Avalie este exemplo: um medicamento fabricado no Reino Unido precisa ser transportado para uma capital brasileira e ter suas condições ideais preservadas até chegar a uma clínica, um hospital, um serviço ligado ao plano de saúde ou mesmo a um cliente direto. Imagine agora a inteligência logística necessária para que este medicamento especial chegue até as mãos do usuário final em condições para o uso!
Pois este transporte especializado, feito principalmente por via aérea (no caso do exemplo acima), segue normas restritas. É fato que todo o segmento envolvido na produção, distribuição, transporte e armazenagem de medicamentos é responsável solidário pela identidade, eficácia, qualidade e segurança dos produtos farmacêuticos. Assim, a Portaria 802, de 8 de outubro de 1998, institui o sistema de controle e fiscalização em toda a cadeia de produção. Esta é a norma referencial para a logística farmacêutica, apesar de estar contemplada em outras normas, pois trata da responsabilidade solidária.
É a única norma que abrange toda a cadeia logística – produção, distribuição, transporte e dispensação. A título de curiosidade, a 802/98 foi publicada um ano antes da criação da Anvisa, em decorrência do escândalo da década de 1990, quando da falsificação de medicamentos no Brasil. A antiga Secretaria Estadual de Vigilância Sanitária publicou essa norma a fim de coibir, não somente a falsificação, mas também os desvios de qualidade durante o processo de fabricação e distribuição.
Os tratamentos médicos complexos costumam contemplar medicamentos de alta tecnologia, como os de fertilidade, os hormonais e os oncológicos. Para obter esses produtos, que requerem uma logística especial de conservação, empresas e pacientes contam com distribuidores especializados, que fazem as entregas por todo o Brasil, em parceria com as companhias aéreas ou rodoviárias.
Valeska de Oliveira, mãe do pequeno Guilherme Rodrigo de Oliveira, faz a compra periódica de medicamentos de alto custo, vindo dos Estados Unidos, para o tratamento de crescimento do seu filho. Ela conta que o medicamento usado precisa de refrigeração durante todo o trajeto. Esse transporte é feito por uma distribuidora de São Paulo, em parceria com diversas companhias aéreas.
A farmacêutica responsável Técnica no Aeroporto de Cabo Frio (RJ), Isabela Emilio Siqueira, explica que qualquer carga com necessidades especiais tem prioridade no armazenamento e na transferência. “Á área no aeroporto é parecida com a da indústria. A temperatura e a umidade são monitoradas e há um rígido controle de acesso. O medicamento não fica exposto como uma carga qualquer”, lembra ela.
Isabela comenta ainda que os aeroportos seguem normas estabelecidas pela Anvisa e que a Agência mantém inspeção constante nas dependências destinadas ao armazenamento de cargas especiais.
Armazenagem e entrega em condições adequadas
“Muitos medicamentos (nem todos) são refrigerados e precisam ser armazenados e transportados na temperatura entre 2°C e 8°C. Para isso, possuímos estrutura de armazenagem (câmara fria, gerador) e embalagens especiais para entregar em todo o território nacional em até 72 horas”, fala o fundador e presidente da 4BIO Medicamentos Especiais, André Kina.
Ele comenta que a empresa possui um sistema de rastreamento próprio de todos os medicamentos comercializados e que possui embalagens especiais validadas por sua área de Qualidade, além de chips que armazenam todo o histórico de temperatura durante o transporte.
“O Brasil é um País muito grande e há deficiência na infraestrutura logística. O desafio é entregar os medicamentos refrigerados na temperatura adequada e nos prazos corretos para atender bem aos nossos clientes. Como lidamos com a vida humana (pacientes em tratamento), precisamos ter uma gestão eficiente no atendimento e na logística”, ressalta Kina, que complementa dizendo que a empresa possui vários meios de transporte, como o aéreo e o rodoviário e é parceira de outras companhias, como a Gollog e a TAM Express.
A executiva comercial da Gollog, Camila Mascarenhas, diz que sua companhia tem estruturas maleáveis e, com isso, se adequa às necessidades do cliente. Só assim consegue atender a operações delicadas como as de medicamentos especiais.
A 4BIO comercializa medicamentos de alto custo e principalmente desenvolvidos por biotecnologia. Sua estrutura conta com sistemas de refrigeração, manuseio, distribuição e transporte que atende às normas da Anvisa e aos padrões internacionais. Atua nos segmentos de angiologia, infertilidade, gastroenterologia, ginecologia, hepatologia, infectologia, oncologia, nefrologia, endocrinologia, oftalmologia, reumatologia, urologia e pediatria.
Em 2015 a Raia Drogasil adquiriu 55% da 4BIO por R$ 24 milhões, mas a gestão continua sendo de André Kina, e as estratégias de expansão estão mantidas. No primeiro quadrimestre de 2015, a 4BIO cresceu mais de 40% e para alcançar a meta agressiva de obter um faturamento de R$ 400 milhões até 2020, a companhia continuará investindo fortemente em serviços de gestão de pacientes e na qualidade da logística de entrega dos medicamentos.