Poluição é desperdício e aumenta o custo do produto ou do serviço, sem agregar valor. Para ampliar a capacidade de competição, muitas empresas adotam o sistema de manufatura Produção Enxuta, em inglês Lean Manufacturing ou Lean Production, cuja essência é a ausência de desperdício. No cenário brasileiro, estas mesmas empresas necessitam de soluções complexas e caras para o atendimento da regulamentação de leis de controle ambiental cada vez mais severas. É neste contexto que o conceito de poluição passa a ser entendido como desperdício e uso ineficiente de matérias-primas e insumos, os quais se refletem na eficiência econômica do processo produtivo. A gestão ambiental na indústria passa a ter, portanto, um papel relevante no que concerne à redução dos custos de produção. Além dos custos diretos decorrentes da poluição, somam-se os custos indiretos gerados por multas por infrações à legislação ambiental, atrasos de produção devido a interdições e ações judiciais promovidas pelo Ministério Público, além de indenizações e multas em caso de acidentes com danos ambientais.
Neste sentido, o gerenciamento dos recursos de produção para obter maior produtividade é um dos mais importantes elementos da atuação dentro de uma indústria. Recursos de produção são as matérias-primas e os insumos (água, energia, combustíveis e outros), a mão-de-obra, os recursos naturais (por exemplo, solo, capacidade de dispersão do ar, a capacidade de diluição de efluentes nos corpos d’água e a cobertura vegetal), os equipamentos, os processos industriais, os resíduos e demais subprodutos, tanto diretos quanto indiretos (fornecedores e receptores). A produtividade deve ser entendida como obter a maior produção com o menor custo possível, incluindo os custos ambientais.
O destino final dos resíduos gerados pela atividade humana é um problema ambiental. Tudo gera resíduo. Um inocente cafezinho, o papel da bala, embalagens usadas, refugo de produção, produto devolvido do cliente. O que fazer, então? É razoável esperar para chorar o leite derramado? Sem muito esforço, percebe-se que não. E é fácil fazer-se entender que o certo é não deixar o leite derramar. Para isto, a filosofia básica da Redução de Resíduos é eliminar o problema na fonte de geração, ou seja, dentro do processo produtivo (in plant control), ao invés de empregar onerosas tecnologias de controle e tratamento dos resíduos gerados, usualmente no final do processo produtivo (end of pipe). Minimizar a geração e intensificar o reaproveitamento de resíduos constitui a base de qualquer programa de gerenciamento de resíduos. Portanto, Redução de Resíduos é uma estratégia preventiva, que evita a geração do problema.
Porém, práticas gerenciais convencionais adotadas por décadas que insistem em administrar os resíduos industriais como uma perda inevitável do processo produtivo, e não como uma oportunidade de redução de custos, podem ser de difícil substituição, pois, em muitas Organizaçõesexistem obstáculos que inibem a adoção desta possante ferramenta gerencial. Estes obstáculos precisam ser identificados para que possam ser vencidos. O principal obstáculo é o institucional, provocado pelo “choque do novo”, a resistência à mudança de modelos e tecnologias arraigados na cultura da empresa, gerando o receio da falta do controle do processo produtivo na forma que ele é há muito tempo dominado por gerentes, supervisores, técnicos e operadores. Esta barreira aparece através da resistência burocrática, comportamentos conservadores, desinteresse em conhecer ou ajudar em modificações, falta de tempo disponível, etc. O remédio para acabar com este obstáculo já é habitualmente receitado em outros programas de gestão: o comprometimento da liderança da empresa e uma abordagem sistemática para a redução de resíduos.
O obstáculo técnico está relacionado com a falta de informações sobre técnicas disponíveis e a falta de orientação para a aplicação de abordagens de redução de resíduos aos usos e necessidades de cada empresa. Técnicas de redução de resíduos e as ações necessárias estão disponíveis através de literatura técnica e consultorias especializadas.
O último obstáculo é o econômico, pois nem todos os projetos de redução de resíduos possuem uma atratividade do retorno do investimento considerada adequada. As oportunidades de redução de resíduos que necessitam de investimento devem ser atraentes financeiramente quando comparadas com outras oportunidades de investimentos. Desta forma, a avaliação econômica de um projeto relacionado com redução de resíduos é decisiva para a compreensão de quem decide em qual opção de investimento vai colocar parte dos recursos de uma empresa. Em contraste, alternativas que envolvam recursos financeiros baixos ou nulos não devem se prender em avaliações econômicas mais aprofundadas, e sim, prontamente executadas.
A Redução de Resíduos pode ser adotada em indústrias de qualquer porte, inclusive nos pequenos geradores de resíduos que possuem duas características importantes: a soma dos impactos ambientais provocados por pequenos geradores ultrapassa o impacto de um grande gerador e; em função de suas limitações de recursos (financeiros, humanos e tecnológicos) e pequena escala; não se sentem estimulados para realizar investimentos em equipamentos de controle ambiental.
Conclusões
Com os custos crescentes e as conseqüências negativas provocadas pelos resíduos, as empresas percebem as vantagens em não gerar resíduos, ou pelo menos produzi-los em menor quantidade. Os controles convencionais dos resíduos gerados, que prevêem a inclusão de equipamentos ou serviços no final do processo produtivo, sem modificação ou interferência no processo produtivo, vêm sendo trocados por outra abordagem: a redução de resíduos na fonte de geração, ou seja, dentro do processo produtivo. Com isto, a redução de resíduos se consolida como uma alternativa que, ao beneficiar o meio ambiente, promove retorno financeiro à empresa. Porém, as palavras mágicas “produzir mais com menos” não são adotadas por algumas empresas porque alguns obstáculos (institucional, técnico e econômico) impedem o prosseguimento de esforços iniciais, provocando a desmotivação e o descrédito com a redução de resíduos como possante ferramenta gerencial. Por isto, estes obstáculos precisam ser identificados para que possam ser vencidos.