Você é um daqueles profissionais inquietos que busca evolução profissional constantemente? Tem curiosidade em saber como atua e quanto ganha um farmacêutico nos Estados Unidos? Se você pensa em adquirir experiência profissional na terra do Tio Sam, a primeira providência para poder trabalhar por lá é validar o seu diploma brasileiro nos Estados Unidos.
Os farmacêuticos que atuam nas grandes redes de drogarias, como a CVS ou a Walgreens, por exemplo, ganham em média US$ 120.000,00 ao ano, algo em torno de R$ 372.034,73, levando em consideração a cotação do dólar americano atual.
Já o estudo realizado em outubro de 2016 pelo Instituto U.S. Bureau of Labor Statistics apontou que a faixa salarial de um farmacêutico nos Estados Unidos é de US$ 106.410,00 (R$ 320.294,10) anuais e que os farmacêuticos mais bem pagos podem ganhar até US$131.440,00 (R$ 395.634,40) por ano.
Outro dado importante é que o mercado de trabalho está aquecido para esse profissional, em fevereiro deste ano havia 4.502 vagas de emprego abertas, o que coloca a profissão como a segunda com melhor mercado de trabalho entre as 25 profissões com melhores salários nos Estados Unidos.
Entre os profissionais de saúde o farmacêutico está atrás apenas dos médicos, que recebem anualmente cerca de US$ 180.000,00. Dentro do segmento farmacêutico também estão em alta os gerentes de farmácia, que recebem anualmente US$ 130.000,00.
O levantamento é da Glassdoor, comunidade global de compartilhamento de informações corporativas e recrutamento de talentos. O seu último relatório apontou as 25 profissões com maiores salários em 2016 nos EUA.
Conheça a rotina de um estagiário na farmácia nos Estados Unidos
A estudante de farmácia Luana Mendes venceu todo o longo processo de validação do diploma em farmácia quando embarcou para os Estados Unidos em 2017. Ela relata que se mudou para lá e começou o estágio em uma farmácia no Estado de Maryland. Afirma que é necessário ter muita determinação e força de vontade para encarar os desafios que uma experiência dessa dimensão impõe: “Eu me recordo muito bem da minha última semana de estágio na farmácia em que trabalhei. Os últimos meses se arrastaram, tem que ter muita força de vontade para dirigir 30 minutos todos os dias e trabalhar 40 horas por semana sabendo que você não está recebendo nada por isso”.
Luana conta que os procedimentos farmacêuticos nos Estados Unidos são diferentes dos que os nossos profissionais brasileiros realizam aqui no Brasil. “Primeiramente, nenhum medicamento pode ser dispensado sem receita e sem orientação. Outra diferença é que, além da tradicional receita médica, as farmácias também recebem receitas por telefone, fax ou receitas eletrônicas pelo computador (e-scripts). Os médicos também podem optar por autorizar refils em medicamentos de uso contínuo. Uma grande diferença dos Estados Unidos é que os planos de saúde em sua grande maioria cobrem total ou parcialmente os custos com medicamentos. Outra coisa é que vários medicamentos têm um custo exorbitantemente mais elevado do que no Brasil, isso, é uma coisa que eu nunca vou entender”.
Luana ressalta que o estagiário pode auxiliar com transferências de prescrições entre farmácias, recomendações de produtos OTC (Over-The-Counter, venda livre), requisição de novos refils em prescrições, criar perfis para novos pacientes da farmácia, atender ao telefone, manter estoque, entre outros serviços.
“Em geral, o estagiário pode fazer tudo o que o farmacêutico faz, desde que esteja sendo supervisionado pelo profissional já habilitado. Já o técnico em farmácia tem responsabilidades menores, como controle de estoque, atendimento ao cliente e processamento de prescrições”, diz Luana.
Ela conta que, para completar o estágio, é necessário cumprir 1.560 horas antes de prosseguir com a licença de farmacêutica: “Eu trabalhava na farmácia 40 horas por semana (de segunda a sexta, das 10 às 18h), então, foram aproximadamente dez meses no total para completar as horas”.
Nos Estados Unidos, existem as grandes redes de farmácias, como: CVS, Wallgreens, Rite Aid, Safeway, entre outras, mas também há farmácias independentes, que geralmente são menores. “Eu tentei estágio em algumas redes, mas é muito difícil conseguir (ou pelo menos foi para mim). Tive a impressão de que eles preferem farmacêuticos que frequentam faculdades americanas, pois começam o estágio no segundo ano de faculdade. Outro motivo é que nós, foreign graduates [graduados estrangeiros], temos que fazer muitas horas de uma vez, enquanto que os formados aqui passam por rotações em diversas farmácias e hospitais, diversificando, assim, as horas de estágio ao longo do curso. Ou seja, essas farmácias não precisam oferecer tantas horas para os estudantes daqui. Resumindo, tentei várias vagas nas redes e não cheguei a lugar nenhum”, afirma Luana.
Dessa forma, ela partiu para as farmácias independentes: “Eu tinha lido em um fórum on-line que essa era a melhor maneira para conseguir estágio. Então, assim que passei no Test of English as a Foreign Language - TOEFL, comecei a mandar e-mails para as farmácias na minha área. Como eu moro numa cidade grande, tem até bastantes farmácias independentes por aqui. Dos vários e-mails que eu mandei, recebi resposta de duas farmácias diferentes. Por infelicidade, acabei escolhendo a mais longe da minha casa. Na época, eu tinha ido conversar com os donos dessas duas e um deles me pareceu um pouco impaciente, por isso, escolhi a outra”.
No início, Luana relata que não se comprometeu a ir trabalhar na farmácia todos os dias, pois foi contratada como voluntária e precisava trabalhar no período da tarde para ajudar o marido nas despesas de casa. Depois de um tempo, a farmácia ofereceu a ela uma ajuda de custo, para que pudesse ir trabalhar todos os dias. “A farmácia precisava de alguém o dia todo. A ajuda de custo não era o mesmo que eu ganhava com o outro emprego, mas, tive que fazer esse sacrifício, pois precisava cumprir e declarar as minhas horas de estágio para assim dar continuidade ao processo de validação do meu diploma”, diz.
A estudante afirma ter aprendido muito na farmácia, mas, decidiu seguir outros caminhos: “Meu plano é procurar outra coisa. Depois do estágio ainda tenho que estudar para mais duas provas para concluir o licenciamento, The North American Pharmacist Licensure Examination - NAPLEX e Multistate Pharmacy Jurisprudence Examination - MPJE. Depois disso é que finalmente serei uma farmacêutica”.
Para você que se interessou em se tornar um imigrante farmacêutico na América, fique atento, pois é necessário percorrer alguns caminhos burocráticos que demandam tempo e perseverança.
1 – Documentação, visto e tradução juramentada
A primeira iniciativa que você deve tomar é validar o visto adequado, que pode variar com o profissional e a situação, depois dê início ao processo de tradução juramentada dos seguintes documentos:
- Três cópias do histórico escolar finalizado;
- Três cópias autenticadas do diploma de farmacêutico;
- Três cópias da declaração da universidade comprovando que o profissional concluiu o curso de farmácia e a data de sua conclusão.
É preciso buscar informações no comitê americano voltado especificamente para a avaliação de farmacêuticos formados no exterior que desejam atuar nos Estados Unidos, o Foreign Pharmacy Graduate Examination Committee (FPGEC). Por meio dessa entidade, o farmacêutico solicita um manual que contém todas as informações necessárias para começar o processo de avaliação e validação do diploma.
O manual contém informações específicas sobre todos os documentos necessários para ser submetidos ao FPGEC, as taxas que devem ser pagas, as exigências que são feitas para que o diploma seja aceito, as notas que devem ser obtidas na prova do TOEFL (o TOEFL é o teste de língua inglesa mais amplamente respeitado no mundo), roteiro de estudo e as notas mínimas para a prova que eles aplicam.
Para obter o Certificado de Equivalência em Farmácia é necessário fazer uma inscrição com o FPGEC e submeter todos os documentos por ele exigidos para avaliação da formação no Brasil. O que eles querem saber é se o curso de farmácia no Brasil é equivalente ao curso de farmácia de um estudante que frequentou uma faculdade americana.
É válido lembrar que, antes de enviar toda a documentação, é bom verificar se existe uma versão atualizada do manual. Devido à dinâmica da entidade, eles podem liberar novas versões conforme alguma dificuldade ocorrer.
Os documentos devem ser colocados em três envelopes distintos para ser selados com fita adesiva e carimbados pela universidade.
2 – Documentação do CRF
O farmacêutico deve solicitar ao conselho do seu respectivo Estado os seguintes documentos:
- Declaração em duas vias do CRF comprovando a inscrição regularizada do profissional;
- Duas cópias autenticadas da carteirinha de licença de farmacêutico, com foto.
Atenção: as declarações e as cópias também devem ser autenticadas, colocadas em envelopes distintos selados pelo CRF.
Para enviar os envelopes é necessário repetir o processo: selar, enviar ao tradutor juramentado, fazer o escaneamento dos documentos e confirmação das informações.
3 – Certificar equivalência
Enviar as documentações necessárias ao Educational Credential Evaluators (ECE) para avaliação e encaminhamento do profissional para o FPGEE. No relatório do ECE constará a informação se o diploma do farmacêutico possui ou não equivalência nos Estados Unidos; esse processo pode durar entre 20 e 30 dias úteis e possui um custo.
4 – Avaliação FPGEE
O programa de certificação Foreign Pharmacy Graduate Equivalency Examination (FPGEE), ou o FPGEC, é aceito por mais de 48 conselhos estaduais de farmácias dos Estados Unidos como um meio de documentar a equivalência de ensino da educação de farmácia estrangeira de um profissional interessado no processo. Por isso, é necessário se preparar para a avaliação e aprovação da FPGEE. Esse processo é temido devido ao vasto conteúdo proposto, por isso, recomenda-se que o profissional procure estudar a lista de conteúdo que cai na avaliação. Essa prova é oferecida somente em território americano.
Uma observação é que, desde 1º de janeiro de 2003, a graduação em farmácia nos Estados Unidos mudou de quatro para cinco anos mínimos (tempo de conclusão do curso) e, com isso, para que o processo seja aceito é necessário ter cursado uma graduação de no mínimo quatro anos para os formados antes de 2003, no Brasil, e cinco anos no mínimo para graduados após essa data, no Brasil. Caso isso não ocorra, você terá obrigatoriamente que fazer um ou dois anos de cursos e matérias voltadas à farmácia em uma instituição americana reconhecida, para depois retomar o processo.
Recomenda-se buscar informações sobre critérios estabelecidos no site da National Assossiation of Boards of Pharmacy (NABP). Por meio do site da associação é possível solicitar a ficha de inscrição (FPGEC application). A FPGEE envia por correio, de forma gratuita, a ficha de inscrição para o Brasil.
Os documentos necessários para enviar ao FPGEE são:
- Ficha de inscrição preenchida (FPGEC application);
- Envelope selado pelo CRF com os documentos oficialmente traduzidos;
- Duas fotos no padrão de passaporte;
- Comprovante de pagamento.
Após o registro da documentação, a FPGEE envia uma carta informando se o candidato foi aceito ou não no programa; caso seja aceito, junto é enviado também o número do registro.
A avaliação dura cerca de seis semanas e o processo de avaliação para a FPGEE começa quando o profissional envia seus formulários, taxas e documentos comprobatórios para a NABP e ao ECE. A documentação pode ser submetida à FPGEE e ao ECE ao mesmo tempo.
5 – Avaliação sobre conhecimentos gerais
Depois que forem concluídas todas as etapas necessárias, o farmacêutico receberá uma carta de aceitação com a informação para se inscrever na FPGEE e um cartão de identificação. Esse cartão deve ser apresentado, obrigatoriamente, no dia de testes no Pearson VUE (Pearson VUE Professional Testing Center). A FPGEE é realizada duas vezes por ano, na primavera e no outono.
6 – O teste mais respeitado do mundo
Uma dica ao fazer a prova do TOEFL: observe sempre o manual para saber quais as notas exigidas. A pontuação é baseada no desempenho das perguntas do teste. De maneira geral, para passar no TOEFL é necessário atingir uma pontuação alta. Recomenda-se fazer esse processo no fim, pois ele é válido apenas por dois anos. A inscrição deve ser vinculada à FPGEE, pois eles exigem que as notas sejam enviadas diretamente para eles.
7 – Estágio
Com seu Certificado de Equivalência em mãos (que será emitido pela FPGEE após a aprovação em suas etapas) é preciso fazer o estágio obrigatório de no mínimo 1.500 horas. Ele tem determinações específicas que variam para cada Estado, por isso, procure o board of pharmacy do Estado de onde deseja atuar.
O dilema é conseguir um estágio, principalmente remunerado. As grandes redes de farmácias dificilmente aceitam farmacêuticos bacharéis como estagiários, preferem os PHarmD, farmacêuticos doutores que cursam uma universidade americana por seis anos.
8 – Licenciamento e mais provas
O processo de licenciamento funciona assim: quando chega o Certificado de Equivalência, isso significa que o diploma de farmácia foi aceito nos Estados Unidos, ou seja, o profissional possui a mesma autonomia de um estudante que se formou em uma faculdade americana.
O processo de licenciamento é obrigatório, todo farmacêutico (formado nos EUA ou não) deve obter uma licença para atuar nos Estados Unidos. Essa licença consiste em duas provas:
– The North American Pharmacist Licensure Examination (NAPLEX): prova específica de farmácia;
– Multistate Pharmacy Jurisprudence Examination (MPJE): prova de legislação em farmácia, específica do Estado em que você pretende atuar (nos EUA, cada Estado pode ter uma legislação diferente).
Para se ter uma ideia, essa etapa funciona basicamente como a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Sendo assim, para ter o registro profissional e exercer a profissão é necessário ser aprovado nessas provas.
9 – Registro
Após ser aprovado no processo de licenciamento para farmacêuticos, faça o registro na American Pharmacists Association (APhA), que funciona basicamente como o Conselho de Farmácia no Brasil. A entidade dá suporte para exercer a profissão no país. É importante ressaltar que a APhA insere os farmacêuticos recém-licenciados no mercado de trabalho e dá respaldo em tudo que a categoria precisar ao longo da carreira.
10 – Manutenção anual
Mesmo habilitado com a licença farmacêutica para atuar é necessário que o profissional se submeta anualmente ao teste de crédito educativo, o Continnuing Pharmacy Education (CPE). De acordo com uma lei de 2015 (Survey of Pharmacy Law), 53 conselhos de farmácia exigem que os farmacêuticos participem do Programa de Educação Continuada em Farmácias (CPE). A atividade é pré-requisito para a renovação anual da licença. Para realizar o teste é obrigatório que o farmacêutico assista a 20 horas de aulas por ano, dividas assim:
- Duas horas sobre legislação;
- Cinco horas de aulas ao vivo, de modo on-line ou presencial;
- Demais horas de leitura e questionários.
O teste é realizado on-line e submetido à avaliação do National Association of Boards of Pharmacy (NABP). Caso o farmacêutico não faça a prova ele é multado e perde o direito de renovação da licença. Outra orientação é que o farmacêutico deve registrar o seu perfil no e-NABP.
O Continuing Pharmacy Education (CPE Monitor), por meio de esforços colaborativos da NABP, o Accreditation Council for Pharmacy Education (ACPE) e os prestadores do ACPE permitem que o profissional acompanhe virtualmente o controle de créditos de CPE de provedores do ACPE credenciados. Os conselhos de farmácia também possuem a opção de solicitar relatórios sobre seus licenciados. Com essa capacidade, pode ser eliminada a necessidade de envio de cópias em papel das declarações de crédito para as atividades de prestadores do ACPE credenciados. As licenças devem passar pelo processo antes da data de vencimento da validade. Apesar de ser uma grande exigência dos conselhos, existe a vantagem de possuir o controle sobre a atualização dos farmacêuticos para que atuem devidamente habilitados.