O mercado farmacêutico passa por modificações profundas, seja na sua regulação, seja na maior competitividade entre as empresas. Esta concorrência força os players do setor a rever suas estratégias, geralmente racionalizando custos e, principalmente, analisando seus recursos humanos, tanto no número, quanto nas competências.
O farmacêutico infelizmente ainda é formado basicamente com informações técnicas e, ao entrar no mercado de trabalho, percebe que, se quiser crescer profissionalmente, vai precisar de uma formação muito mais voltada á Gestão de Negócios e de Pessoas, seja no varejo, seja na indústria. Ninguém mais quer um simples “técnico”; e isto se mostra na prática, quando comparamos os salários dos profissionais técnicos com os que possuem conhecimentos e atuação em área que envolvem conhecimentos de marketing,recursos humanos e/ou finanças, muitas vezes superior.
Sempre que comento este tema com meus alunos, encontro aqueles que me respondem : “Mas aí eu saio da minha área...” É uma visão pequena do que representa o verdadeiro profissional de saúde. Atualmente, para sermos valorizados, precisamos entender como interpretar as informações disponíveis e quais ações estratégicas podem ser tomadas visando aumentar o lucro e/ou minimizar os custos.
Entenda que trabalhar visando o lucro não é ser antiético; aprender a aplicar atividades de marketing não representa desonestidade. “Assinar” a farmácia e não estar presente, aceitar bonificação, atender de forma displicente, negar informação achando que isso lhe traz poder – isso sim são exemplos de práticas desonestas.
As faculdades precisam urgentemente repensar seu programa para algo mais focado nas reais necessidades de mercado. Quantas vezes sou chamado pelas faculdades para dar “uma aula de marketing” ou “uma aula de gestão de empresas”. Isto deixa claro que eles não querem se comprometer com o assunto “GESTÃO”, pois “uma aula” passa a percepção de uma tapa-buraco político, já que os alunos começam a sentir a necessidade de uma formação mais direcionada á prática e menos á teoria.
Outro ponto a ser discutido é a formação e valorização dos professores. Como é possível atualmente um professor de graduação não estar ligado, por exemplo, ás fusões da indústria farmacêutica e seu impacto na sociedade, ás mudanças culturais e estruturais do varejo, do papel diferenciado dos distribuidores e da mudança de comportamento do novo consumidor de medicamentos? Não havendo a experiência prática, que experiência de mercado pode ser transmitida por quem nunca a vivenciou? A gestão de muitas faculdades também incentiva esta prática, pagando de forma ridícula a hora/aula e não dando nenhuma condição estrutural para um trabalho digno...
FARMACÊUTICOS: acreditem que seu sucesso profissional está na complementação de sua formação baseada em três assuntos fundamentais:
a) Gestão de pessoas. Vocês já perceberam que são controlados pelas suas competências técnicas e demitidos pelas suas incompetências pessoais? É claro: habilidades são desenvolvidas, mas saber como gerenciar pensamentos e comportamentos diversos é uma arte. As empresas querem líderes e os que trazem resultados são aqueles que sabem aproveitar o melhor das pessoas.
b) Conhecimento de finanças. Este assunto é o mais difícil, mas fundamental, sejam como gestores ou até mesmo como donos de empresas. Saber dar fôlego financeiro através de um adequado gerenciamento de custos, análise de investimentos e formação de lucro, racionalização das compras e implementação de um sistema adequado de monitoramento vai determinar sua empregabilidade a longo prazo.
c) Aplicação do marketing. Todos precisam entender a importância desta ferramenta, principalmente em tempos difíceis. Quem são meus concorrentes? Como conseguirei me diferenciar de forma sustentável? Quais produtos precisos ter em minha empresa? Essas são apenas algumas perguntas que devem ser respondidas para que possamos estabelecer uma posição única no mercado. Marketing não é bonificar, não é comprar pessoas, não é enganar o cliente – estas são atividades antiéticas que deturpam o conceito. Marketing é relacionamento e informação!
Está é a minha visão do futuro profissional do farmacêutico se ele realmente desejar se desenvolver neste mercado tão dinâmico. O mundo não é mais dos “técnicos puros” pois, com o aumento da tecnologia, da evolução da gestão de processos e projetos e das necessidades de mercado, um “macaco bem treinado” poderá exercer a função do “míope profissional”.
Felizmente, percebo que num dos cursos que coordeno aparecem cada vez mais farmacêuticos interessados em se desenvolver em áreas anteriormente discriminadas pela classe, pois eles percebem, principalmente na indústria e no varejo, que uma formação gerencial lhes traz mais que a estabilidade no emprego, traz respeito e perspectivas de sucesso consistente.
“Habilidades são desenvolvidas, mas saber como gerenciar pensamentos e comportamentos diversos é uma arte. As empresas querem líderes e os que trazem resultados são aqueles que sabem aproveitar o melhor das pessoas.”