Segundo a Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), a região Sudeste concentra a maior parte das ocorrências, com quase 82% dos roubos. Entre os Estados, São Paulo lidera o ranking, com 52,4%. Os principais alvos dos criminosos na região são produtos alimentícios, cigarros, eletroeletrônicos e farmacêuticos.
A área de mais risco para furtos e roubos nas estradas paulistas está em um raio de 100 quilômetros da capital. “A dimensão da malha rodoviária de São Paulo, com 32 mil quilômetros de vias, é um dos fatores que facilitam a ação dos criminosos”, ressalta a professora de Pós-Graduação no ICTQ – Instituto de Pesquisas e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e diretora conselheira Fiscal da Associação Nacional de Farmacêuticos Atuantes em Logística (Anfarlog), Elaine Manzano.
Ainda de acordo com a NTC&Logística, 70% dos ataques de criminosos se concentram em áreas urbanas, durante coleta e entrega de mercadorias. Os outros 30% são em rodovias. Apesar disso, para o assessor de segurança da instituição, coronel Paulo Roberto de Souza, o prejuízo, no segundo caso, é maior devido à quantidade e ao valor das mercadorias. Ele explica também a forma de ação das quadrilhas: “nas áreas urbanas, os criminosos agem em semáforos, postos de entrega e invadindo depósitos de carga, que estão se transformando em verdadeiras fortalezas. Nas rodovias, eles usam estratégias para paralisar os veículos, desde falsas barreiras policiais até abordagens em movimento e enfrentamento policial”, conta ele.
Elaine explica que o medicamento é muito visado por ter alto valor agregado. Além disso, os roubos são executados por encomenda, ou seja, há quadrilhas especializadas neste tipo de crime. “Existe muita dificuldade no combate a esse tipo de delito, pois ações coordenadas e cooperativas não são desenvolvidas pelos órgãos fiscalizadores. As ações só são feitas de forma isolada”, comenta Elaine.
Segundo o consultor GRIs em Trânsito e Transporte, coronel Marco Bellagamba, o roubo de cargas é produto de uma série de circunstâncias resultantes da deficiência da prevenção, da inibição de determinados crimes e até mesmo da falta de legislação adequada para fazer frente ao acontecimento dos fatos criminosos.
Dessa forma, ocorrem prejuízos em toda a cadeia de distribuição, desde o fabricante, distribuidor e varejista, pois o medicamento pode ser roubado no transporte ou mesmo dentro do estabelecimento. Vale lembrar que os centros logísticos são visados e se concentram nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e, atualmente, existe um crescimento na região Nordeste.
Rastreabilidade de medicamentos
Em resposta às inúmeras ocorrências relatadas, o futuro sistema de rastreabilidade terá como objetivo principal reduzir a falsificação e o roubo de medicamentos, garantindo que o usuário tenha um produto autêntico e seguro.
A indústria deverá colocar um selo com número de série Datamatrix em cada unidade produzida, o que não é simples, considerando que a produção de medicamentos chega a 30 milhões de unidades por mês em alguns grandes laboratórios. Cada parte envolvida na cadeia de distribuição deverá ter tecnologia para leitura desses códigos e assegurar a rastreabilidade desde o recebimento até a venda de cada uma das unidades (números de série).
Para Elaine, entre os impactos logísticos para o setor, ocorrerá maior eficiência na gestão e no controle dos processos operacionais e da cadeia de abastecimento, minimizando custos operacionais, rupturas de abastecimento e potencializando a disponibilidade de produtos para venda.
A indústria arcará com o maior custo para a implementação da rastreabilidade. Os demais envolvidos (distribuidores, farmácias e hospitais) também terão de fazer investimentos em equipamentos de leitura (scanners para leitura do código 2D) e terão de aumentar suas despesas com pessoal para os processos de leitura nos recebimentos e expedição.
De acordo com a lei de rastreabilidade, cada medicamento deve ter um Identificador Único de Medicamentos (IUM) impresso em etiquetas de segurança, contendo todas as informações sobre o caminho percorrido pelo produto farmacêutico. Para garantir a rastreabilidade, é utilizado o código de barras bidimensional (2D), que pode armazenar milhares de informações ao mesmo tempo, como números, letras e outros dados, diferente do código de barras comum, que é visível e contém apenas um número.
Importância do farmacêutico
“Um produto que tenha sido alvo de furto ou roubo pode ser adulterado antes de chegar a uma farmácia ou drogaria e prejudicar o consumidor final”, fala Elaine. O farmacêutico tem o importante papel de treinar os funcionários para identificar produtos falsificados e também estabelecer procedimentos para o recebimento dos medicamentos.
Ele deve fazer cumprir a legislação sanitária no local no qual assume a responsabilidade técnica. Dessa forma, o recebimento dos medicamentos deve seguir procedimentos por ele determinados, como inspeção física da carga verificando se existem sinais de adulteração ou falsificação, recebimento de mercadorias com a nota fiscal, qualificação do fornecedor e, principalmente, fazer cumprir as Boas Práticas no estabelecimento, entre outras atividades.