Um problema para o qual a OMS já fez alertas é o surgimento crescente das superbactérias, que são resistentes a muitos antibióticos. Uma das principais causas é o uso excessivo ou errado de antibióticos. Em Curitiba, um hospital está conseguindo atacar esse problema.
Durante os 90 dias em que ficou internada por causa da Covid, a estudante Stephany Freder pegou duas bactérias que não cederam ao tratamento com os antibióticos.
“O médico chegou para o meu pai e falou: ‘Senhor Márcio, vamos ter que internar a Stephany na UTI Covid porque ela contraiu uma superbactéria’. Quando eu já estava quase levando alta, eu contraí a KPC, que também é uma superbactéria e ela gerou pneumonia em mim”, conta.
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A Organização Mundial da Saúde considera as bactérias superresistentes uma grande ameaça global e afirmou que "nenhum dos medicamentos em desenvolvimento resolve o problema da resistência às bactérias mais perigosas do mundo".
“Uma pessoa que já usou muitos antibióticos, especialmente aquela que fica internada muito tempo, quando ela tem alguma infecção, geralmente a bactéria que causa a infecção está resistente aos antibióticos. Então as opções vão diminuindo e eu tenho cada vez menos antibiótico para conseguir tratar uma infecção”, explica Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, médica pesquisadora da PUC/PR.
O problema é ainda mais grave entre grupos vulneráveis, como crianças. No Hospital Pequeno Príncipe, o maior pediátrico do país, em Curitiba, um programa especial levou ao uso mais efetivo dos antibióticos para manter a eficiência deles no tratamento.
“Quem pode prescrever antibiótico é o médico, mas dentro dos hospitais a gente percebe que existem muitas outras ações que podem ser feitas para alcançar esse controle ideal desses antibióticos, e o médico não consegue ter tempo para desenvolver todas essas ações. Então se percebeu nos últimos anos que esse assunto também poderia ser multidisciplinar”, afirma o médico Fábio Motta, coordenador do programa de uso de antibióticos do Hospital Pequeno Príncipe.
É um esforço geral: inclui médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, farmacêuticos clínicos. Juntos, eles ampliam a troca de informações sobre a evolução dos pacientes tratados com antibióticos.
Os farmacêuticos clínicos são peça-chave dessa engrenagem. Eles articulam o trabalho de toda essa equipe, controlando o uso dos antibióticos ao acompanhar mais de perto os pacientes.
“O farmacêutico tinha um papel mais de olhar para o medicamento dentro da farmácia. E hoje nós olhamos para esse antibiótico no paciente. Por exemplo, observar se o paciente ganhou peso, se o paciente está com exames alterados, se aquele antibiótico está resolvendo sinais no caso da doença, da infecção. Então a gente estuda isso e também discute com o médico: ‘Olha, esse resultado alterado pode ser por conta do antibiótico. Vamos mudar? Vamos diminuir a dose?’”, afirma a farmacêutica clínica Marinei Ricieri, do Hospital Pequeno Príncipe.
A proximidade entre as equipes trouxe bons resultados. O hospital diminuiu em até 40% o uso de antibióticos e freou a resistência das bactérias a esses medicamentos. O modelo já foi adotado por outros quatro grandes hospitais do país, que também atendem pelo SUS, e agora começou a ser implementado em mais dez.
Geovana Cunha, farmacêutica clínica no Hospital Universitário da Federal de Sergipe, passou pelo treinamento: “Para toda a comunidade na verdade a gente tem um ganho, porque a gente preserva esses antibióticos para pacientes mais graves, para infecções mais fortes que venham a aparecer.”
Assista a reportagem que foi ao ar no Jornal Nacional, abaixo o vídeo:
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