Gel à base de 'crajiru' acelera cicatrização de feridas em pacientes oncológicos

Uma folha avermelhada, popularmente conhecida como "chica" ou "crajiru", é a protagonista de um tratamento — em fase de testes — contra inflamações dolorosas na boca de pacientes com câncer no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.

O nome científico da planta é Fridericia chica, uma espécie nativa da Amazônia e Mata Atlântica, mas que pode ser encontrada em todo o Brasil. Ela tem "propriedades antioxidantes maravilhosas", que permitem cicatrizar feridas de forma muito rápida, segundo a pesquisadora Mary Ann Foglio, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp.

“O que a gente observou? Que esse produto é capaz de fechar e cicatrizar essas feridas em um tempo mais rápido. Ele tem uma ação estatisticamente duas vezes mais rápida do que o laser utilizado”, explica a pesquisadora.

Câncer e mucosite oral

Em fase de testes clínicos, o gel vem sendo usado em pacientes oncológicos porque os tratamentos de quimioterapia ou radioterapia podem gerar a mucosite oral – grandes feridas na cavidade interna da boca.

A lesão aumenta o risco de infecções locais ou que podem se espalhar pelo corpo, levando à diminuição da qualidade de vida dos pacientes, prolongando a hospitalização e até levando à morte.

Os testes começaram no ano passado de forma randômica. Ou seja, alguns pacientes recebiam tratamento convencional com laser e outros recebiam o gel cicatrizante à base de "chica". E os resultados foram surpreendentes, segundo a pesquisadora.

No geral, a ação tem sido ao menos duas vezes mais rápida do que o tratamento convencional feito com laser, que chega a durar 15 dias. E há casos em que pacientes conseguiram ter as feridas curadas em apenas dois dias.

Para chegar ao gel cicatrizante, foram mais de 20 de estudo, que combinaram pesquisas químicas, agronômicas, farmacológicas e até relatos de populações locais.

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As folhas foram coletadas de todos os cantos do Brasil, plantadas sob as mesmas condições e seu comportamento foi estudado mês a mês.

“Eles já falavam que era interessante para cuidar de infecções, como também para cicatrização”, conta Mary Ann a respeito dos relatos populares.

A partir daí, o grupo encontrou, dentro de 39 amostras, aquela que produzia maior teor de antocianinas — é este elemento que dá à planta a cor vermelha e, também, tem a propriedade antioxidante e anti-inflamatória.

A partir dela, passaram a desenvolver uma fórmula para criar o remédio fitoterápico. A etapa veio com um desafio: apesar do efeito cicatrizante, o produto também degrada muito rápido. A busca passou a ser desenvolver um produto que aguentasse a temperatura ambiente.

“Por que isso? Porque se você for pensar economicamente, todos os produtos que precisam de geladeira aumentam muito o custo. E aí não é interessante. E o nosso grande interesse é poder oferecer isso inclusive para o SUS”, conta a pesquisadora.

A saída que encontraram (até o momento) foi oferecer o remédio em forma de gel mucoadesivo. Ele é disponibilizado em pequenos sachês que, depois de aberto, aguentam pouco tempo, mas o suficiente para agir nas feridas.

Além do efeito cicatrizante, o gel também alivia a dor.

“Ele tem um efeito anestésico, é muito agradável porque a dor e aquela ardência passam também", relata Foglio.

Os pesquisadores também afirmam que ele tem outro "benefício": o gosto de chá preto.

Segundo a pesquisadora, as propriedades antioxidantes da planta podem ser usadas para diversos tipos de tratamentos cicatrizantes. A escolha pelos pacientes oncológicos se deu por uma possibilidade de parceria com a Unicamp e pela gravidade da lesão na qualidade de vida dos pacientes.

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Desafio da indústria

Segundo Mary Ann, um dos maiores desafios é escalar a produção do gel para atender maiores demandas e, um dia, conseguir atender ao SUS. É por isso que a faculdade tem buscado parcerias com indústrias.

“Aqui no laboratório, a gente consegue produzir extrato a partir de 5 kg de planta. Então, agora, o grande desafio com essa empresa é aumentar a escala para bateladas de 50 kg de planta”.

E, em paralelo, pesquisadores também estão prospectando quem possa produzir a planta em maior escala.

 

Chegar ao SUS: um sonho

De origem argentina, Mary Ann Foglio morou em diferentes lugares até que encontrou no Brasil um campo fértil para realizar suas pesquisas.

A professora estuda a planta há mais de vinte dois anos. E tem a certeza de que seguirá estudando por todo o tempo que puder, até conseguir oferecer o produto fitoterápico ao SUS.

“Ter visto as pessoas que passam pelo tratamento de câncer, o sofrimento que eles passam, pessoas necessitadas que estão no SUS... O meu desejo é poder oferecer isso, devolver tudo o que o Brasil me deu. O Brasil me deu educação, pagou minha faculdade, me formou na pós-graduação. Poder devolver ao país minha gratidão, oferecendo um produto que, de fato, traga bem-estar e qualidade de vida para essas pessoas que estão nesse momento tão frágil da vida”, comenta emocionada a professora.

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