exaltar as qualidades das pessoas com as quais convive, neutralizando seus defeitos.
c) A força do conhecimento: não existe liderança sem conhecimento. As pessoas seguem e acreditam naqueles que mostram saber o que estão fazendo. É preciso emanar domínio técnico da profissão, e para isso é preciso autoconfiança.
Estas três forças nos trazem uma boa notícia: a liderança não é nata e pode ser desenvolvida, o caminho para se tornar um líder passa por ser proativo, cultivar relacionamentos e emanar conhecimento. Afirmo com satisfação que tenho percebido, cada vez mais, essas características por todo o Brasil...daí o meu entusiasmo.
No nosso País, durante muito tempo, a profissão farmacêutica esteve em segundo plano, fora dos holofotes. Por mais que busquemos culpados por uma condição profissional desprivilegiada que figurou num passado recente, não os encontraremos. A verdade é que a falta de liderança profissional, de brilho nos olhos e entusiasmo, por décadas, maculou a imagem da farmácia brasileira.
Pois bem, isso ficou para trás, agora muitos olhos brilham. Temos o medicamento genérico, a prescrição farmacêutica, a lei 13.021/14 (que trata a farmácia como unidade de prestação de serviços voltados para assistência à saúde) e um interesse crescente pela gestão farmacêutica. Não faltam temas para serem discutidos e tampouco profissionais que durante uma palestra, ou mesmo nas redes sociais, erguem o dedo para colocar sua opinião, defender seu ponto de vista e exercer sua liderança profissional. Farmacêuticos estão assumindo seus lugares nas clínicas farmacêuticas, retomam o protagonismo na frente de loja do varejo farmacêutico, se orgulham de bordar a palavra FARMACÊUTICO e o nome no bolso dos jalecos, tornam-se imprescindíveis no bilionário mundo da indústria farmacêutica e debatem as eleições para seus representantes de classe.
Enfim, lideranças surgem por todo o País, nas mais diversas áreas, revigorando nossa profissão. As cabeças não estão mais baixas e os olhares flertam com o horizonte. Nós retomamos as rédeas da Farmácia e não a largaremos mais. Somos farmacêuticos, somos líderes e vamos implantar nosso novo conceito de liderança: líderes são aqueles que formam líderes. A próxima geração olhará para cima!
Leonardo Doro Pires é professor do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, autor do livro Gestão Estratégica para Farmacêuticos e consultor em gestão e estratégia farmacêutica.